Até 2012 o Flamengo era o clube mais endividado do futebol brasileiro. A fama, justificável, de caloteiro era imensa, o clube não honrava compromissos e vivia além do limite. Era como se um cidadão que ganha R$ 5 mil mensais levasse a vida co...
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Até 2012 o Flamengo era o clube mais endividado do futebol brasileiro. A fama, justificável, de caloteiro era imensa, o clube não honrava compromissos e vivia além do limite. Era como se um cidadão que ganha R$ 5 mil mensais levasse a vida com padrão de quem recebe o dobro. | ||
Tudo mudou a partir da eleição presidencial de 2012, que elegeu Eduardo Bandeira de Mello presidente. Não por ele, pelo contrário, o ex-funcionário do BNDES foi colocado como cabeça da chapa 12 dias antes do pleito, em substituição a Wallin Vasconcelos, que teria sua candidatura impugnada por penduricalhos estatutários. | ||
Fosse quem fosse o representante do grupo de empresários e executivos que decidiu brigar pelo poder no clube de maior torcida no Brasil, venceria. Pois os eleitores torcedores do Flamengo estavam cansados daquilo, queriam algo de novo, uma mudança radical que posicionasse o clube como deveria, tal o seu potencial. | ||
E assim, pouco a pouco, os rubro-negros foram negociando com credores, abrindo mão de jogadores caros (o principal deles, Vágner Love, foi devolvido ao CSKA Moscou), alavancando receitas, reduzindo dívidas e se virando com um elenco modesto para uma agremiação de tal porte. Mas que venceu, surpreendentemente, a Copa do Brasil 2013, além do Campeonato Estadual no ano seguinte. | ||
Assim, as dívidas com a União foram caindo, para tal, o Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) teve enorme importância, como a atuação de Bandeira de Mello no processo. As pendências na justiça do trabalho acabaram sendo reduzidas tremendamente, a ponto de o clube poder deixar o ato trabalhista, acordo vital para quem tem vários processos do gênero contra si. | ||
O Flamengo começou a investir no elenco em 2015, bateu cabeça, cometeu erros na gestão do futebol, até que em 2019 montou um timaço. Continuou a bater cabeça entre equívocos e acertos na formação de elenco e escolha de técnico, mas voltou a vencer. Tanto que a temporada com vices da Libertadores e Série A, além da presença na semifinal da Copa do Brasil, são vistas como fracasso. Sim, o patamar subiu muito. | ||
Nove anos depois do início dessa experiência, quem está disposto a trilhar o mesmo caminho? Clubes como o Corinthians, que naquele 2012 tinha um vermelho nas contas em torno de R$ 111 milhões, pouco para sua capacidade de endividamento, ampliou seu passivo com o estádio e no balanço do próprio clube. E não para de contratar jogadores caros, mesmo que isso signifique um risco de colapso financeiro. | ||
No São Paulo, o ex-técnico e hoje diretor Muricy Ramalho cita justamente o rival alvinegro como uma espécie de exemplo a ser seguido pelo seu clube, pensando no elenco mais forte e ignorando as frágeis finanças tricolores. No Rio de Janeiro, o Fluminense, há anos em reconstrução desde que a parceria com a Unimed se foi, volta a investir e o Atlético, com benfeitores despejando dinheiro no clube, ganha títulos e cria dívida que ja bate R$ 1,3 bilhão. | ||
Isso tudo sem falar em Cruzeiro, que vai para o terceiro ano na segunda divisão, Vasco, outro repetente de Série B e que já teve quatro rebaixamentos, e Botafogo, que chegou a uma dívida absurda para seu faturamento, mas parece disposto a manter os pés no chão. Como hoje o Internacional e há algum tempo o Grêmio. E, claro, o Palmeiras. Há ainda Athletico, Goiás, Fortaleza, Ceará, clubes bem geridos. | ||
Mas a loucura financeira do futebol não acaba e o exemplo dado pelo Flamengo é desprezado por muitos. Claro, os rubro-negros, pelo tamanho de sua torcida e consequente potencial de arrecadação, tinham maiores possibilidades de uma recuperação mais rápida. Mas cada um a seu tempo, todos podem fazer o mesmo. Contudo, esse remédio amargo poucos querem tomar. O risco, a aventura, a gestão inconsequente segue na moda. |