Disclaimer desnecessário: Não sou jornalista da CNN ou Globonews. Sou um cara qualquer, de cabelo penteado, tomando a liberdade de vestir meu jaleco de especialista em leitura política e, fazendo um paralelo com o Brasil, escrevendo as coisas como são e não como eu gostaria que fossem. Talvez por isso o futuro me prove certo. | ||
Nunca vi um golfinho magoado | ||
A natureza humana, carrega há centenas de gerações características que pelo peso do tempo são impossíveis de serem desassociados de nosso comportamento. Eu nunca parei pra pesquisar, mas talvez o homem seja o único animal que tenha/sinta orgulho. Tanto de olhar para algo que fez e sentir superior por alguns instantes, quanto pela dificuldade em mudar alguma ideia pré concebida. | ||
Jornalistas pré internet e a arte de parecer isento. | ||
Quando te perguntam o que vai fazer o resto da vida, você ou está completamente perdido, ou tem certeza do que quer. O meu caso era claramente o primeiro. | ||
Eu não fiz arquitetura por achar que ia mudar o mundo. Eu era só um moleque que desenhava um pouco melhor que os amigos e tinha que fazer uma escolha. Minha segunda opção era microbiologia, vejam só. Nos 5 anos de curso percebi que uns 90% dos colegas entraram na mesma situação. | ||
Acredito que numa faculdade de jornalismo a proporção seja inversa. | ||
Desde o vestibular, o futuro jornalista, e toda arrogância pertencente a qualquer jovem de 18 anos, tem a certeza que a responsabilidade de sua escolha é quase divina. Ele irá ajudar a iluminar o mundo sombrio da ignorância em que vivemos. | ||
Ao longo dos anos de faculdade isso é reforçado por professores, e mais tarde pela caixa de ressonância de seus pares nas redações. | ||
No Brasil de 50 anos atrás isso era tão real quanto é hoje, mas vivíamos em uma ditadura e, filosofias Gramscianas a parte, a importância genuína de liberdade de imprensa, empurrou toda uma geração para um lado do espectro político. | ||
A bolha inflou por décadas e a informação ¨certa¨ e a opinião ¨sensata¨ ia sempre num sentido diagonal, da esquerda para baixo. Você escolhia 1 entre os 3 canais de televisão e 5 jornais impressos e se ¨informava¨. | ||
2020, cá estamos. Quem comanda redações e times de jornalistas das mídias tradicionais de hoje, são os jovens idealistas de ontem. E de ontem até hoje, uma vida cheia de experiências foi vivida, formando e reforçando convicções pessoais. | ||
Ninguém é imparcial. É impossível ser isento. | ||
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Jornalistas pós internet e o desespero de confrontar a realidade. | ||
Imagino que se aposentar deva ser algo complicado. Mesmo por opção, não ser mais necessário é algo emocionalmente difícil de assimilar. | ||
A internet não vai, nem precisa aposentar a mídia tradicional, mas em poucos anos não só a fez desnecessária como derrubou barreiras de entrada e inundou o mercado da informação de concorrentes. | ||
Enquanto jornais tradicionais fechavam e revistas demitiam, novas fontes de informação com pontos de vistas opostos nasceram e ganharam audiência. | ||
Mas o orgulho está lá. Cravado em nosso DNA. | ||
Aquela prateleira cheia de prêmios ESSO não pode estar errada. | ||
Trump vai ser reeleito, porque tanto no Estados Unidos quanto no Brasil, a imprensa há tempos deixou de nos informar com seu tradicional viés e passou a nos empurrar em direção ao que mais despreza. | ||
Existe um senso comum do que é certo ou errado. Do que é verdade e do que é mentira. | ||
Quando a imprensa quer te convencer de que se você optou por tirar a quadrilha do PT é porque é um fascista ou na melhor das hipóteses um idiota que acredita em fake news, qual a sua reação? | ||
Eu sei das minhas limitações em um debate político, mas querer que eu leve a sério um imitador de foca que há pouco tempo pintava o cabelo e mergulhava numa banheira de nutella vai me fazer repensar alguma coisa? | ||
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Em algum momento, talvez a medida em que foram percebendo a aposentadoria forçada, a imprensa abriu mão de tentar disfarçar a isenção em nome da ideologia. | ||
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Numa pesquisa do Gallup divulgada recentemente, nada menos do que 86% dos americanos consideram que existe sim um viés na imprensa. | ||
O bom senso dos eleitores, no entanto, é mais forte do que a simpatia ou antipatia por candidato A ou B. | ||
Tanto aqui como nos Estados Unidos existe uma maioria silenciosa que de tempos em tempos se manifesta nas urnas. | ||
A imprensa dobrou a aposta por lá e é por isso que ele vai ganhar mais fácil do que em 2016. | ||
A imprensa aumentou o tom por aqui e não é surpresa (pelo menos pra mim) que no auge de uma pandemia, com explosão do desemprego as pesquisas não só mostram que o apoio ao governo vem aumentando, mas a desaprovação caindo e a reeleição, se fosse hoje seria certa. | ||
Percebam que cheguei ao final do texto sem apontar um ponto positivo do Trump ou Bolsonaro. Não precisei destacar nada de negativo em seus adversários políticos. Quando a imprensa passa a militar, e manda você escolher um lado....bem...você escolhe. | ||
Agora me deem licença porque fiquei curioso e vou googlar ¨golfinhos magoados¨. | ||
Marcos H Barros | ||
Instagram: @mhbarros | ||