"O Brasil não vai ganhar a Copa do Mundo em 2022"
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"O Brasil não vai ganhar a Copa do Mundo em 2022"

Mudam algumas palavras, o tom, a ênfase, mas, de diferentes maneiras, a afirmação se repete com frequência desde a noite de sábado, quando o time brasileiro perdeu para a Argentina, no Maracanã, onde os hermanos conquistaram o primeiro título...

Mauro Cezar Pereira
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Mudam algumas palavras, o tom, a ênfase, mas, de diferentes maneiras, a afirmação se repete com frequência desde a noite de sábado, quando o time brasileiro perdeu para a Argentina, no Maracanã, onde os hermanos conquistaram o primeiro título em 28 anos. "O Brasil não vai ganhar a Copa do Mundo em 2022", profetizam tantos por aí.

A maneira como a seleção foi derrotada motivou a conclusão pessimista. Como na eliminação para a Bélgica na Copa do Mundo de 2018, Tite ficou claramente contra as cordas ao olhar para o placar e ver sua equipe em desvantagem, mesmo com tempo para reagir.

Jogadores do Brasil na despedida da torcida com derrota - Foto: Lucas Figueiredo/Divulgação/CBF
Jogadores do Brasil na despedida da torcida com derrota - Foto: Lucas Figueiredo/Divulgação/CBF

Ou seja, Tite tem condições de, com os atletas que convoca à sua escolha, diversificar seu repertório de jogo, mas o que se viu na final sul-americana foi justamente o inverso. Uma equipe desorganizada que virou bagunça tática depois das estranhas substituições promovidas pelo treinador. O time não tinha setores claros na etapa final.

O gol de Ángel Di María aos 21 minutos de peleja, após falha grave de Renan Lodi, colocou o time da CBF em situação desconfortável. Pois sempre joga para fazer 1 a 0 e se fechar, foi assim em toda a Copa América, apesar do mau momento técnico nos times do continente.

Mesmo contra adversários muito inferiores, como Equador e Peru, o Brasil recuou para marcar em seu campo depois de abrir o placar. Perdeu-se oportunidades de experiências, como fazer o primeiro tento e insistir no ataque, na busca pelo segundo, algo básico diante de um oponente mais fraco. A cautela excessiva "titesca" virou armadilha contra o próprio.

Tite voltou ao futebol brasileiro há uma década para levar o Corinthians aos títulos com os quais a torcida sempre sonhou. Estava diferente, repaginado, com novas ideias e capaz de montar um grupo realmente competitivo. Seus conceitos tinham como alicerce o sistema defensivo eficaz, mas vale reproduzir esse perfil no selecionado nacional?

Quando trabalhando em clube, o treinador tem que fazer o melhor com o material humano que tem à disposição. Na seleção, pode escolher quem quiser entre jogadores nascidos no país. E mesmo sem ser uma geração das melhores, a qualquer momento na história jogadores brasileiros formam elencos melhores do que a maioria absoluta dos adversários.

Tite, preso às ideias defensivas dos tempos de Corinthians - Foto: Lucas Figueiredo/Divulgação/CBF
Tite, preso às ideias defensivas dos tempos de Corinthians - Foto: Lucas Figueiredo/Divulgação/CBF

Roberto Firmino, Gabigol, Vinícius Júnior, Richarlison e Neymar estavam em campo ao mesmo tempo. Cinco (!) jogadores que podem ser definidos como atacantes. No meio-campo, Casemiro, só ele. Não por acaso o camisa 10 recuou e tentou armar o time em arrancadas individuais, afinal, tabelas, aproximação, jogo coletivo não havia.

O empate, se ocorresse, seria graças ao talento de um ou outro, em jogada ocasional, por acidente, talvez. Tite, tão metódico, bagunçou sua própria equipe, e na entrevista coletiva após o jogo não parecia ter percebido que fora tão mal. Agora ele tem cerca de 16 meses para se reinventar novamente, buscar novas estratégias e mais ousadia. Só assim poderá desmentir os profetas do seu apocalipse.