O que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem a ver com a nossa vida?
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O que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem a ver com a nossa vida?

Não vim aqui falar de geopolítica e nem de como isso pode afetar nossa economia e as relações internacionais do Brasil com outros países do mundo.

Leonardo Fabel
3 min
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Não vim aqui falar de geopolítica e nem de como isso pode afetar nossa economia e as relações internacionais do Brasil com outros países do mundo.

Meu viés é comportamental. Minha perspectiva é a de um especialista em negociação, influência e gestão de conflitos.

Meu ponto é: em outras proporções, vivemos essas guerras e conflitos na nossa vida diária.

Acordei nesta quinta-feira com a notícia da invasão da Ucrânia e da escalada das operações militares pela Rússia.

Essas ações, que pareciam iminentes nas últimas semanas, foram concretizadas hoje criando mais um marco histórico importante para a humanidade.

Tudo isso me faz pensar e refletir o que leva as pessoas a tomarem decisões assim, de confronto, de demonstrações de poder, e vim compartilhar alguns desses pensamentos com você.

Vivemos nossas guerras e conflitos diários, com pessoas que geralmente nem consideramos nossas inimigas. Muito pelo contrário, muitas vezes são pessoas próximas e que amamos.

A Rússia entrou em conflito com a Ucrânia e fez várias ameaças, iniciando uma guerra “fria” antes mesmo da invasão.

Você já parou pra pensar quantas “guerras frias” você está vivendo? Com quantas pessoas você não compartilha as mesmas ideias, quantas “ameaças” vocês trocam, muitas vezes de forma velada, por terem visões de mundo diferentes?

Você não aceita a visão de mundo dela, ela não aceita a sua visão de mundo, ninguém está disposto a ceder, e os diálogos, quando existem, são carregados de tensão. Como se só houvesse um ponto de vista “certo” - o seu é claro.

Quando defendemos demais nosso ponto de vista, atacando o outro, entramos em um estado perigoso nesse caso, que eu vou chamar de compromisso e coerência. É a tendência que temos de sermos coerentes com os compromissos que assumimos, principalmente quando eles são feitos publicamente.

Por conta do compromisso e coerência, uma sucessão de ameaças que fazemos nos levam a tomar as ações que prometemos, pois precisamos mostrar que somos coerentes.

A etapa mais ofensiva da guerra é a invasão de território. Aqui faço uma analogia que nem precisa de metáfora. Quantas vezes invadimos o território da outra pessoa, no campo das ideias, buscando conquistá-lo ao forçar o outro a mudar a opinião dele e concordar com a nossa?

Muitas vezes essa invasão de território encontra um “inimigo” igualmente decidido a não ceder, que também já assumiu alguns compromissos. Por precisar demonstrar coerência ele não recua, quando não assume também uma posição ofensiva, atacando de volta o território daquele que iniciou a invasão.

Essas guerras e conflitos diários são desgastantes, e evidenciam as estruturas de poder existentes em qualquer relação. Quem tem mais poder, tem mais vantagem.

A guerra da Rússia e da Ucrânia tem vários elementos históricos que trazem um nível elevado de complexidade ao cenário, mas ainda assim se inicia como uma guerra que está no território das ideias, de visões de mundo diferentes.

Te convido a refletir sobre as suas guerras, seus conflitos, suas tentativas de invadir outros territórios, e sobre a sua maneira de reagir às tentativas de invasão dos outros.

Eu acredito muito que usar os princípios da negociação e da gestão de conflitos pode contribuir para que as relações sejam menos conflituosas e para que tenhamos o mundo como um lugar mais pacífico e amistoso para se viver. Faça a sua parte!