Alfabetização no mundo
0
7

Alfabetização no mundo

Uma importante avaliação sobre educação realizada a nível internacional é o PISA - Programme for International Students Assessment, desde 2000. Essa avaliação não mede intencionalmente a alfabetização, mas fornece pistas sobre a aprendizagem ...

Mariane Assis Dias
8 min
0
7

Uma importante avaliação sobre educação realizada a nível internacional é o PISA - Programme for International Students Assessment, desde 2000. Essa avaliação não mede intencionalmente a alfabetização, mas fornece pistas sobre a aprendizagem desse período, uma vez que, analisa a capacidade de compreensão leitora dos alunos, finalidade da alfabetização. Logo, falhas na compreensão leitora de forma sistemática aponta-nos para o fracasso da alfabetização.

Na última avaliação do PISA em 2018, metade dos alunos brasileiros alcançaram o Nível 2 de proficiência em leitura (50%) (média OCDE: 77%) e 48% não alcançaram ao menos o nível 2. No mínimo, esses alunos podem identificar a ideia principal em um texto de tamanho moderado, encontrar informações com base em critérios explícitos, embora às vezes complexos, e podem refletir sobre o propósito e a forma dos textos quando explicitamente orientados a fazê-lo. Apenas 2% dos alunos no Brasil se saíram melhor no desempenho em leitura, o que significa que alcançaram o Nível 5 ou 6 no teste de leitura PISA (média OCDE: 9%). Nesses níveis, os alunos podem compreender textos extensos, lidar com conceitos abstratos ou contra-intuitivos e estabelecer distinções entre fato e opinião, com base em pistas implícitas relativas ao conteúdo ou fonte da informação (PISA, 2018).Diante desses dados, os estudantes brasileiros só se aproximaram das médias dos países membros da OCDE, quando o quesito foi “COMO OS ESTUDANTES SE SENTEM DIANTE DE SUAS PRÓPRIAS VIDAS.

No Brasil, 65% dos alunos (média OCDE: 67%) relataram que estão satisfeitos com suas vidas. Cerca de 55% concordaram ou concordaram fortemente que, quando reprovam, se preocupam com o que os outros pensam deles (média OCDE: 56% dos alunos). Em quase todos os sistemas de ensino, incluindo o Brasil, as meninas expressaram maior medo do fracasso do que os meninos, e essa diferença de gênero era consideravelmente maior entre os alunos com melhor desempenho.Quero trazer uma reflexão aqui: não se trata de desejar que os alunos brasileiros sintam-se tristes diante da ausência do conhecimento e que isso impacte negativamente em suas vidas, mas percebam que entre todas as análises do PISA, aquelas em que conseguimos enquanto nação nos aproximarmos dos países mais desenvolvidos foi quando perguntaram aos jovens sobre seus sentimentos. Diante de toda mazela da falta de ensino e consequentes resultados baixos e recorrentes nas avaliações internacionais, nossos jovens continuam sem perceber a situação desastrosa em que estamos. Não são capazes de perceber que a ausência de instrução adequada leva-os as piores posições do ranking de educação e pior, a situações desastrosas em suas próprias vidas quando se deparam com a falta de instrução adequada para se capacitar cada vez mais, por exemplo.

Diante disso, fica cada vez mais evidente a frase que Olavo de Carvalho cita frequentemente: a inteligência é a primeira habilidade que a gente perde e não percebe que a perdeu. Estamos envoltos em um sistema educacional falido e ainda assim, dentro desse sistema nos sentimos bem.Em um cenário internacional o Brasil ocupou a posição 51 no ranking de 54 países quanto ao desenvolvimento da leitura e ficou bem abaixo da média dos países da OCDE que foi de 487, enquanto o Brasil atingiu 413 pontos. O resultado do Brasil nas avaliações de leitura, matemática e ciência é inferior em comparação com o resultado médio dos países da OCDE.

Nas pontuações de leitura, Finlândia está no topo com 520 pontos, EUA (505), Reino Unido (504), França (493), Portugal (492) e o Brasil, quase nas últimas posições com 413 pontos, com um dos piores resultados no desempenho em leitura.

E o que nos leva a resultados tão desastrosos? A professora Inger Enkvist cita em seu livro “a boa e a má educação” (2011) um relatório publicado pela consultoria McKinsey que identifica que um dos fatores chave nos países com bons resultados educacionais e nos países que estão melhorando rapidamente, é a posição do professor como fator chave na educação. O relatório cita que é preciso se preocupar com o essencial, e que o essencial é a qualidade do professor: um professor não pode dar o que não tem. Assim, como uma mãe educadora ou que complementa o trabalho da escola. Essa é a base, por exemplo, do sucesso da educação Finlandesa, tido como exemplo no mundo e que se destaca nos resultados do PISA.

Por outro lado, há o caso da Suécia que viu seus índices internos de aprendizagem despencarem 30% entre as décadas de 2000 e 2010 ao retirar do centro do processo de aprendizagem o papel do professor, reduzindo-o a um simples organizador da jornada escolar, mesmo aumentando em 8% os investimentos em educação, caracterizada por uma visão construtivista da educação.

