Os 7 erros que professoras e mães não podem cometer na alfabetização das crianças
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Os 7 erros que professoras e mães não podem cometer na alfabetização das crianças

Neste dia especial, 15 de outubro de 2022, dia dos professores, pensei em compartilhar um tema para garantir que você não cometerá nenhum desses erros e quem sabe, contribuir um pouco mais com a sua formação e nobre missão ao ensinar, seja vo...

Mariane Assis Dias
9 min
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Gilbert Highet em seu livro "A arte de ensinar" (um dos meus preferidos, aliás, sobre o ensino) cita:

Profunda é a responsabilidade que sobre todos nós recai, sempre que tentamos ensinar coisa a alguém. Profunda e vivificadora, aliás, é essa responsabilidade."

Medito frequentemente sobre três palavras contidas na frase:

  1. Responsabilidade;
  2. Profunda e,
  3. Vivificadora.

Sempre reflito sobre a capacidade que a missão de ensinar tem em nos instalar no mundo como pessoas responsáveis, afinal, ninguém pode dar o que não tem e para isso é essencial que busquemos nos aprofundar e que esse caminho do conhecimento sempre nos vivifica, por consequência tem a capacidade de restaurar a quem ensinamos. Ao aprender e ao ensinar podemos nos tornar um pouco melhores, sempre em busca da verdade.

Considerando a importância de caminharmos em busca da verdade das coisas para que ao ensinar não cometemos erros, ou pelo menos sejamos capazes de diminui-los diariamente, que decidi compartilhar o texto que vem à seguir.

Vamos aos erros que não podemos cometer na alfabetização das nossas crianças:

Erro 1: Pensar que quanto maior quantidade de materiais didáticos e tecnologia, melhor.

Estamos sempre em busca do melhor, seja para nossos filhos, ou alunos. Talvez já tenha pensado (ou ainda pensa) que quanto maior quantidade de materiais didáticos e tecnologias, maior também será o acesso ao conhecimento. No entanto, isso não é verdade. A adoção de diversos materiais didáticos não implica em melhor qualidade se a criança em fase de alfabetização não aprender o básico. Ou seja, se não aprender a ler. Afinal primeiro se aprende a ler e depois usa a leitura para aprender.

Semelhante a isso é o acesso a tecnologias que se não for conduzido é capaz de gerar hiperestimulação na criança e com isso dificultar o seu interesse no conhecimento que lhe é apresentado. Esse conhecimento pode se tornar monótono demais para uma criança. Michel Desmurget em seu “A fábrica de cretinos digitais” apontou que pela 1º vez, filhos têm QI inferior ao dos pais e atribuiu isso ao excesso de exposição a telas. O autor aponta que observou-se que o tempo gasto em frente a uma tela para fins recreativos atrasa a maturação anatômica e funcional do cérebro em várias redes cognitivas relacionadas à linguagem e à atenção, habilidades essenciais para a alfabetização.

Especificamente sobre a atenção é importante saber que ela é a porta de entrada para a aprendizagem. Para a área da ciência cognitiva a atenção refere-se a todos os mecanismos por meio dos quais o cérebro seleciona informações, as amplifica, as canaliza, e aprofunda seu processamento (Dehaene, 2022 - É assim que aprendemos). A atenção ajuda a determinar no que a memória de trabalho vai efetivamente trabalhar e é, portanto, como se fosse o porteiro do cérebro e seleciona as informações importantes e resolve um problema: o congestionamento de informações.

Porém a atenção pode se tornar um problema quando for mal direcionada e o aprendizado pode sofrer um bloqueio. Afinal, se você não presta atenção no que deveria, essa parte importante para o aprendizado fica pelo caminho e o pensamento ignora essa informação. Por isso que precisamos dar atenção ao que chamamos a atenção e não permitir que materiais didáticos que tiram a atenção ou tecnologias em excesso façam parte da rotina de estudos.

Diante disso, é preciso ter em mente que mais do que recursos materiais que não agregam ou pior, podem inclusive, atrapalhar. O mais importante é uma educadora bem formada e um dos seus maiores talentos deve consistir em saber canalizar, e captar constantemente a atenção das crianças de modo a guiá-las corretamente, conforme ressaltou Stanislas Dehaene no seu recente livro "É assim que aprendemos".

Erro 2: Ignorar como ocorre a aprendizagem da leitura e evidências da ciência da leitura.

A ciência da leitura tem nos apontado o que uma criança precisa ser ensinada para aprender a ler e a escrever e ignorar essas evidências é certamente um dos maiores erros de uma educadora. Inclusive, esse erro tem relação com o erro 1, citado acima. Pois, quem não sabe o que precisa fazer ou ainda, onde precisa chegar, qualquer caminho serve e diante disso, qualquer material e método serão adotados sem que isso tenha relação com o que a criança precisa de fato aprender.

Erro 3: Acreditar que a aprendizagem da leitura decorre do desenvolvimento cognitivo natural da criança através da sua relação com o meio.

