Aprender a ler não é natural como aprender a falar: O que dizem as atuais evidências sobre a aprendizagem da leitura?
Aprender a ler não é natural como aprender a falar: o que dizem as atuais evidências sobre a aprendizagem da leitura? |
Para o linguista Noam Chomsky que desenvolveu o conceito de “gramática humana universal” (1975), nascemos prontos para falar. As crianças aprendem a falar quando conversam e estão cercadas da linguagem verbal ou falada. Para ele ficou evidente que as crianças já nascem com o cérebro biologicamente pré-programado para adquirir a linguagem falada, desde que cercados pela língua materna. Sendo assim, a aquisição da linguagem falada é uma capacidade cerebral inata, não precisa ser ensinada e não se trata de uma aprendizagem cultural. |
Mas, ler é diferente, como vários estudos mostraram nas últimas décadas (Seidenberg, 2018; Dehaene, 2011). Nossos cérebros não sabem fazer isso. A escrita foi desenvolvida há relativamente pouco tempo na história da humanidade, apenas alguns milhares de anos atrás. Para ser capaz de ler, as estruturas em nosso cérebro que foram projetadas para coisas como o reconhecimento de objetos precisam ser reconectadas. Outra grande lição de décadas de pesquisa científica é que, embora usemos nossos olhos para ler, o ponto de partida para a leitura é o som. O que uma criança deve fazer para se tornar uma leitora é se conscientizar como as palavras que ela ouve e fala se conectam as letras que ela vê. A escrita mapeia a fala, ou seja, a escrita é um código inventado pelos homens para representar os sons da fala e as crianças precisam decifrar esse código para se tornarem leitores. Essa decodificação não é natural, é preciso um ensino explícito, sistemático e bem instruído sobre como as letras representam os sons da fala. |