O segundo Red Dead Redemption é um dos jogos mais difíceis de descrever, pois ele é tão impressionante, quando se fala do valor da produção, da profundidade, das performances, do visual sensacional, mas ao mesmo tempo não tem o melhor dos controles, ou das gameplays, sendo as vezes muito lento ou repetitivo nas horas erradas, deixando a experiência com seus altos e baixos, com momentos que tenta ser mais uma obra do cinema do que um videogame divertido, com controles bons e não tão realistas. Ainda assim, a jornada de Arthur Morgan pelo velho oeste é uma das que vai ser eternamente lembrada, com qualidades que sobressaem seus defeitos.

Eu amo como a Rockstar fez o player sentir que a história que ele está jogando é algo pessoal, algo que gere apego. Eles te apresentam personagens com personalidades gigantes, te fazendo amar ou odiar cada um deles durante a sua jornada. Sem falar que Arthur Morgan é um dos melhores protagonistas de todos os tempos (está no meu top 2). Apesar de que cada jogador vai ter o seu Arthur, eles não vão usar a mesma roupa, nem ter o mesmo cabelo e barba, tampouco tomarão as mesmas decisões. Mas todos eles vão oferecer um apego emocional e serão consequências da sua própria história dentro do jogo, fazendo com que a experiência seja tão imersível ao ponto de te prender e não soltar mais, até o final dessa longa aventura.

Se você jogou o primeiro Red Dead Redemption, tem alguma ideia de como a história do segundo jogo vai se desenrolar (sim, o jogo é um antecessor do primeiro). Mesmo assim, os criadores conseguiram surpreender o player de maneiras criativas. Foi uma experiência sensacional poder ver a trajetória de famosos personagens da Van Der Linde Gang que sobreviveram aos dias ruins e haviam sido apresentados já no primeiro jogo. Além disso, nada menos satisfatório do que foi ser introduzido à novas figuras fenomenais, que acabam sendo os principais ícones dessa aventura. Eu simplesmente amei o Charles. Ele é um dos melhores personagens coadjuvantes que um videogame já teve. A Sadie Adler, apesar de ser uma das favoritas dos fãs, mais me irritou com o seu exagero e a voz chata, do que me agradou, mas ela teve seus momentos. É possível perceber como o público amou tanto alguém que tem uma personalidade tão forte. Nem vou citar o personagem que mais odiei, para não dar spoiler. Dois retornos impactantes dos personagens que mais marcaram o primeiro jogo, não decepcionam nem um pouco, tendo novamente participações magníficas. Estou falando de John Marston e Dutch Van Der Linde.

Red Dead Redemption 2 talvez seja o jogo de mundo aberto mais profundo que já foi criado, com uma quantidade absurda de detalhes e uma atmosfera que faz o player achar que está realmente lá dentro. É possível criar a sua própria história apenas andando sem rumo. Você provavelmente vai acabar encontrando alguém que está à procura de ajuda ou confusão e, baseando-se pelas decisões que forem tomadas, você segue dali. Fazer as missões principais da história se torna só uma pequena parte do mundo de RDR2. A trilha sonora faz com que o jogo tenha ainda mais vida, especialmente em instantes que antecedem um momento grandioso, dando uma sensação de que aquela antecipação é real, tendo o nível de apresentação de cinema. RDR2 tem uma das melhores trilhas sonoras e representações de som ambiente da história dos videogames. Outro contribuinte para a realidade representada é o fato de que nunca nenhum jogo teve tempestades e animais tão bonitos, com cada detalhe tão precisamente representados, pelo menos eu nunca tinha visto.

O jogo é da Rockstar, então o gameplay deve ser algo familiar para quase todo mundo. O player percorre um mundo aberto, sem rumo. Podendo, se quiser, ir até as marcações para prosseguir a história e fazer as suas missões. As opções parecem ser infinitas, mais do que nunca, a quantidade de lugares para explorar, onde é possível acabar encontrando um estranho, bandidos, ou uma recompensa. Até mesmo quando você sai do acampamento com um rumo certo, quando você percebe, acabou de se perder sendo distraído por algo que surgiu no caminho. O player nunca vai ficar sem ter o que fazer em RDR2.