Teoria defendida por teóricos construtivistas e interacionistas e que já foi refutada pela ciência da leitura nas últimas décadas: A leitura-escrita não constitui uma fase do desenvolvimento natural do pensamento, o que ocorre é que diferentes partes do nosso córtex tornaram essas regiões mais aptas para serem reconvertida, baseado no que se sabe sobre reciclagem neuronal, que faz o novo com o velho, dada pela margem de plasticidade cerebral. Esses são termos chaves da neurociência para entender o desenvolvimento do cérebro na leitura, mas que não é o foco do presente artigo especificar cada um deles. Afinal, não precisamos dominar profundamente a neurociência, mas precisamos reconhecer as evidências que apontam que a leitura-escrita é uma invenção cultural condicionada pelas características de nosso sistema visual e de nosso córtex. Nesse caso o conceito da reciclagem neuronal descreve a criação ou desenvolvimento de um objeto cultural novo, uma nova habilidade, uma nova ferramenta – a leitura-escrita, nos territórios corticais inicialmente destinados a funções diferentes. Logo, ler e escrever muda os processos cognitivos e, com os avanços tecnológicos, é possível realizar estudos utilizando imagens cerebrais que provam cada vez mais a evidência de que ler não é natural.

E por não ser natural necessita de ensino explícito e sistemático, com etapas que considerem os diferentes graus de dificuldade para a criança adquirir a leitura e escrita, sempre do mais simples ao mais complexo.

Erro 4: Acreditar que são necessárias horas diárias de ensino para uma criança aprender a ler.

O tempo de atenção de uma criança pequena (de 4 a 7 anos) é também pequeno, assim como ela. Numa sala de aula por muitas vezes o tempo é despendido entre desenvolvimento da rotina, instruções gerais, socialização e ensino. O fato é que de todas as horas de exposição da criança na escola, nem todas essas horas são aproveitadas para o ensino explícito. Nem deveriam ser. Diante disso é evidente que ao ensinar uma criança ler não é preciso horas e horas de exposição diária. Cerca de 30 minutos a 1 hora diariamente com um ensino voltado para o que a criança precisa aprender pode fazer muito por ela e conduzi-la a uma condição de ser humano analfabeto para alfabetizado.

Erro 5: Superestimar o papel da criança no processo da aprendizagem da leitura e escrita.

O protagonismo da criança na educação tem um propósito verdadeiro de retirar a autoridade da educadora, de quem deve conduzir o processo. Essa ideia de que a criança deve ser autora do próprio conhecimento, adotando ações de construção do seu conhecimento tem nos levado aos piores índices de educação do mundo. Entre outros aspectos, esse é um dos piores erros que uma educadora pode cometer: acreditar que a criança conseguirá formular hipóteses sobre o sistema alfabético de forma autônoma. A criança quando não ensinada tende a levantar falsas hipóteses sobre esse sistema e quando não corrigida tende a permanecer no erro. O estudo “The Leaders Reading” revelou que cerca de 40% das crianças conseguem aprender sem dificuldade e sem instrução explícita ao longo do processo de alfabetização. No entanto 60% das crianças ficam pelo caminho. O verdadeiro protagonismo da criança é conceder a ela aquilo que lhe é de direito: aprender o que ela não sabe através de alguém que sabe. Para a partir desse ponto ela ser capaz de caminhar sozinha e avançar nos degraus de letramento.

Erro 6: Acreditar que alfabetizar é complexo e que demanda anos de ensino.

Alfabetizar não precisa ser difícil nem complexo. Pelo contrário, alfabetizar pode ser fácil, mas para isso é preciso conhecer o que é a alfabetização e o que a compõem. Quando compreendemos que para ler a criança precisa compreender que a escrita representa a fala, todo o trabalho desenvolvido e a atenção da criança será direcionada para que ela aprenda como isto acontece. Deste modo a alfabetização não precisa durar anos, pois simplesmente a criança será ensinada de forma explícita ao que ela precisa aprender. Isso implica em menor tempo para quem ensina e consequentemente, para quem aprende. Em poucos meses, a partir de um ensino explícito e sistemático é possível observar avanços significativos rumo a essa compreensão.

Erro 7: Afirmar que método não importa e que cada criança aprende de um jeito.

Todas as crianças precisam aprender as mesmas coisas para ler, isso já é uma afirmação recorrente na área da ciência da leitura. Obviamente que ao longo do processo cada criança é única, com as suas particularidades, porém do ponto de vista da aprendizagem da leitura, todas elas precisam aprender as mesmas coisas e quem está na frente do processo deve ensinar essas mesmas coisas para todas as crianças. Isso facilita o trabalho de quem ensina pois não precisa particularizar o ensino para cada criança, mas sim apresentar o que é essencial para que todas avancem.

Pode-se afirmar que diante das habilidades necessárias para se formar um leitor fluente qual método de alfabetização se assemelha quanto aos objetivos a serem desenvolvidos?

O método fônico. Portanto, esse é o método superior que garantirá o acesso a leitura pela rota fonológica. Através do conhecimento das partes da palavra, as letras e os seus sons, a manipulação desses sons, a associação dos sons aos grafemas que o leitor terá a condição de fazer a decodificação de uma palavra. No entanto, o método não é um fim em si, ele é um meio para o qual se torna um leitor hábil. Não há porque relativizar a importância do método fônico, ou ainda, dizer que o método não importa, quando na verdade há habilidades claras que devem ser desenvolvidas. Outro ponto que se destaca é a confusão entre métodos ou a ausência de métodos para a alfabetização. Sistemas de ensino que utilizam diversos métodos e que não apresentam um ensino explícito, sistemático e bem instruídos tendem a confundir o processo de alfabetização e com isso não conduzem a criança a leitura hábil e efetiva.

E para lhe ajudar a NÃO cometer nenhum desses erros na alfabetização de qualquer criança, entre os dias 10 a 13 de julho vou liberar 4 aulas gratuitas sobre alfabetização. Garanta a sua vaga CLICANDO AQUI!

Mariane Assis Dias.