O futebol castiga o corpo, mas vale a pena
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O futebol castiga o corpo, mas vale a pena

Pessoas com sobrepeso sofrem demais. Não bastassem os desafios de mobilidade e saúde que derivam do peso corporal elevado, há ainda todos os constrangimentos sociais a que são submetidos – do bullying na escola aos olhares inquisidores nos re...

Maurício Barros
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A bola: objeto perfeito, meu primeiro brinquedo.
A bola: objeto perfeito, meu primeiro brinquedo.

Tô na fossa. Mais de 40 anos de futebol destruiram meus quadris. O impacto dos pisos onde joguei cobra, agora, seu preço. Meus pés percorreram, na companhia de bolas de meia, borracha, plástico e capotão, milhares de quilômetros de asfalto, carpete, terra, cimento e até mesmo um pouco de boa grama. Vez por outra, ainda sonho que estou jogando a Copa do Mundo por um país remoto, como as Ilhas Faroe. Mas, sinceramente, acho que não vai rolar... Oh, céus, como fui feliz jogando bola!

Como boleiro amador, me diverti em garagens, corredores, quartos, banheiros, ginásios, campos de várzea e até em grandes estádios. Aprendi a competir, respeitar, perder, ganhar. Devo muito do que sou ao futebol. Passei esse amor ao meu filho. Mas não há mais cartilagem do lado direito dos meus quadris. A banda esquerda está melhor, mas vai pelo mesmo caminho. Não é o caso de colocar prótese, dizem os médicos, mas, sim, de alongar, fortalecer, fazer o que a Ciência recomenda para empurrar a cirurgia o quanto der lá pra frente. Mas jogar bola, só muito de vez em quando.

Esportes trazem saúde, divertem e ensinam muito. Mas também cobram seu preço, porque, a depender do modo, intensidade e frequência com que praticamos, castigam nossas estruturas. Minha conta chegou. E agora?

Não há muito o que fazer. Meu futebol semanal já era. Vou jogar, quando muito, uma vez por mês com a rapaziada. Mas, para isso, preciso me preparar: estar quatro vezes na semana na academia, fortalecendo a musculatura e estimulando o sistema cardiovascular no aparelho elíptico, que minimiza o impacto nas articulações. Sim, porque a corrida no parque também está proibida. Esteira? Um pouquinho só. Assim que a pandemia arrefecer, volto também a nadar. 

Tenho certeza de que nenhuma dessas atividades vai me trazer o prazer e a alegria que um gol, um drible ou uma bola no travessão me proporcionaram esses anos todos. Mas, pra jogar, mesmo que só um pouco, vale a pena fazer tudo isso – e, claro, é muito bom pra saúde em geral.

A vida é tempo. E ele nos coloca essas questões. A cada dia, morremos 24 horas. Temos que escolher, ora com o coração, ora com a razão, como lidar com isso. Envelhecer é entender as mudanças no espelho. E respeitá-las.