Os Desenvolvedores no Mundo do e-Commerce.
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Os Desenvolvedores no Mundo do e-Commerce.

Mário Guimarães
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Entrevista com Nathan Prestes.
Dev, dono de Agência e gente fina!

Foto do Projeto Burst by Shopify Partners.
Foto do Projeto Burst by Shopify Partners.

No meu segundo texto aqui na Ping, tenho o imenso prazer de trazer uma entrevista muito interessante para quem é developer e quer entrar no mundo do e-Commerce. Vamos conversar com o Nathan Prestes, Co-fundador e Chefe de Tecnologia (CTO) da FRN³, agência especializada em Negócios Digitais e Comércio Eletrônico.

Em 2020 temos a expectativa, segundo o mais recente relatório da Kearney, de faturar no comércio eletrônico brasileiro incríveis 111 bilhões de reais. É um crescimento de 49% em relação ao ano anterior, 2019. Logicamente, isso faz parte do efeito COVID-19, o maior "consultor digital" da história. 

Artigo em Nielsen.com - COVID-19: Comportamento das Vendas Online.
Artigo em Nielsen.com - COVID-19: Comportamento das Vendas Online.

Quero entrar nesse mundo sem volta, mas sou programador...

Muita gente me pergunta se as vagas para programadores [no e-Commerce] são fortes como são para os que estão em times de análise, comercial, mídias, marketing digital ou logística. Eu queria muito responder, mas eu achei mais prudente, e de fato, mais relevante, entrevistar alguém que faz isso a muito tempo dentro do mercado de e-Commerce no Brasil. Então, sem mais enrolação, vamos receber um pouco de códigos e respostas binárias!


A Entrevista

Nathan Prestes, Co-Founder & CTO da FRN³ | One Stop Shop.
Nathan Prestes, Co-Founder & CTO da FRN³ | One Stop Shop.

Nathan, obrigado pela disponibilidade. Gostaria de começar esse bate papo com você falando um pouco sobre a sua trajetória até chegarmos na função que você exerce hoje de CTO de uma grande agência, a FRN³, que coloca no ar dezenas de e-Commerces de grandes marcas todos os anos...

Obrigado pelo convite para participar desta entrevista! Espero contribuir com uma visão de quem está há 12 anos contribuindo para o mercado digital, que tem ganhado cada vez mais força com os diversos fatores políticos em nosso país e no mundo.

O mercado está mega aquecido, principalmente por conta das lojas físicas terem fechado nesses últimos meses. Aqui no Brasil por exemplo, as empresas entenderam que um canal online para tratar com o seu cliente é essencial e não devem depender apenas de um canal físico para conseguir ter essa interação. Quem não entendeu vai ficar para trás.

O e-Commerce já foi muito mais difícil. Lojas precisavam desenvolver códigos internamente ou contratar agências para ter sua super store online no ar. Hoje, temos diversas soluções que em segundos nos colocam online com botão de pagamento sem precisar entender qualquer coisa sobre html básico. Onde estão as vagas para os programadores neste ecossistema?

Hoje os grandes bancos digitais criam seus programas para capacitação de programadores e os melhores acabam sendo contratados...

Temos também os chamados HACKATHONS, eventos muitas vezes financiados por alguma empresa. Eles trazem um problema em seu sistema ou produto e precisam de uma solução eficaz. Dessa forma você pode testar tanto a sua capacidade em resolver problemas quanto a execução da programação.

[Então] Chega a ser difícil encontrar bons profissionais disponíveis para uma contratação imediata. Falta profissional nesse mercado [do e-Commerce].

O que você precisou desenvolver além dos códigos na sua carreira para se tornar expoente no mercado de e-Commerce?

As chamadas: Soft Skills.

Muitas vezes o profissional cai de paraquedas, não encontrou o seu propósito e apenas enxerga aquela área como um local para conseguir uma boa renda e se acomoda. Não entende que respirar tecnologia é um dever diário dessa carreira. Além de trabalhar a sua inteligência emocional, gestão de projetos ágeis, conseguir lidar com um feedback positivo ou negativo, trabalhar em equipe, técnicas de liderança, evoluir o seu círculo de relacionamentos, gestão de tempo, empreendedorismo... e é claro, ter a sede de conhecimento para novas linguagens de programação e novos desafios!

Você já foi um colaborador codando para alguma agência ou e-Commerce. Atualmente, você contrata desenvolvedores e outras áreas em tecnologia. O que você tem observado como nota de corte entre dois bons candidatos que querem entrar para o e-Commerce?

Ontem mesmo entrevistei alguns candidatos e o que tenho reparado é a falta de preparo e ambição. Querem ganhar bem (quem não quer, não é mesmo?), mas qual é a proposta?

Entregar o que qualquer um consegue ou ter um diferencial? Quando investimos em alguém, queremos que este especialista evolua a empresa, traga novas ideias, some com os nossos propósitos.

