#3 Memória
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#3 Memória

o que trago na memória

Maycon Casado
4 min
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#3 Memória

"Naquela mesa ele sentava sempre. E me dizia sempre o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias. Que hoje na memória eu guardo e sei de cor Naquela mesa ele juntava gente. E contava contente o que fez de manhã. E nos seus olhos era tanto brilho. Que mais que seu filho. Eu fiquei seu fã"

Não quero soar como saudosista ou como alguém que é conhecedor de MPB em iniciar um texto com uma música antiga. É que a letra da música acima é um tanto quanto positivamente melancólica e eu gosto disso. Ela se chama Naquela Mesa.

Com a ajuda do Google eu descobri que ela foi escrita por Sérgio Bittencourt e ficou imortalizada na voz de Nelson Gonçalves. Se você não for um amante da música brasileira, talvez não conheça nenhum dos dois, igual a mim.

Porém, vamos ao assunto de hoje…

A primeira vez que escutei esta música foi assistindo a um vídeo de um candidato daquele reality show antigo do SBT chamado Ídolos. A letra, a melodia e aquela interpretação te arrebata e te leva para dentro da sua memória mais antiga de uma conversa com seu pai, sua mãe ou sua avó. Aquela fim de tarde ouvindo histórias de pessoas que nunca veria pessoalmente e que mesmo assim você acaba criando um certo vínculo. Deve ter em algum lugar da internet uma teoria bem fundamentada de que a Música tem este poder de ativar as memórias escondidas. Arrisco dizer que o nome disso deve ser memória auditiva ou isso tudo é apenas o seu "divertidamente" que a ativa a esfera da lembrança quando ele bem entende.

O compositor diz que a memória dele traz coisas que guarda e sabe de cor. E descobri com o professor Pasquale que "saber de cor" está ligado ao coração. Sem querer tomar muito seu tempo, mas a questão é a seguinte: cor tem raiz latina na palavra cordis que é coração. Os antigos compreendiam que a sede metafórica da memória era o coração. Este radical aparece em várias palavras do português e uma delas é o "recordar". Tal foi o impacto desta palavra latina em outros idiomas que em inglês a expressão "eu sei de cor" é traduzida por "i know by heart" (eu sei pelo coração - tradução livre). Lembro que há muito tempo as torcidas de futebol cantavam no Maracanã que "Recordar é viver, o [insira aqui um craque do futebol dos anos 2000] acabou com você". 

O que isso tudo tem a ver com meu texto? Não faço a mínima ideia. Só gostaria de compartilhar contigo algo que eu aprendi.

Todos temos memórias que estão cravadas em nosso coração. Tê-las em demasia ou não tê-las por completo denota um desequilíbrio afetivo de nossa parte.

E sobre a minha memória… eu tenho muito medo de perdê-la. Minha paranoia particular é terminar a vida com Alzheimer. Sei que eu serei esquecido em duas ou três gerações e uma prova disso é que você mesmo mal sabe o nome de seus bisavós. Entretanto, perder a memória é algo que me assombra. Ter tirado de si a capacidade de recordar quem você é, quem está ao seu lado, os momentos felizes e ruins, deve ser horrível.

A minha única esperança é que mesmo que me esqueça quem sou, ainda assim eu tenho identidade que está selada desde a eternidade e isso é imutável.


Indicações

Espero que tudo isso faça sentido ao ver o mesmo vídeo que vi quando descobri Naquela Mesa. E para quebrar um pouco o clima "pra baixo" que incuti em você, segue também um vídeo com apresentações engraçadas no Ídolos:

1) Everton Maciel cantando Naquela Mesa: https://www.youtube.com/watch?v=gxGvahH9aFk&t=311s
2) Coletânea com alguns vídeos engraçados do Ídolos: https://www.youtube.com/watch?v=vxHa9QcyEUk


Nota: Como tenho até o final de agosto para entregar o tal do artigo científico para terminar meu curso e achei que chegaria neste momento com mais conteúdos produzidos, o que não aconteceu, agora preciso correr contra o tempo e ler mais do que imaginava. Ou seja, um breve hiato em leituras despretensiosas e foco nas obrigatórias. Um alento é que as leituras obrigatórias envolvem um tema que gosto.