Eu costumava tomar o metrô todos os dias antes de ter meu próprio carro, uma jornada de mais de quarenta minutos que se estendia diante de mim. Naquela época, irritação, ansiedade e angústia eram companheiras frequentes, agarradas em minha mente, obrigando-me a acordar mais cedo para enfrentar o trabalho. |
No entanto, quase dois anos se passaram desde que pisei no chão gélido de uma estação de metrô ou subi as escadas de um ônibus. Através desse intervalo de tempo, me dei conta do quanto perdi. |
Perdi o contato diário com pessoas, rostos anônimos que compartilhavam os mesmos vagões e ruas, unidos em silêncio e esperança, cada um com seu próprio mundo pulsando sob a pele. |
Perdi o contato com a realidade crua e genuína que encontramos somente nas ruas, em cada esquina, cada aceno para um táxi, cada olhar apressado verificando o horário do próximo ônibus. |
Perdi horas preciosas de leituras envolventes, imerso nas crônicas de Nelson Rodrigues, nas quais me deleitava diariamente. Os conflitos, dramas e paixões do povo brasileiro, esculpidos de forma tão vívida e irônica, eram companhia constante em meus deslocamentos. |
Até mesmo a antiga chatice de ler matérias de direito constitucional para uma prova insignificante adquiriu um tom nostálgico. Cada parágrafo lido, cada linha sublinhada com a pressa do aprendizado era, na verdade, uma lembrança de um tempo mais simples. |
Agora, eu tenho ganhado tempo, muito tempo, ao evitar essas viagens diárias. Mas, à medida que a conveniência e a velocidade substituíram a proximidade e a experiência, percebo que talvez tenha deixado algo importante para trás. |
Ganhei tempo, mas perdi a empatia. Fugindo do cotidiano que uma vez chamei de tedioso e exaustivo, percebo agora que era, em toda sua simplicidade, um espelho da vida real. E, embora tenha ganhado em eficiência, talvez tenha perdido algo intrinsecamente humano. |
E assim, no conforto do meu veículo, eu anseio pelos dias em que a realidade bruta e a conexão humana eram companhias constantes, nos trilhos que serpenteiam por entre a cidade, carregando não apenas pessoas, mas vidas, sonhos e o pulsar autêntico do mundo. |