Até mesmo um relacionamento com o seu cavalo vai ser desenvolvido. Eles podem ser comprados ou capturados na natureza, e a partir dali, é possível dar um nome para eles, e quanto mais vocês andarem juntos, melhor a relação, aumentando assim a confiança do animal, melhorando os stats e os controles dele. Isso se torna algo muito importante dentro do jogo, tentar manter um cavalo por uma longa data (sim, eles podem morrer, e também podem ser salvos da morte por um item específico), pois quando for necessário atirar em uma fuga ou perseguição a cavalo, você vai desejar que ele esteja no melhor nível de afinidade possível. Os controles de mira são os tradicionais dos últimos jogos da Rockstar, no controle o player vai ter o lock-in cada vez que mirar, fazendo com que seja possível trocar tiros fugindo de cavalo, mas tem um certo nível de dificuldade elevado.

O que eu não gostei? Bom, eles complicaram alguns sistemas mais que o necessário, como as 3 barras de status, de Vida, Stamina e Dead Eye. Eu aposto que 80% das pessoas vão terminar o jogo sem nem ter entendido o significado daqueles cores e círculos com barras, mesmo tendo jogado 100 horas. O dinheiro também é desbalanceado, em partes do jogo o player se sente desesperado, pois não tem nada, mas em outras partes o dinheiro está em uma quantia absurdamente alta sem ter quase nada para fazer com ele. O jogo não te dá incentivos para se tornar milionário e caçar os animais raros, pelo menos nenhum no quesito de gameplay. A economia, a história e os teus stats vão continuar os mesmos. O prêmio vai ser poder comprar ou criar roupas novas, assim como novos acessórios.

O jogo também faz com que o personagem emagreça caso o player esqueça de alimentá-lo, mas simplesmente não tem nenhum indicador que nos faça lembrar disso. Arthur nunca demonstra ou comenta estar com fome, ele simplesmente vai emagrecendo, sem consequências também, pois é possível recuperar os status simplesmente indo dormir de pouco em pouco tempo. Aí de repente, simplesmente o jogo te dá um aviso “Você está no peso mínimo”, tipo…como assim? Não é como se tivesse a possibilidade de morte ou algo do tipo.

O design de algumas missões poderia ser melhor, acredito que a Rockstar se sentiu insegura em algumas partes do jogo, sentindo que eles tinham obrigação de terminar a grande maioria das missões com uma grande ação, quando muitas vezes era simplesmente desnecessário. Ao invés de simplesmente confiar no potencial de missões serem um pedaço da história ou uma sessão em stealth, que seja possível roubar ou fugir sem um tiroteio em massa. Não dá para saber se eles quiseram aumentar a duração do jogo, ou não confiaram na própria capacidade de escrita para os momentos sem ação serem bons o suficiente, mas foi um pequeno erro. A crítica número 1 das pessoas que não amaram o jogo é o quanto ele é lento, em certas ocasiões, tentando forçar o player a fazer parte do realismo, sem poder correr onde Arthur não correria. Mas eu não me importei, uma ou duas vezes eu gostaria que tivesse sido mais rápido, mas não acho que isso seja um grande ponto negativo para o jogo, pois o realismo faz toda essa parte fazer sentido.

Apesar dos pontos negativos, Red Dead Redemption 2 não é o melhor, mas é o jogo mais impressionante que eu já vi. Com um dos melhores mundos para se viver e criar a sua própria história, através das suas aventuras e decisões. Acredito que o jogo vai ser lembrado com muita positividade, pois pequenos detalhes negativos de uma parte do gameplay ou outra, serão apagadas com o tempo, mas o impacto de uma história tão marcante é difícil de esquecer. RDR2 é um dos melhores jogos de todos os tempos, mas ao mesmo tempo de opiniões bem divididas, pois nem todo mundo vai enxergar os seus pequenos defeitos da mesma forma ou com a mesma paciência.

10/10

Autor: Guilherme Pereira