Complementar a essa visão construtivista da educação, em que o aluno é o centro do processo e o professor um simples mediador, há ainda a questão da ausência do ensino explícito. Pautando-se na crença de que a criança já nasce sabendo e que sendo assim, não precisa aprender. Nesse cenário não se faz necessário um método de alfabetização que aborde claramente o sistema alfabético mas que basta a criança ser exposta a textos, a mesma seria capaz de construir relações letra-som significativas e que isso seria suficiente para a aprendizagem da leitura com a adoção, por exemplo, de métodos globais de alfabetização.

Porém, diante disso alguns países se depararam com resultados desastrosos na década de 1990 e 2000, alguns deles reagiram rapidamente como foi o caso da França em 2005, quando o governo francês proibiu o método global de alfabetização no país. Uma professora francesa relatou em 2003 em seu livro “O diário de uma professora clandestina” como era ensinar o que as crianças precisavam aprender mesmo sem o apoio do Estado, até então. Inger Enkvist relatou o que Rachel citou em seu livro: "em sua experiência ela citou que os alunos não são capazes de tirar os conteúdos de si mesmos; ao contrário, é uma exceção quando se dão conta de algo sem que alguém o tenha ensinado. E que ensinando explicitamente, diante de três quartos do primeiro ano, seus alunos sabem ler e ela pode utilizar os últimos meses do ano escolar para revisão; assim se consolida o que foi aprendido”. O principal da educação fornecemos a uma criança até seus 7 anos de idade, nessa idade além do acesso garantido a educação formal, a criança precisa ainda de senso de ordem e a aceitar a autoridade do professor, se não isso é mais difícil de ser aprendido mais tarde (Enkvist, 2011).

Documentos internacionais e a Base Nacional Comum Curricular Brasileira (BNCC)

Diante da afirmação acima da autora Inger Enkvist, se faz urgente avaliar o que outros países têm utilizado como norteador de política pública para a alfabetização. Se uma criança tem seu maior período sensível para aprendizagem até os 7 anos, não faz sentido a BNCC brasileira adotar como referência a idade de 6 anos para introdução dos componentes essenciais da alfabetização (RENABE, 2021).Lembrando que a BNCC como base nacional comum curricular permeia todas as ações educacionais e deve ser seguida, em maior ou menor grau, a depender da escola, por cada estabelecimento de ensino brasileiro. Por outro lado, tivemos nos últimos anos alguns avanços no Brasil com a Política Nacional da Alfabetização (PNA) que incorpora as evidências de documentos internacionais quanto a necessidade de inclusão de componentes essenciais da alfabetização ainda aos 4 anos de idade e que corre sérios risco de ser extinta ainda em 2023.

Este cenário revela que mais do que nunca, a mudança no cenário educacional depende muito dos indivíduos se formarem sobre as evidências mais recentes da alfabetização, boas práticas e bons programas de alfabetização ao redor do mundo.

Por esse motivo vou compartilhar alguns documentos oficiais que há anos acumulam informações sobre boas práticas de alfabetização, a seguir:

Singapura – documento datado de 1997 que aponta a necessidade de implementação das habilidades da consciência fonológica e instrução explícita das relações grafofonêmicas.

Inglaterra – 1988, atualizações de 2013 e 2017, cujos documentos apontam objetivos claros para desenvolvimento da literacia e abordagem fônica.

Estados Unidos – 2009 – defende a consciência fonológica, sobretudo o desenvolvimento da consciência fonêmica e fluência. Aponta que esses pilares aumentam a equidade de oportunidades educacionais entrem os estudantes e que todos passam a ser expostos as mesmas habilidades que precisam para aprender a ler. E, mais recentemente, maio de 2022, o prefeito de Nova York (disléxico) exigiu a mudança dos programas de alfabetização financiados pelo governo e adequação a instrução fônica explícita, fato que vem ocorrendo ao redor de todo país. 

Finlândia – 2002 – anos iniciais da educação básica estão baseados na tríade do ensino explícito na oralidade, leitura e escrita.

Portugal – 2011 – currículo estruturado em ensinar a criança no domínio dos sons das letras e desenvolvimento da consciência fonológica e instrução fônica explícita nos anos da alfabetização. Com esse novo currículo, Portugal saiu dos piores índices de educação da Europa para resultados acima da média dos países membros da OCDE.

O exemplo de Portugal é para nós, brasileiros, um sinal de esperança, que a partir de um ensino explícito com aquilo que a criança precisa aprender para ler, em menos de uma década podemos mudar o rumo da alfabetização e educação básica de um país.E esse deve ser o objetivo do nosso trabalho, meu e seu, seja na sua casa ou na sua prática profissional. Urgente é nos basearmos nas evidências recentes e nos caminhos de sucesso já trilhados por outros países.

Conta comigo para isso,

Mariane

Referências

Enkvist, I. 2011. A boa e a má educação. Kirion.

Programme for International Students Assessment. 2018. Disponível em: https://www.oecd.org/pisa/