O efeito das intervenções familiares na aquisição da leitura pelas crianças
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O efeito das intervenções familiares na aquisição da leitura pelas crianças

Há professoras que acreditam que os pais ajudarem os filhos a ler irá atrapalhar o processo, outras, já perceberam que essa interação é essencial.

Mariane Assis Dias
7 min
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Há professoras que acreditam que os pais ajudarem os filhos a ler irá atrapalhar o processo, outras, já perceberam que essa interação é essencial.

Assim como há mães que se sentem inseguras e acham que podem atrapalhar o processo.

Porém, o que vemos são afirmações baseadas em opiniões ou  pré-conceitos e dificilmente se chegará a um consenso sobre isso.

Diante disso, qual é a evidência que apoia a ideia de que envolver os pais na aquisição da alfabetização de seus filhos resultará em melhores resultados para as crianças?

Foi essa pergunta que as autoras Monique Sénéchal e Laura Young se fizeram e buscaram responder no artigo intitulado: “The Effect of Family Literacy Interventions on Children’s Acquisition of Reading From Kindergarten to Grade 3: A Meta-Analytic Review” (2008).

Para isso as autoras selecionaram referências bibliográficas que investigaram o tema.

Os resultados encontradas pelas autoras podem ser considerados apontamentos evidentes  sobre o tema e estão disponíveis integralmente no artigo citado acima.

Além disso, as autoras objetivaram responder:

“E se o envolvimento dos pais importa, quais são os tipos de interações entre pais e filhos que estão associadas a melhorias na aquisição da alfabetização das crianças?”

Basta, por exemplo, comprar livros e ler em voz alta?

Basta comprar brinquedos educativos?

Expor a criança ao alfabeto?

Selecionar músicas infantis que ensinem letras e números?

Ou, quando a criança inicia a aprendizagem da leitura, basta ficar próximo e ouvir o que a criança lê autonomamente?

Não. Isso pode ser interessante para a criança começar a diferenciar letras de desenhos, começar a compreender como os textos se estruturam e incrementar o vocabulário. Mas ainda assim não são ações isoladas que determinam a relevância do papel familiar na alfabetização. E vou abordar o que pode ser feito a seguir. 

As autoras levantaram também que as formas usuais com que os pais ajudam no processo de alfabetização dos filhos podem ser classificados em 3 categorias, a seguir:

1 - Envolvimento na escola:atividades dos pais na escola, participação em aulas-extras, oficinas, eventos sociais, voluntariado, etc.

2 - Reuniões pais/escola: comunicação contínua entre pais e professores para verificar desempenho acadêmico, aproveitamento escolar, etc.

3 - Envolvimento domiciliar: quando os pais incentivam ativamente os filhos e se envolvem na aprendizagem em casa, com reforço da escola no ambiente domiciliar. Alguns exemplos de envolvimento em casa inclui revisar a lição de casa de um filho, desenvolver habilidades numéricas ou em leitura e escrita, trazendo materiais de aprendizagem para casa, como livros ou vídeos educacionais para crianças.

A partir dos estudos revisados constatou-se que não basta que ocorra o envolvimento na escola através de participações em atividades sociais ou de reuniões escolares, os pais precisam participar também ativamente dentro do ambiente domiciliar e que, sendo assim, os pais de crianças da educação infantil ao terceiro ano do ensino fundamental podem ajudar seus filhos a aprender a ler.

Dessa forma, não se trata mais de uma questão de simples opinião, mas um trabalho revisado que atestou que de fato, o envolvimento dos pais tem um efeito positivo na aquisição da leitura das crianças.

Essa conclusão é importante especialmente para as mães que podem se sentir inseguras em apoiar a educação intelectual dos seus filhos no ambiente domiciliar enquanto a escola também desenvolve esse papel.

Esse resultado pode ser inclusive apresentado quando você, como mãe, for questionada sobre a sua atuação na educação intelectual de uma criança que está frequentando a escola e que também ensina em casa.

