Mais uma série se inicia aqui no canal, a cada domingo vou contar mais sobre um estilista brasileiro - afinal, a moda nacional é, ainda, muito desvalorizada. Hoje, a figura da vez é Zuzu Angel. Vem comigo!
Mais uma série se inicia aqui no canal, a cada domingo vou contar mais sobre um estilista brasileiro - afinal, a moda nacional é, ainda, muito desvalorizada. Hoje, a figura da vez é a surpreendente Zuzu Angel. Vem comigo! | ||
Zuzu Angel | ||
Zuleika de Souza Netto nasceu no dia 5 de junho de 1921, em Curvelo, MG. No entanto, foi criada em Belo Horizonte, onde deu início a sua grande paixão, costurando roupas para primas e parentes. Ainda jovem, mudou-se para Salvador, cidade que exerceu grande influência sobre seu trabalho e, em 1943, casou-se com o norte-americano Norman Angel Jones. | ||
Também na década de 40, mais especificamente em 1946, nasceu seu primeiro filho, Stuart Edgar Angel Jones e, logo no ano seguinte, se estabeleceram no Rio de Janeiro. Lá, a carreira profissional de Zuzu deslanchou, já não era apenas uma costureira, e sim, uma estilista, que criava a própria identidade com uma linguagem muito pessoal. | ||
Mais tarde, em 1949, nasceu a primeira menina do casal, a futura jornalista Hildegard Angel Jones e, em 1952, veio ao mundo a caçula, Ana Cristina Angel Jones. Nesse contexto, para completar a renda familiar, no ano de 1957, a designer transformou seu quarto em um ateliê onde costurava saias, nomeando-o Zuzu Saias. | ||
Em 1960 se divorciou e, a partir daí cresceu sozinha, mudou para uma casa maior, contratou ajudantes, expandiu sua produção para outras peças, promoveu desfiles e conquistou novos clientes, até mesmo na alta sociedade carioca. | ||
Caracterizava-se por uma moda brasileira, com materiais do país, cores tropicais e uma mistura de tecidos: renda, seda, fitas e chitas, com temas regionalistas e folclóricos. Além disso, incluiu em seus designs pedras nacionais, fragmentos de bambu, de madeira e conchas. Ela não só buscava o mercado da elite, como almejava vestir a mulher comum. | ||
O destaque na imprensa motivou-a a abrir sua própria boutique em Ipanema, no início dos anos 70. Essa conquista trouxe tanta notoriedade que, ainda na mesma década, a estilista alcançou o mercado internacional, com aparições em importantes veículos de comunicação e em vitrines de famosas lojas de departamento dos Estados Unidos. | ||
Num cenário de ditadura militar no Brasil, o filho primogênito, Stuart, na época estudante de economia e militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (o MR-8), foi preso no Rio de Janeiro e transportado para a Base Aérea do Galeão, no dia 14 de maio de 1971. Ele foi brutalmente torturado e não resistiu, falecendo na noite do mesmo dia. | ||
A partir daí, Zuzu se empenhou naquela que viria a ser sua maior luta pessoal: uma incansável batalha pelo direito de saber a respeito do paradeiro do garoto. Por isso, saiu em busca dele nos quarteis, denunciou à imprensa, inclusive internacional, as atrocidades praticadas pelo governo e, promoveu um desfile/protesto no consulado brasileiro em Nova York. | ||
Movida pelo luto, suas criações passaram a serem usadas como forma de protesto, desfilando, como ela mesma dizia, "a primeira coleção de moda política da história". Ao lado dos anjos, que eram o logotipo da marca, foram incorporados crucifixos, tanques de guerra, canhões e pássaros engaiolados para simbolizar a história de seu filho. | ||
Em 14 de abril de 1976, às 3h, na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (RJ), Zuzu sofreu um acidente automobilístico e morreu instantaneamente. Na época, foi divulgado que a designer havia dormido no volante. Entretanto, em 1998, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu o regime militar como o responsável pelo ocorrido - mas até hoje as circunstâncias não foram esclarecidas. | ||
Em memória da mãe, a filha Hildegard Angel, com apoio do prefeito Cesar Maia, fundou, em 1993, a 1ª ONG de moda do país, o Instituto Zuzu Angel, no Rio de Janeiro, uma entidade sem fins lucrativos que visa difundir a indústria nacional, seus profissionais e a memória dos Angel, assassinados pela opressão da ditadura. | ||
Curioso, não é mesmo? Domingo que vem tem mais! Insira seu e-mail na opção "seguir canal" para receber avisos sobre novos posts e me siga no Instagram (@cacarocholi). Te vejo na próxima semana com Clodovil, dando continuidade à serie sobre estilistas brasileiros! |