Por que Neymar gosta tanto de apanhar?
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Por que Neymar gosta tanto de apanhar?

A vitória do Brasil sobre a Colômbia, por 2 a 1, de virada, com direito a gol no apagar das luzes, provou a fome de bola desse time comandado por Tite, que acumula sua décima vitória consecutiva à frente da seleção brasileira. 

Lucas Theodoro
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A vitória do Brasil sobre a Colômbia, por 2 a 1, de virada, com direito a gol no apagar das luzes, provou a fome de bola desse time comandado por Tite, que acumula sua décima vitória consecutiva à frente da seleção brasileira. 

Vamos ser sinceros e dar o braço a torcer, uma parte desta longa invencibilidade se deve ao esquema defensivo quase impenetrável que é montado por Tite desde sempre. O Chelsea de 2012 que o diga… 

A outra parte se deve ao Neymar, que é o grande craque da sua geração, carrega nas costas a “10” de Pelé e em todo jogo da seleção assume a responsabilidade de ser a maior estrela da companhia, o protagonista de todos os jogos.

Quase todas as jogadas ofensivas são criadas e finalizadas em seus pés. Algumas vezes até constrói e finaliza. 

Em 2020, Neymar foi o jogador mais buscado no Google, à frente de Cristiano Ronaldo, Messi e todos os outros que você possa imaginar. 

A badalação ao seu redor vem de longa data. Logo aos 14 anos, quando assinou seu primeiro contrato milionário, despontava como jóia promissora da base do Santos e, ainda menor de idade, se profissionalizou e precisou de pouco tempo para encantar os torcedores santistas e até mesmo os de outros clubes, tamanho o seu talento.

Tudo que envolvia seu nome gerava assunto. O seu novo cabelo, o seu novo affair, seu novo drible, sua nova chuteira, a viagem para as férias...

Você consegue se imaginar vivendo em meio a tantos holofotes em sua direção? Deve ser complicado, para dizer o mínimo.

Há ainda quem diga que Neymar seja uma “decepção”, ou até mesmo um “fracasso”. 

O motivo?

Não ser eleito o melhor jogador do planeta e não ter ganho uma Copa do Mundo.

Porra…

Mas convenhamos, em alguns momentos é possível notar algo estranho em Neymar. 

Hoje no Paris Saint Germain, o craque brasileiro foi revelado pelo Santos, ainda magrinho e menor de idade, cativando com seus dribles desconcertantes e objetivos (na maioria das vezes).

Foi também nesta época que levou a fama de “cai-cai”, que carrega até hoje e deu origem até mesmo ao bizarro “Neymar challenge” na Copa de 2018, com torcedores do mundo inteiro imitando as quedas do brasileiro. 

Contra a Colômbia, mais uma vez vimos um Neymar bastante participativo e apanhando o jogo inteiro. Como sempre. 

Porém, em mais de uma oportunidade pudemos notar o jogador atrasando o próprio ataque canarinho, numa ação masoquista, pouco lúcida, onde trocava os ataques rápidos e promissores por uma falta no meio de campo oriunda de uma pancada extra e desnecessária. 

A assistência para Casemito no último lance do jogo, tendo mais um momento de protagonismo com a camisa verde e amarela, foi quase uma remontagem dos melhores tempos de Rocky Balboa.

Mas sério, o que explica essa vontade incontrolável de apanhar cada vez mais? 

Você sabia que, em 2020, Neymar foi o atleta que mais sofreu faltas entre todos das cinco principais ligas do futebol europeu? Foram quase três vezes mais que os principais nomes da atualidade, segundo o CIES Football Observatory.

No final do jogo contra a Colômbia houve mais um exemplo clássico.

O camisa 10 do Brasil já havia sofrido pontapés, ombradas, joelhadas e todo tipo de agressão, ou “conduta agressiva” que pudesse passar batido pela arbitragem ou não fosse contundente o bastante para uma expulsão. 


Em um dos vários minutos de acréscimos dado pelo árbitro Néstor Pitana, Neymar recebeu a bola junto à linha lateral, no campo de defesa, com Cuéllar, ex-Flamengo, em seu cangote, e a sua atitude foi pisar na pelota, de costas para o colombiano, e ficar ali, parado, pedindo, quase implorando por mais um pontapé. Que veio, obviamente, afinal, o que você faria no lugar de Cuéllar? Roubar a bola de forma limpa é quase impossível.

Ainda no chão, a reação de Neymar foi curiosa: Sorrir. Aparentando não se importar com a dor em levar mais uma deliciosa pancada em sua perna direita incrivelmente resistente. Quase que saboreando aquele momento, numa estranha expressão de satisfação. A mesma que eu tenho ao comer pudim.

