Nas mãos a terra que urge
Nas mãos a terra que urge |
de uma dor humanista |
causada pelo mais complexo ser |
que a usa de maneira mais inexata |
para extrair-lhe a mais pura essência |
de objetivos unilaterais |
num monólogo da natureza muda |
Acontece que para tudo isso |
faz esse mesmo complexo ser |
independente da sua fronte |
ser outro a lhe dizer |
não! cuidado com nossa terra |
cuidar de mim que dela preciso |
Sim! ele diz sim a estúpida extração |
que não obedece a divisão |
somente a própria multiplicação |
Ah!!! se soubesse as consequencias |
de tão terrível experiência |
de tão incomensuráveis números |
que a poucos proporcionam |
o conforto da dor dos muitos |
Aos muitos são relegados os números |
da fria estatística dos discursos |
que aumentam o marketing da responsabilidade alheia |
perfazendo o caminho da mídia ao porto de chegada |
da casa daquele de número assustador para poucos |
assustador quando bate à porta a morte |
por um número estatístico |
Esse frio número é instantaneamente transformado |
em um grito desesperado de dor, de sofrimento |
outrora fosse de arrependimento e estaria |
a mudar uma atitude em cadeia |
de não mais extrair simplesmente |
mas de dividir urgentemente |
as extrações que te põe à mesa |
os dividendos que te chegam ao bolso |
do líquido que te derramam ao chão |
de cheiro forte da química |
mas outro ainda mais importante |
de cor rubra e rara, que mancha mais |
que desastres ecológicos... estampa o desastre humano |
Descobriram que a terra é azul. Para quem? |
dos que dela mais perto estão, é qualquer uma |
que se assemelhe a sua condição |
do barro seco ao cinza asfáltico |
do verde jardim ao amarelo floril |
as cores se multiplicam na condição humana |
Vamos! diz o louco. Vamos mudar esse covil |
Vamos! diz o mesmo louco. Há saída dessa situação |
Não importa a cor, nem importa o corpo |
Não importa onde, nem importa quem |
Importa agir |
Importa criar, recriar |
ah! se não fossem os loucos |
Os loucos dos palcos |
Os loucos das ruas |
Os loucos das letras |
O que importa é ser louco e mudar |
Mudar esse cinza |
fazer da aquarela a moda |
fazer do abraço, a rotina |
Piegas, prosélito, não! verdadeiro |
sem fronteiras entre a cor e a não-cor |
entre as formas, entre os gestos, entre os dedos |
entre as mãos |
Entre a lucidez e a lucidez, pois a fronteira da loucura é |
a atrocidade. |
Sejamos o louco, o artista, o transformador |
porque mais importa atravessar a vida numa fronteira |
que viver na homeostase depressiva do fazer nada. |