Petkovic ou Arrascaeta: é necessário discutir quem é/foi melhor?
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Petkovic ou Arrascaeta: é necessário discutir quem é/foi melhor?

Uma das discussões mais comuns na internet, que cresceram demais nos tempos de pandemia, especialmente nos primeiros meses, sem jogos de futebol; é a do popular "quem é/foi melhor". Gera debates que não costumam levar a lugar algum, mas diver...

Mauro Cezar Pereira
3 min
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Uma das discussões mais comuns na internet, que cresceram demais nos tempos de pandemia, especialmente nos primeiros meses, sem jogos de futebol; é a do popular "quem é/foi melhor". Gera debates que não costumam levar a lugar algum, mas divertem. No entanto, também podem conduzir a injustiças, com a escolha do "melhor" diminuindo a relevância do outro.

Em um país como o Brasil, onde a memória não costuma ser preservada, pelo contrário, a história é tratada como algo irrelevante por tantos; esse tipo de brincadeira tem que ser tratada com cuidado. Entre os rubro-negros, um debate constante envolve dois estrangeiros que são ídolos da torcida. Ídolos e vencedores com o Flamengo, o sérvio Dejan Petković (198 jogos e 57 gols pelo clube, média de 0,29) e o uruguaio Giorgian De Arrascaeta 127 partidas e 39 tentos, 0,30 por peleja).

Petkovic comemora gol sobre o Palmeiras em 2009 - Foto: Divulgação/CRF
Petkovic comemora gol sobre o Palmeiras em 2009 - Foto: Divulgação/CRF

O europeu tem duas passagens pelo clube. A primeira, entre fevereiro de 2000 e março de 2002, tempos de um Flamengo contratador, com a parceria (posteriormente fracassada) com a ISL e decepcionante em campo na maior parte do tempo. Mas foi pelos pés de Pet que o torcedor viveu um momento histórico, na final carioca contra o Vasco e seu gol aos 43 minutos do segundo tempo. Valeu o tricampeonato em 2001.

O sérvio voltaria para encerrar sua carreira em situação atípica. Os rubro-negros deviam considerável quantia a ele, que, no acordo feito com os advogados, pediu para ser reintegrado ao elenco profissional. Obviamente sem que tivessem a obrigação de escalá-lo. Cuca, então técnico da equipe, o colocou em campo apenas quatro vezes entre junho e julho de 2009, em suma, era pouco aproveitado.

Após a demissão do treinador e a entrada de Andrade como interino, Petković virou titular e começou a jogar como nunca com a camisa preta e vermelha. Veterano, conduziu a equipe, ao lado de Adriano, a um título inesperado. Se o Flamengo foi campeão brasileiro em 2009, deve, muito, ao camisa 10 que naquele campeonato vestia a 43. Foi o melhor acordo já feito por um clube na justiça do trabalho.

Arrascaeta vibra com gol sobre o Olimpia, no Paraguai - Foto: Alexandre Vidal/Divulgação/CRF
Arrascaeta vibra com gol sobre o Olimpia, no Paraguai - Foto: Alexandre Vidal/Divulgação/CRF

Arrascaeta foi contratado em 2019. O Cruzeiro já acumulava dívidas, inclusive com o clube que o negociou, o Defensor. Apesar das bravatas do dirigente de plantão, cedeu e o negociou com os rubro-negros. A exemplo de Pet na segunda passagem, nem sempre era titular, pois o comandante de então, Abel Braga, considerava difícil tê-lo em campo com Bruno Henrique pelo fato de ambos atuarem pela esquerda.

Novamente uma mudança de treinador alterou o panorama. Jorge Jesus desembarcou no Rio de Janeiro e imediatamente encaixou os dois entre os titulares, reunindo-os a Gabigol na montagem de um trio infernal, que conta, até hoje, com a companhia de Everton Ribeiro. Juntos eles já levaram o Flamengo a 12 troféus, sendo dois deles do Campeonato Brasileiro e um da Libertadores, quebrando 38 anos de jejum.

Nessa equipe fortíssima e repleta de jogadores decisivos, a ponto de Pedro ser reserva, Arrascaeta é o homem do talento, da classe, da genialidade num passe, cruzamento, drible, finalização. Seu futebol cresceu e aos 27 anos parece maduro, mas ainda capaz de ir além. Irá superar Petkovic? Em títulos já o fez, mas o sérvio não teve a chance de atuar em um time que fosse forte além do papel.

A história de Arrascaeta como jogador do Flamengo não se encerrou, ele poderá colecionar mais títulos e ampliar seu tamanho na história rubro-negra onde Petkovic já está. Vejo o uruguaio como mais hábil e talentoso, o sérvio mais líder e superior na bola parada, com mais personalidade para comandar e capaz de fazer um time desacreditado ir além. O ideal seria ambos lado a lado, o que não é possível.

Mas afinal, qual a necessidade de apontar o melhor se eles não competem e ambos joga(r)am tanta bola? Reverenciar a história e contemplar o presente é a melhor opção.