Uma escolha difícil
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Uma escolha difícil

Se você nunca teve dificuldade de tomar uma decisão na vida, esse texto não é para você. Na verdade se essa não é uma dificuldade sua eu pediria para ler o texto e me dar umas dicas no final ;)

Mateus
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Se você nunca teve dificuldade de tomar uma decisão na vida, esse texto não é para você. Na verdade se essa não é uma dificuldade sua eu pediria para ler o texto e me dar umas dicas no final ;)

Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come

Escolher, pelo menos para mim, sempre foi uma experiência difícil. E acredito que essa seja uma barreira natural, afinal toda vez que escolhemos estamos abrindo mão de uma, ou várias, alternativas. Quem não se lembra da cena de Matrix em que o personagem se arrepende de ter saído da simulação.

Aliás, se arrepender de uma escolha tem um nome bonito: Remorso da decisão. É aquele sentimento de que poderíamos ter escolhido melhor, evitado a situação em que estamos. É esse sentimento que provoca, em muitos casos, uma paralisia. São aqueles momentos "Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come" (Um salve para Ney Matogrosso).

Para se decidir é preciso de...

É comum nos sentirmos assim em decisões de vida ou morte, financeiras ou mesmo nas nossas relações familiares. Mas, de uns tempos para cá essa dificuldade de se tomar decisões ficou… digamos… mais ampla.

Vamos pensar… para se tomar uma decisão é preciso de uma coisa básica: alternativas para escolher. Quando não temos alternativas não há porque perder tempo escolhendo.

Pois bem, em 1920, se você fosse um dos sortudos que poderia comprar um carro, a decisão seria completamente binária: comprar ou não. Nem nas cores você poderia ter alternativas. De lá para cá muita coisa mudou, temos inúmeras montadoras e uma infinidade absurda de opcionais e cores.

Os sabores perfeitos

Essa abundância de alternativas tem casos curiosos como o da Campbell com seu molho de tomates Prego. Na busca pelo sabor perfeito eles contrataram o pesquisador Howard Moskowitz. 

Em conjunto com os engenheiros de alimentos da Prego, Howard desenvolveu 45 tipos de molho de tomate. A intenção não era encontrar "o" sabor perfeito, mas sim "os" sabores perfeitos. O que ele descobriu é que basicamente os americanos se dividem em 3 grupos de preferência: Molhos ao sugo, apimentados e com pedaços. Dos três grupos, um não tinha concorrentes. Na época ninguém oferecia molhos com pedaços de tomate. Prego desenvolveu uma linha com variações desse grupo e, 10 anos depois, já havia faturado 600 milhões de dólares apenas com a linha com pedaços. Essa estratégia obviamente foi copiada por concorrentes, a Ragu, por exemplo, tem hoje 36 tipos de molho em 6 categorias diferentes. Essa história é contada em mais detalhes no excelente TED de Malcom Gladwell:

Choice Overload

Embora esse seja um exemplo americano você com certeza consegue pensar em exemplos brasileiros. Pense em quantos canais de tv tínhamos nos anos 80 e quantos temos hoje. Agora pense nas alternativas de filmes que tínhamos nas locadoras e no que temos hoje com os serviços de streaming.

O excesso de alternativas leva a um outro termo bonito "Choice overload" e ele pode ser medido em coisas como: Em média as pessoas passam 18 DEZOITO minutos procurando o que ver na Netflix. O mais maluco é pensar que esse número se refere apenas ao momento em que estamos de frente para tv. A pesquisa melhores filmes na Netflix tem 246.000 buscas médias mensais o que mostra que as pessoas gastam bem mais que os 18 minutos escolhendo seu filme.

Além do excesso de escolhas um fator importante é apontado por  Barry Schwartz. Nos tempos atuais todas as escolhas que fazemos são declarações de quem somos. Das roupas à comida tudo é observado pela nossa comunidade como uma maneira de definir quem somos, a que grupo pertencemos. Em tempos de cancelamento e excesso de alternativas, escolher deixou de ser um ato trivial. Barry é autor do livro "O Paradoxo da Escolha" e também tem um TED que vale a pena ser visto.

Simplifique a vida

Agora imagine viver nesse mundo de excesso de escolhas e cancelamento sendo obrigado a tomar decisões importantes todos os dias. O ex presidente Barack Obama, por exemplo, quando questionado sobre o porquê de não variar muito o guarda roupa disse:

 "Pode reparar que eu uso apenas ternos cinzas ou azuis. Eu tento diminuir o número de decisões sobre o que eu como ou visto. Isso porque eu tenho muitas outras decisões para tomar."

Simplificar suas decisões no dia dia pode evitar (e muito) o "Choice Overload". Laurie Santos, por exemplo, decidiu fazer o teste de tomar sempre o mesmo café da manhã. Isso reduziu uma das decisões logo no início do dia e abriu espaço para outras (e mais importantes) decisões. Laurie Santos é uma cientista cognitiva e professora de psicologia na Universidade de Yale. Ela também apresenta um podcast chamado "The happiness Lab". Um dos episódios é inteiramente dedicado ao "Choice Overload"

E você o que simplificaria na sua vida para reduzir o seu Choice Overload?  Me manda um e-mail a respeito?