Chega a ser curioso que no Brasil estamos chegando a quase 13 milhões de desempregados e mesmo assim, alguns ainda furam entrevistas e não dão nenhuma satisfação, ou até mesmo, entram em uma entrevista sem saber quais projetos já implementou para poder compartilhar. [Eles] Não tem material para vender o seu peixe.

Se você tivesse um minuto com os CEOs, fundadores e demais cabeças que tomam as decisões, e pudesse dar um conselho para eles em relação ao investimento que eles precisarão fazer em tecnologia para crescer os seus e-Commerces, o que você diria?

Não deixe a tecnologia como segundo plano. Pense nela como uma base bem sólida para toda a sua empresa. Com ela é possível ter uma diminuição de atritos entre as áreas e otimizar processos. Isso terá um reflexo no aumento significativo da sua margem de lucro. 

O e-Commerce vem para agregar e trazer novas possibilidades.

Vou sair um pouco da esfera tecnológica e entrar um pouco no mundo do marketing pessoal. Um grande problema dos programadores é a capacidade de se comunicar. Participei de muitas reuniões, de pequenos negócios a mesas que somavam alguns milhões em vendas por dia, e em algumas delas, presenciei gestores tentando diminuir o calor da reunião com frases amenizando o ímpeto ou a grosseria do representante do TI: "Não, ele é gente boa, só é pragmático e não tem muita paciência, sabe como é, ele é de TI né (rsrs)...". Estou errado e participei de casos pontuais?

De fato, os desenvolvedores precisam evoluir a sua capacidade de comunicação.
Eu por exemplo, já fui uma pessoa extremamente difícil de conseguir sintetizar um conteúdo técnico em algo mais simples por minha comunicação não ser boa. Na época, me faltavam as Soft Skills.

Brinquei com os meus sócios que está faltando um "coaching" [rs] para ensinar a essa turma o quanto eles podem ser melhores como pessoa e profissional. Ainda há tempo e oportunidade para isso.

Continuando: No mundo do e-Commerce, onde todos precisam focar na venda e cada vez mais as áreas vão ganhando ramificações como os web designers, que hoje são UX Developers, UI Developers, Product Owners e afins...  ainda existe espaço para esse perfil do Developer isolado e distante do cliente?

Existe. Eu conheço profissionais extremamente disciplinados no quesito programação. Eu fico impressionado com os projetos, porém, ainda pecam em evoluir outras vertentes.

Essa semana, eu trouxe a discussão sobre os requisitos de um Tech Leader para o time e ficamos divididos entre a premissa básica de evoluir apenas internamente a equipe ou realizar reuniões técnicas com os clientes.

Muitas empresas acreditam que este profissional deve fazer as duas funções. Mas, será que realmente faz sentido? Capacitar a equipe é um trabalho diário, ainda mais quando estamos falando de um acompanhamento de todas as linhas de código já feitas, criação de processos para testes para a otimização de tempo, monitorar os KPIs e OKRs para conseguir performar cada vez mais as suas Squads...

Deixo a dúvida no ar: Vale a pena retirar um profissional que está evoluindo seus profissionais para atender um cliente de maneira técnica?

Nathan, foi um imenso prazer falar com você! Muito obrigado! Mas... não, não vou deixar você sair sem terminar nossa conversa com uma última pergunta. O que você acha do modelo de trabalho remoto, ou o famoso Home Office, que a pandemia do COVID-19 acelerou ou impôs nas empresas?

Acredito que [a pandemia causada pelo novo coronavírus] abriu novas possibilidades aos empregadores, o tema é atual mas o seu início não.

Com a chegada da internet, o Home Office ou teletrabalho (como era chamado), teve início nos EUA e cada vez mais vem se expandindo em diversos mercados.

Pensando na visão de negócio, um profissional fora das grandes capitais tende a ter um salário menor e com isso é possível ter um integrante na equipe por um valor acessível para as necessidades da empresa sem ter seus custos elevados ou sangrando caixa.

Aqui, temos profissionais de outros estados e até países diferentes e não temos problema algum com tempo de trabalho ou entregas. Mas isso acontece porque escolhemos a dedo quem vai se juntar a nossa família FRN³.

Ser responsável é a premissa do sucesso para quem trabalha de casa, afinal, não é porque você está em casa que não vai ter que se vestir adequadamente, se organizar com a sua refeição e focar em suas atividades durante a sua jornada de trabalho. Mesmo com as diversas distrações que possam surgir.

É necessário acompanhar a equipe e ter canais de comunicação eficientes para tornar cada vez mais produtiva a troca de informação para atingir a melhor performance sobre as tarefas. Mesmo à distância.

Apesar disso tudo, eu particularmente prefiro o físico. Gosto da rotina de ir até um local para realizar as minhas atividades e após este período me desligar daquele ambiente. Não que não seja possível no home office. É uma escolha pessoal na forma de trabalhar.

Obrigado pela oportunidade Mário! Espero ter plantado uma boa semente em quem leu esta entrevista. A disseminação de conhecimento e vivências, valem ouro.