O estudo revelou também que para isso ocorrer em segurança é preciso que os pais se formem adequadamente e que são mais efetivos quando são treinados para ensinar habilidades de alfabetização a partir de atividades específicas. 

A prática de acompanhamento constante dos pais através de atividades específicas e bem delimitadas de alfabetização se revelaram duas vezes mais eficazes em aumentar a alfabetização em comparação com a prática de apenas ouvir, ou acompanhar enquanto a criança faz a tarefa sozinha ou pratica a leitura autônoma em voz alta. Mas para isso ser eficaz é importante que sejam devidamente instruídos e não caiam no erro de ensinar de uma forma qualquer, sem a devida sistematização do tema. Ou seja, não basta ter boa vontade em ajudar, é preciso saber o que fazer adequadamente.

Daniel Willingham alerta sobre isso também em seu livro “Crianças que leem”: “tenha cuidado ao ensinar leitura em casa”. Para ele, se você não for bem instruída seguirá seus instintos e pode acabar por escolher materiais sem abordagem sólida e terrivelmente chatos que tiram o interesse do aprendizado da criança. Para isso é importante saber o que fazer, como e porque fazer.

Portanto é importante que os pais sejam ensinados a como agir no ambiente domiciliar e que primeiramente se eduquem para que depois possam educar, pois não trata-se apenas de matéria de bom senso.

Por exemplo, ao complementar o ensino em casa visando a consolidação do alfabeto, conhecimento essencial para a leitura, o que os pais precisam saber?

Os pais precisam saber que a forma mais eficiente para ensinar o alfabeto é apresentar as letras, suas formas gráficas, nomes e também os sons que elas representam. Uma vez que os pais tenham esse conhecimento garantirão que seus filhos aprendam o alfabeto completo. E por mais que a escola não ensine isso, facilitará a aprendizagem dos seus próprios filhos que aprenderão tudo o que a letra é. E no momento da aprendizagem da leitura não precisarão chegar a conclusões sozinhos sobre as letras. Afinal, foram efetivamente ensinados da forma correta e terão a oportunidade no ambiente domiciliar de treinar o correto e o quanto mais a criança treinar, favorecerá com que ela memorize adequadamente e seja capaz de automatizar um conhecimento. Assim o avanço intelectual é sempre constante. Uma ação bem sólida adotada dentro de casa, ou seja, um ensino correto garantirá que a criança avance para as etapas escolares posteriores sem lacunas e com maior sucesso.

Atividades de leitura em voz alta também são relevantes e ajudam a desenvolver a compreensão oral e vocabulário das crianças, no entanto, a ação domiciliar que de fato se mostrou mais eficaz e que contribui com a aquisição da leitura, é o ensino orientado dos pais, como um reforço domiciliar. 

Para isso as professoras podem treinar os pais para ensinarem seus filhos a ler por meio de atividades específicas assim como a família pode buscar meios eficientes e que ensinem adequadamente as crianças àquilo que elas precisam aprender para ler.

Dessa forma, fica evidente que não há nenhum prejuízo em pais bem formados auxiliarem no processo de alfabetização dos seus filhos e que se contar com a formação de uma professora bem instruída isso será ainda melhor.

E se você tem a vontade de contribuir com o desenvolvimento intelectual do seu filho e não sabe por onde começar, lhe convido a participar das aulas gratuitas que vou ministrar sobre "como ensinar uma criança a ler e a escrever corretamente". As aulas acontecerão dos dias 4 a 7 de dezembro de 2022: GARANTA A SUA INSCRIÇÃO NO LINK ABAIXO:

Referências

Sénéchal, M.; Young, L. 2008. The Effect of Family Literacy Interventions on Children’s Acquisition of Reading From Kindergarten to Grade 3: A Meta-Analytic Review. Review of Educational Research December 2008, Vol. 78, No. 4, pp. 880–907 DOI: 10.3102/0034654308320319

Documento na íntegra disponível aqui: https://lincs.ed.gov/publications/pdf/lit_interventions.pdf

Willingham, D. 2021. Crianças que leem. Kirion.