Tebet nem gosta de futebol, mas diz que marcou um golaço
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Tebet nem gosta de futebol, mas diz que marcou um golaço

Logo após a mais emblemática sessão da CPI da Covid-19 até o momento, ocorrida nesta sexta-feira, 25 de junho, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) deu entrevista à GloboNews, onde contou detalhes dos depoimentos dos irmãos Miranda, que complicar...

Maurício Barros
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Você já parou pra pensar quantas expressões do futebol usamos no dia-a-dia?
Você já parou pra pensar quantas expressões do futebol usamos no dia-a-dia?

Logo após a mais emblemática sessão da CPI da Covid-19 até o momento, ocorrida nesta sexta-feira, 25 de junho, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) deu entrevista à GloboNews, onde contou detalhes dos depoimentos dos irmãos Miranda, que complicaram ainda mais a situação do governo federal no escândalo que envolve a negociação de compra da vacina COVAXIN, com suspeitas de corrupção. O ápice foi a revelação, por parte do deputado Luis Miranda (DEM-DF), de que o presidente Jair Bolsonaro, na conversa que ambos tiveram no Palácio da Alvorada sobre o tema, citou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como personagem que estaria envolvido no caso. 

Simone Tebet, ao tentar explicar como ela, ao pressionar o depoente na CPI, conseguiu arrancar o nome de Barros da boca de Miranda – que até então dizia "não se lembrar do parlamentar citado pelo presidente" –, saiu-se com essa: "O gol foi feito. Mas foi uma construção coletiva. Eu não sei muito de futebol, mas posso dizer que só cabeceei depois que o escanteio foi cobrado". 

Pronto, estava clara a imagem que queria passar: foi um trabalho de equipe dos senadores não-governistas da CPI. Eles desconfiavam de que o parlamentar citado por Bolsonaro fosse Ricardo Barros, mas precisavam que o nome saísse da boca do deputado Luis Miranda. Mesmo não entendendo nada de futebol, Tebet recorreu ao esporte mais popular do mundo para dizer claramente à GloboNews o que desejava.

Nossa língua está repleta de expressões legadas do esporte, notadamente do futebol. A força dessa modalidade em nosso país é sentida nas ruas, nas empresas, nas residências. "Você me escanteou nesse projeto..."; "Não vai entrar de sola na reunião, hein?"; "Filho, veja lá, você já está de cartão amarelo!"; "Essa sua ideia foi um golaço!"; "Ela está na marca do pênalti!"; "Fulana recebeu um briefing todo torto, mas matou no peito e devolveu redondinho..."; "Agora a bola está com você!" e assim por diante. 

Mesmo quem não entende bulhufas ou não gosta de futebol, vez ou outra, recorre às suas expressões para dizer o que pensa. É uma forma direta, clara de comunicação – e uma prova inequívoca do peso cultural que o futebol tem em nossa sociedade. 

Vez por outra, aparece alguém defendendo que não se misture futebol com política. Como se esse esporte em particular pudesse ser circunscrito à esfera do lazer. Impossível. O ex-presidente Lula, corintiano praticante, é o político que mais sabe usar as metáforas futebolísticas em seu discurso. Jair Bolsonaro não tem nem de longe a mesma habilidade retórica, mas conhece o peso do futebol e, por isso, é visto sempre vestindo camisas de clubes brasileiros. A própria realização da Copa América, que encontrou abrigo no Brasil após Colômbia e Argentina se inviabilizarem como sedes por questões políticas e sanitárias, respectivamente, seria, no entender de Bolsonaro, um trunfo em sua retórica negacionista da pandemia.

A história está repleta de figuras que usaram o futebol como trampolim para a carreira política. O ex-goleiro João Leite, do Atlético Mineiro, foi deputado estadual por diversos mandatos em Minas. O prefeito de BH é Alexandre Kalil, ex-presidente do mesmo Galo. Romário é senador da República. Especula-se que o atual presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, possa ser candidato a vice de Bolsonaro no ano que vem – só para citar alguns rápidos exemplos entre dezenas de outros.

Ninguém escapa ao futebol, nem mesmo quem não gosta dele. É impossível um brasileiro passar imune a esse esporte. E a língua, esse organismo vivo que confere identidade a um povo e também define seu tempo, é uma das provas mais cristalinas do peso cultural dessa modalidade. 

Quanto à CPI, bem... Será muito difícil, após o golaço de Simone Tebet, que acabe em zero a zero. O jogo está só começando.