Os Jedi morreram tudo de covid

Peguei covid. Não, não sou um jedi, e confesso que simpatizo mais com o lado sombrio da força... Já chego lá. A questão é que peguei covid na semana do meu aniversário. Você pensa "poxa, dois anos sem comemorar direito, vou reunir a família e comer um bolo". Reuni 6 unidades de familiares. E peguei covid.

Eu mentiria se não dissesse que fiquei preocupada. São quase 700 mil mortes confirmadas só no Brasil, porque eu não seria mais uma? E se toda minha neurose fosse instinto de sobrevivência, meus pulmões sabiam que não dariam conta? A vantagem é que estou aqui, e não escrevo do além-vida. No final das contas fiquei foi com muita febre. Muita. Por dias. A sensação de cada enzima do seu corpo desnaturando sabe? Mas passou.

Mas antes de passar, precisei lidar com isso, e nada melhor do que um filme de navinha para fugir dos próprios problemas! Fui inocente assistir Obi Wan para descansar. No "anteriormente em" percebi que não tinha a menor ideia do que tava acontecendo. Decidi rever os capítulos 1 a 3. Minha mãe, trancada comigo numa casa pequena, não teve muita opção. O que era pra ser uma série rapidinha virou uma maratona de todos os filmes e séries de Star Wars (menos episódios 7 a 9, o que tenho a ver).

Fiquei positivamente surpresa por não lembrar de vários detalhes. Não sei nem se já assisti mesmo os filmes com a atenção que devia, pelo tanto que não sabia da história. Também foi emocionante acompanhar em tempo real os comentários de minha mãe. Mulher independente, que não sofre influência externa em suas opiniões, olhou para o baby Yoda e falou "que coisinha feia, né?". Ainda tenho dúvida se não achar ele fofo é sintoma de psicopatia.

Mas essa não-lembrança da história também me causou certo pânico. Será que não lembro por defeito de fábrica, ou será que foi downgrade da Covid? Será que meu cérebro encolheu, será que fiquei burra e desmemoriada? Será que se eu ficasse burra e desmemoriada eu perceberia?

Difícil dizer. Enquanto escrevo pelo menos consigo lembrar das palavras que quero, isso já parece bom. E com o descuido geral do homo sapiens frente à própria extinção, gosto de pensar que pelo menos não estou ficando burra sozinha. Ou que a régua anda tão baixa que estou acima da média. Afinal, ainda não faço parte dos 20% da população brasileira que acha tudo bem pagar 8 reais na gasolina e 7 reais no litro do leite.

E pensar que, tonto do jeito que é, hoje Anakin seria roteador de covid, acreditaria em corrente de whatsapp e confiaria em qualquer velho político que o elogiasse. Imagino ele tossindo no conselho Jedi e dizendo que era só uma gripezinha. Talvez nosso maior problema seja esse né. Anakin ouviu tanto que era especial, que se sentiu acima das regras. Nada poderia definir melhor o millenial.

Estou recuperada, levemente rouca, com uma vontade insana de ter nascido em outro país, ou seja, tudo voltou ao normal. E mesmo com essa correria, algumas coisas não pararam!

- Os convidados do Relampeio Festival já estão sendo divulgados. Escritores do insólito de 6 países diferentes e de todo o Brasil conversarão sobre literatura do dia 19 a 21 de agosto, em evento online, gratuito, com legendagem simultânea. Não conhece? Segue lá no Youtube, e no canal do Telegram para não perder nenhuma novidade!

- Estou ensaiando um texto sobre branding e posicionamento pessoal já faz um tempo. Parece técnico, mas é muito pessoal. Vocês achando que só curso de filosofia trazia crises de identidade...

- Estou com agenda aberta para planejamentos! Quer lançar um livro, um conto, um financiamento coletivo? Me manda um e-mail que a gente conversa!

Se cuidem, usem máscara sempre que possível, e se hidratem, temos que estar todos bem para outubro!