Pessoas com sobrepeso sofrem demais. Não bastassem os desafios de mobilidade e saúde que derivam do peso corporal elevado, há ainda todos os constrangimentos sociais a que são submetidos – do bullying na escola aos olhares inquisidores nos re...
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Tô na fossa. Mais de 40 anos de futebol destruiram meus quadris. O impacto dos pisos onde joguei cobra, agora, seu preço. Meus pés percorreram, na companhia de bolas de meia, borracha, plástico e capotão, milhares de quilômetros de asfalto, carpete, terra, cimento e até mesmo um pouco de boa grama. Vez por outra, ainda sonho que estou jogando a Copa do Mundo por um país remoto, como as Ilhas Faroe. Mas, sinceramente, acho que não vai rolar... Oh, céus, como fui feliz jogando bola! | ||
Como boleiro amador, me diverti em garagens, corredores, quartos, banheiros, ginásios, campos de várzea e até em grandes estádios. Aprendi a competir, respeitar, perder, ganhar. Devo muito do que sou ao futebol. Passei esse amor ao meu filho. Mas não há mais cartilagem do lado direito dos meus quadris. A banda esquerda está melhor, mas vai pelo mesmo caminho. Não é o caso de colocar prótese, dizem os médicos, mas, sim, de alongar, fortalecer, fazer o que a Ciência recomenda para empurrar a cirurgia o quanto der lá pra frente. Mas jogar bola, só muito de vez em quando. | ||
Esportes trazem saúde, divertem e ensinam muito. Mas também cobram seu preço, porque, a depender do modo, intensidade e frequência com que praticamos, castigam nossas estruturas. Minha conta chegou. E agora? | ||
Não há muito o que fazer. Meu futebol semanal já era. Vou jogar, quando muito, uma vez por mês com a rapaziada. Mas, para isso, preciso me preparar: estar quatro vezes na semana na academia, fortalecendo a musculatura e estimulando o sistema cardiovascular no aparelho elíptico, que minimiza o impacto nas articulações. Sim, porque a corrida no parque também está proibida. Esteira? Um pouquinho só. Assim que a pandemia arrefecer, volto também a nadar. | ||
Tenho certeza de que nenhuma dessas atividades vai me trazer o prazer e a alegria que um gol, um drible ou uma bola no travessão me proporcionaram esses anos todos. Mas, pra jogar, mesmo que só um pouco, vale a pena fazer tudo isso – e, claro, é muito bom pra saúde em geral. | ||
A vida é tempo. E ele nos coloca essas questões. A cada dia, morremos 24 horas. Temos que escolher, ora com o coração, ora com a razão, como lidar com isso. Envelhecer é entender as mudanças no espelho. E respeitá-las. |