El Camino: A Breaking Bad Movie Review
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El Camino: A Breaking Bad Movie Review

Distribuído pela Netflix¸ El Camino chegou às telas em 11 de outubro de 2019 e logo provocou agitação entre os fãs, assim como está sendo uma ferramenta útil para ventilar a audiência de Breaking Bad. O foco do longa é principalmente desfecho...

Equipe Nerd Share
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Distribuído pela Netflix¸ El Camino chegou às telas em 11 de outubro de 2019 e logo provocou agitação entre os fãs, assim como está sendo uma ferramenta útil para ventilar a audiência de Breaking Bad. O foco do longa é principalmente desfecho do personagem Jesse, já que o seriado optou por deixar seu final em aberto.

Última cena em que o personagem Jesse aparece em Breaking Bad.
Última cena em que o personagem Jesse aparece em Breaking Bad.

A estratégia usada por Vince Gilligan ao não mostrar o final de Jesse em Breaking Bad é usada com certa frequência pelos roteiristas: Enriquecer o enredo suficientemente para possibilitar um final aberto. Final, esse, que deve decidido pelo próprio espectador com base na sua interpretação do filme ou seriado. Assim, pode-se concluir que o final de Jesse já estava decidido na cabeça dos fãs que assistiram as cinco temporadas com atenção suficiente nos detalhes para poder construir o seu próprio final do protagonista do filme.

Diante disso, temos um roteiro ousado para o longa. O maior desafio enfrentado foi produzir um filme de quase duas horas sem cansar o telespectador com recursos que já estávamos habituados a experimentar ao longo do seriado. Falhar nesse ponto poderia deixar o El Camino cansado, tomado por um sentimento de tédio e apatia, sentimento de “mais do mesmo”, sem inovação.

Posto isso, podemos dizer que esse tédio e apatia não apareceram em El Camino. Ao contrário do que estava sendo especulado, a proposta foi bem executada. O filme não cansa, não enrola e, sobretudo, consegue deixar o espectador atento ao longo dos seus 120 min. Isso ocorreu em virtude de uma coesão surpreendente entre o roteiro e a narrativa empreendida, mérito de Vince Gilligan, que tomou as rédeas e entregou um excelente trabalho.

Para ilustrar, podemos citar algumas cenas absurdas que ocorrem se analisadas isoladamente, mas, diante do contexto criado, não se parecem fora da realidade. A boa preparação e execução trouxe uma fidelidade muito próxima com eventos reais. Por vezes, experimentamos a sensação de que os fatos do filme aconteceram de verdade.

Isso nos traz à cena do “Velho Oeste”, em que Jesse, sozinho, enfrenta diretamente cinco homens armados. Nesse sentido, antes da execução há uma preparação minuciosa para fornecer elementos que trouxessem credibilidade para o acontecimento. Para tanto, o roteiro mostra Jesse recolhendo uma pistola quase inoperante da casa dos seus pais. Após, vemos os traficantes em festa, com o foco da câmera em um deles que estava usando cocaína. Quando Jesse bate no armazém, o traficante que estava entorpecido se sentiu invencível, efeito comum da droga, e desafiou Jesse para o embate. Essa atitude jamais seria tomada por alguém sobreo, já que ele estava em maior quantidade e facilmente poderiam lidar com a ameaça que  Jesse apresentava no momento. Na fase da ação, Jesse realiza um movimento totalmente inesperado, empreendendo uma destreza de altíssimo nível. A ação certamente deixou todos em choque, pois ninguém esperava que Jesse agisse de tal forma. Ocorre que os elementos anteriores à cena foram tão bem preparados e alimentados pelo diretor, tão bem executados, que possivelmente ninguém teria cacife para duvidar da sua credibilidade.

Junto a isso, outro ponto importante é a proximidade que Gilligan nos deixa do personagem principal. Para isso, Aaron Paul mostra uma atuação brilhante e impecável, nos fazendo sentir cada emoção vivida pelo seu personagem. A angústia, o medo e o desespero são observados a todo o momento. Sabemos que Jesse não é o mais inteligente, nem o mais forte, mas tomado por esses sentimentos, ele arrisca o máximo e vai até o limite, pois não tem nada a perder. A título de exemplo, temo a “Cena do Dinheiro”, que ocorreu no apartamento usado pelos traficantes. No ato, Jesse empreende uma forte persuasão ao forçar um acordo com os bandidos para dividir o dinheiro. Nesse momento, sentimos o medo e a aflição do personagem ao se deparar com uma situação que poderia dar tudo errado a qualquer momento, mas como os falsos-policiais temiam serem descobertos, eles cederam e a estratégia funcionou. Após, em outra cena, Jesse usa esse mesmo recurso, em condições muito semelhantes, convicto de que a persuasão funcionaria novamente. Porém, somos surpreendidos juntamente com o protagonista quando o desfecho não ocorre com o planejado e ficamos diante de uma fuga imprevisível. Ali percebemos que em momento algum Jesse detinha as situações sobre controle. Tudo foi se moldando na base do desespero e da sorte. Sorte, essa, que ora o acompanhava e ora o deixava na mão. Isso fortaleceu ainda mais o sentimento de que os fatos eram reais.

Quanto à narrativa, ela é precisa. Não perde tempo. Mostra o necessário e já avança para a próxima cena. Foram usados muitos flashbacks, principalmente no período que Jesse estava encarcerado produzindo metanfetamina. Num primeiro momento é possível sentir certo desconforto quando a narrativa muda para o passado, mas logo que a cena desenrola percebemos que ela está diretamente atrelada à situação mostrada no presente, não sendo fundamental, mas complementando com sutileza. Em outro ponto, para mostrar um dos acertos narrativos, temos a cena em que Jesse está no apartamento procurando o dinheiro do tráfico. Inteligentemente, a cena corre por poucos segundos, em fastfoward, com uma visão da planta do apartamento. Isso fez com que percebêssemos a passagem do tempo e a ansiedade de Jesse em encontrar o dinheiro, sem que ficássemos cansados e entediados.

Recurso narrativo usado pelo diretor para mostrar a busca de Jesse.
Recurso narrativo usado pelo diretor para mostrar a busca de Jesse.

Também necessário mencionar o fanservice exercitado por Galigan. É uma chuva de referências e easter eggs, principalmente mostrado pela presença dos personagens mais queridos pelos fãs. O ponto positivo a ser observado é que eles não são jogados ali, de qualquer maneira, apenas para satisfazer e matar a saudade, como somos acostumados a ver quando esses recursos são utilizados. Eles aparecem em momentos oportunos e sua aparição faz todo sentido dentro do contexto das cenas, enriquecendo ainda mais a narrativa do longa.

Old Joe, um dos personagens mais queridos pelos fãs.
Old Joe, um dos personagens mais queridos pelos fãs.

Por fim, podemos dizer que El Camino é um filme dispensável. Não precisa ser assistido por quem viu a série já possui suas próprias conclusões sobre qual seria o provável fim de Jesse. Porém, não desaponta ao mostrar o final do roteirista, pois foi muito bem executado em razão do excelente trabalho de Vince Gilligan ao comunicar com precisão o roteiro, direção e narrativa. Essa interação proporcionou um drama agradável, bem fluido e extremamente coerente, que num mundo justo seria um forte concorrente nas premiações do careca dourado.

9.5/10

Autor: André Belchor