#Macro - Recessão: Mercados Já precificam o Pior?
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#Macro - Recessão: Mercados Já precificam o Pior?

Recessão é a palavra da moda. Com a alta da inflação americana acima do previsto pelo FED - e subsequente persistência da alta desse índice - o mercado temeu uma escalada de juros abrupta que pudesse acabar com a era do dinheiro fácil. E o ef...

Filipe Ramos de Albuquerque
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Recessão é a palavra da moda. Com a alta da inflação americana acima do previsto pelo FED - e subsequente persistência da alta desse índice - o mercado temeu uma escalada de juros abrupta que pudesse acabar com a era do dinheiro fácil. E o efeito dessa alta de juros é em cascata já que o FED é o Banco Central dos Bancos Centrais os quais não podem se dar o luxo de permanecer behind the curve enquanto aquele aperta a política monetária. A atual taxa básica nos Estados Unidos está em 1,5% e no último evento do FOMC a promessa foi de um próximo aumento de 0,5 a 0,75% a ocorrer já em Julho. A recessão já um consenso e a discussão hoje gira em torno de, não se ocorrerá a retração, mas quão profunda ela será

Mas então o quão realizada já estaria está recessão? Vários indicadores apontam desaceleração da economia americana em 2022 até o momento. O PMI, indíce que mede a atividade de gerentes de compras da industrias entrou em retração desde março de 2021. O wholesales inventories, indicador que mede os estoques em atacado, segue em trajetória de alta apontando para a desaceleração da saídas e portanto uma economia em desaceleração pegando produtores no contrapé do boom econômico do final de  2020 até 2021. O mesmo acontece com o Business Confidence que retraiu no mesmo período.

O corporate profit, lucro das companhias americanas, também indica queda nos lucros do primeiro trimestre de 2022, mas ainda está em patamares altíssimos. A próxima temporada de balanços, referente ao segundo trimestre encerrado em junho será especialmente importante para medir o impacto das altas de juros e da inflação e da desaceleração da economia. A única métrica mais importante que ainda não sentiu o impacto desaceleração foi o desemprego que permanece em taxas muito baixas com o último Payroll surpreendendo positivamente o mercado. Mas esse é um indicador tipicamente mais tardio.

Indicadores da economia americana. Quase todos apontam desaceleração da economia. Fonte: <a href="http://br.tradingview.com">TradingView</a>
Indicadores da economia americana. Quase todos apontam desaceleração da economia. Fonte: TradingView

O boom  econômico do final de  2020 até 2021 foi em grande parte causado pelo aumento absolutamente vertiginoso do dinheiro injetado na economia, como mostra o gráfico do M1 americano. Mas todo carnaval tem seu fim. O final da festa resultou em uma inflação que atinge valores não vistos em 40 anos: 8,6% YoY. Por isso a política de juros do FED deve ser tão rigorosa quanto a persistência da inflação. Jerome Powell já deu declarações dizendo não entender a inflação. Presume-se daí que o FED não sabe onde a inflação irá parar. Alguns projetam a taxa de juros chegando a 6%. Na minha opinião ainda um exagero embora possível.

E o mercado com tudo isso? O S&P500, principal índice americano, corrigiu 24% desde o topo. Foi uma correção significativa que alguns consideram como um bear market. Na minha opinião essa correção já precifica tudo o que aconteceu até agora. A alta da inflação e desaceleração corrente da economia. Mas ainda não precifica o pior. Um cenário de recessão hard deve levar a um tombo dos lucros das empresas levando ao mercado a perder a confiança. Se o recente rally de lucros realmente tiver sido totalmente dependente da injeção de dinheiro feita pelos governos e banco centrais, um tombo é de se esperar. Se esse dinheiro conseguiu gerar estruturas econômicas de mais longo prazo, um soft landing não seria impossível. A correlação do mercado com os lucros é assustadoramente alta. O preço/lucro do S&P500 já esteve mais baixo e pode piorar mesmo depois de toda essa queda caso os balanços trimestrais venham ruins. Por isso repito que essa temporada de balanços assume uma importância singular. 

O iBovespa tem uma situação um pouco diferente. Historicamente a relação do índice com os lucros das empresas é mais incerta. No entanto, negocia em patamares historicamente muito baratos em relação ao lucro permitindo uma margem de correção dos lucros sem que fique caro, historicamente falando. Ainda como um ponto positivo os fatores causadores de inflação nos EUA nos favorecem em termos de balança comercial o que torna a nossa bolsa mais atrativa.

iBovespa, S&amp;P500 e seus respectivos lucros e relação preço/lucros. A correlação do S&amp;P500 com os lucros é mais alta que o iBovespa.
iBovespa, S&P500 e seus respectivos lucros e relação preço/lucros. A correlação do S&P500 com os lucros é mais alta que o iBovespa.

Os próximos dados de inflação também serão cruciais. Recessão com esfriamento da inflação pode gerar otimismo no mercado. Já uma estagflação será o maior medo do mercado. A correlação recente da inflação com o petróleo nos acende o alerta para o acompanhamento dessa commodity em especial. Os estoques de petróleo nos EUA estão bastante depletados mas começam a aparecer dados de aumento do estoque como o da última quinta-feira dia 07/07. O preço também começa a corrigir o que pode ser um indicativo de alívio na pressão inflacionária.

Correlação Petróleo e inflação. Estoques depletados mas queda no preço e último balanço dos estoques indicam possível alívio na commodity e consequentemente na pressão inflacionária. Fonte: <a href="http://br.tradingview.com">TradingView</a>
Correlação Petróleo e inflação. Estoques depletados mas queda no preço e último balanço dos estoques indicam possível alívio na commodity e consequentemente na pressão inflacionária. Fonte: TradingView