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segunda-feira, 19 de julho de 2021

Leonardo Rodrigues
4 min
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segunda-feira, 19 de julho de 2021

Todo mundo já deve ter lido/ouvido/sabido da moça modelo/manequim/atriz-cheia de projetos dizendo que ela não é preconceituosa ao gritar VAI PRA FAVELA quando a festa clandestina que frequentava foi interditada pelos órgãos de vigilância sanitária de São Paulo.

Meu ponto é a origem da indignação da moça. Afinal todos os finais de semana há reportagens falando sobre festas nas favelas e áreas carentes em geral. E nelas o poder público não comparece para causar qualquer embaraço. Entretanto na festa num bairro caro da cidade paulistana o poder público se faz presente para acabar com a festa dos contribuintes honestos que pagam os salários de todos os servidores públicos presentes.

Ela deveria ter ficado feliz que frequenta um lugar no qual o poder repressor do Estado se faz presente. Pois junto com ele vem os benefícios do Estado. Água limpa entrando por um cano. Esgoto saindo por outro cano. Luz. Telefonia fixa e celular. Ligando para 190 aparece a polícia e para 193 os bombeiros. Correios atendem sem nenhum transtorno.

Já na favela onde o pancadão come solto, o Estado que não aparece para reprimir também não aparece para proteger ou entregar equipamentos e serviços.

Há muito tempo atrás ocorreu um processo no qual uma cliente de uma operadora de telefonia celular reclamava que não tinha o serviço em sua residência e foi cobrar no judiciário seus direitos. Lá a telefonia explicou que a torre que fornecia sinal que cobria a região da reclamante era sempre alvejada por tiros dos traficantes locais. Esqueci de dizer que a senhora morava no meio de uma favela? Então, ela morava no meio de uma favela. E que além dos danos aos equipamentos da empresa, seus funcionários eram sempre importunados pelos criminosos locais quando iam lá reparar tudo. Sendo assim a empresa desistiu de manter a torre e deixou o local sem sinal.

No final a sentença condenou a empresa a indenizar a reclamante em um punhado de salários mínimos, mas sem obrigar a empresa a fornecer o serviço lá.

Imagino como se sentiria a lambona abestalhada morando num lugar onde pudesse festejar livremente, mas que o Estado não garantisse a cobertura de telefonia celular?!

Agora vamos comentar algo que ninguém nunca me perguntou, mas que eu tenho uma opinião embasada: Eleições Presidenciais Brasileiras!

Numa eleição não se vence pela lógica, mas sim pelos sentimentos. Até aqui vocês devem estar impressionados comigo, mas acompanhem.

E república clássica na Grécia antiga era democracia direta, o cidadão votava na proposta política conforme entendesse. O seu vota era contabilizado no resultado de votações de leis, por exemplo.

A democracia indireta moderna, no qual nós votamos em representantes aos quais votarão diretamente nas propostas de leis é uma criação mais nova. Surgiu no período pós-medieval quando a sociedade adotava o modelo capitalista. Assim a pessoa não poderia ficar sempre disponível para participar das votações porquê tinha de trabalhar. Assim foi criado a função de representante político eleito democraticamente.

Se já há centenas de anos atrás as coisas já se complicavam ao ponto de se precisar delegar a função de votante em leis, imagine agora?

Tudo nem é tão complicado assim para resolver, só que quase tudo demanda muito trabalho para solucionar. E o que esperar de um representante eleito tomar medidas de longo prazo se ele é incentivado por recompensas de curto prazo?

Assim todos os problemas que logicamente são trabalhosos para solucionar, nas campanhas se resumem à promessas que os eleitores usam como forma de racionalizar a escolha prévia.

Como a presidência trabalho no âmbito mais macro do país, aí é que as promessas se tornam mais vazias.

Prometem criar 15 milhões de empregos em 4 anos. Se não for na forma de concurso público, a caneta presidencial não consegue.

Prometem reduzir a inflação. Se não for com cortes de gastos públicos, a tinta presidencial não consegue (o Estado brasileiro toma muito dinheiro emprestado do sistema financeiro, aí não sobra dinheiro para o sistema produtivo contrair empréstimos a juros civilizados para aumentar/melhorar a produção e assim produzir mais custando menos).

E por aí vai, só promessas e sem planos. E quando se apresenta um plano envolve basicamente “vamos lutar com coragem e honestidade pelo povo brasileiro”.

Sendo assim os sentimentos difusos da população buscam um símbolo para depositar seus votos. E nas eleições presidenciais brasileiras o símbolo acaba sendo um arquétipo.

Começou com o Collor como Príncipe da Elite. Depois FHC como Professor. Aí eleito o Lula como Um do Povão. A seguir Dilma como Gerentona. E por fim Bolsonaro como o Militar.

Como posso apontar todos os eleitos se investiram numa figura arquétipa em substituição ao de administrador público ou mesmo o de político. Era uma imagem de fora do panteão político.

Para 2022 temos um problema. Temos o Lula que força que o seu Um do Povo seja maior do que Nada Ficou Provado. E o Bolsonaro tentando que o Militar seja maior que quatro anos de crises e inação.

E por fora quem se esforça mais atualmente é o Ciro com seu xiliquísmo debochado coronelista.

Como me disse um ex-comunista-convertido-em-coroinha no segundo turno entre garotinho e césar maia, é muita vontade de democracia.