Não te parece esquisito o fato do nome mais badalado do futebol atual, do maior craque da atual geração brasileira, expor a sua principal ferramenta de trabalho (a perna direita) à constantes impactos a troco de nada?

Não seria mais sensato e prudente protegê-la? Afinal, quanto vale a sua integridade física?

Por que Neymar aparenta gostar de apanhar tanto?

São perguntas interessantes na minha cabeça, mas que apenas Neymar poderia respondê-las. Não tenho a pretensão/arrogância de trazer aqui a verdadeira resposta para isso, mas me atrevo a apresentar minha teoria.

Para atingir o alto nível competitivo, muitos atletas se utilizam da raiva, ódio, rancor ou hostilização em geral como combustível para elevar ainda mais o seu desempenho.

Na série “The Last Dance”, da Netflix, o reboteiro Dennis Rodman, um dos maiores defensores da história do basquetebol, que fez parte do saudoso Chicago Bulls da época de Michael Jordan, disse: “Quero entrar em quadra e quebrar meu nariz, me cortar. Fazer algo que exponha a ferida, a dor. Quero sentir isso”.

E praticando um pouco de empatia é possível compreendê-lo. Alguns craques funcionam melhor na base da porrada. Isto os alimenta e eleva o seu patamar competitivo durante a temporada para chegarem com sangue nos olhos nos momentos mais decisivos.

O próprio Michael Jordan revelou uma situação inusitada, onde inventou que seu adversário se recusou a cumprimentá-lo ao final de uma partida e espalhou isso para o time inteiro dos Bulls para beber uma dose extra no copo da motivação, sempre visando a vitória dentro das quadras.

A necessidade de alguns atletas em buscarem tornar o ambiente esportivo numa competição “pessoal” é uma estratégia bastante utilizada, principalmente nos esportes de combate, como MMA, mas também tem grandes exemplos no futebol. 

A busca pela motivação constante é o grande segredo dos maiores nomes do esporte. Mas cá entre nós, é difícil beber desta fonte quando você é o Neymar. E parece que o estilo “anti-herói” é o que melhor se encaixa em sua personalidade, numa estratégia perigosa, mas eficaz, de buscar o tal “sangue no olho” na base da machadada.

Não são tão raros os casos onde víamos um Neymar discreto em campo, mas que depois de levar umas três ou quatro cacetadas acabou entrando no jogo, colocando os rivais no bolso e sendo o melhor da partida. 

Quanto mais vaias em sua direção, mais ele cresce. Quanto mais críticas, mais gols e recordes.

Convenhamos, se você fosse um cara jovem, atlético, milionário, tão bem-sucedido em sua profissão, como é o caso do menino Ney, de onde buscaria motivação?

Há diversos exemplos de talentos excepcionais que não tiveram vida longa no futebol. Tudo por causa da bendita motivação. Ou a falta dela.

Algo que Neymar ainda aparenta lutar todos os dias. Afinal, todo menino brasileiro cresce sendo forçado a praticar futebol, virar atleta profissional, tirar sua família da miséria, carregar nas costas os seus amigos de infância e ainda acumula riqueza suficiente para livrar suas três gerações futuras de qualquer ameaça de pobreza.

Alguém duvida que Neymar já alcançou este patamar?

Então porque raios ele ainda não apresenta uma queda de rendimento significativa mesmo tendo quase 15 anos de carreira? Pois se quisesse dinheiro iria se enfiar no futebol chinês. Se quisesse badalação, curtição e idolatria desenfreada e ainda assim empilhar títulos importantes sem a necessidade de se dedicar tanto, voltaria ao Brasil imediatamente. 

Até mesmo se quisesse brigar pra valer pela conquista de mais uma Liga dos Campeões em seu currículo, certamente sairia do PSG amanhã para se transferir para algum outro clube mais poderoso do cenário europeu.

A busca pela dor e a utilização da raiva como combustível emocional através de constantes pancadas certamente não é o caminho mais confortável, afinal, o que irá motivá-lo quando não conseguir ser agredido?

E quando a porrada for mais forte que a capacidade de suportar a dor? Nada impede que um novo Zúñiga apareça em seu caminho, ou que o osso do metatarso volte a dizer “Ney, pare de apanhar!”.

No fim, tudo o que nós brasileiros queremos, é ver nossa seleção campeã, juntamente com seu maior astro, que precisa encontrar um ponto de equilíbrio para conseguir “zerar a vida” e encerrar seu legado no futebol da melhor maneira possível e incontestável, se mantendo motivado e saudável o bastante para enfeitar sua extensa sala de troféus com a cobiçada Bola de Ouro, junto com o Hexa, e cada vez que Neymar pisa na bola à espera de uma bicuda na canela sentimos um arrepio inexplicável, pois o medo de perdê-lo para uma nova lesão dá calafrios à todos.

E você, o que acha?

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Abs, Lucas Theodoro!