Quem se entusiasma com a vitória de Doria?
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Quem se entusiasma com a vitória de Doria?

São Paulo é o estado campeão de mortes, respondendo por 25% dos mortos por Covid no Brasil, 3 vezes mais que o segundo colocado que é Minas Gerais.

HS Naddeo
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Enfim ele conseguiu. Já não interessa mais se comprou votos ou como adquiriu aliados para se tornar o candidato do PSDB à presidência da república em 2022. O fato é que, até abril próximo, tal qual fez ao abandonar a prefeitura da cidade de São Paulo apenas 1 ano e meio após tomar posse como prefeito, João Doria abrirá mão também do mandato de governador do Estado de São Paulo, no qual ficará no máximo 3 anos e 4 meses, se cumprir o limite do prazo de desincompatibilização. Juntando os dois únicos mandatos eletivos que ele obteve até hoje, teremos aí um candidato com uma experiência total de 4 anos e 10 meses no comando de dois cargos executivos e um legado de abandono e alpinismo político a qualquer custo.

Seus concorrentes nas prévias prometem união em torno da candidatura de Doria, escolhido por 53,99% dos votos dos filiados, contra 44,66% do governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite e 1,35% do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, atualmente sem mandato.

No entanto, essa união entre os pré-candidatos tucanos não significa a união do PSDB como um todo. O deputado federal Aécio Neves, ex-presidente do PSDB, apesar de ter caído em desgraça diante do eleitorado, ainda mantém influência em muitas alas do partido, especialmente Minas Gerais, importante colégio eleitoral para qualquer um que pretenda governar o Brasil. Prova dessa importância está na própria derrota de Aécio nas eleições de 2014 (ainda que até hoje existam controvérsias sobre a lisura do pleito), quando Minas Gerais foi decisiva na derrota ao negar a ele os votos preciosos que o levariam ao planalto.

O que esperar de uma candidatura que já nasce morta? Por que alguém abre mão do mandato de governador do maior estado do país para se aventurar em uma eleição altamente improvável? Que legado Doria deixou na prefeitura de São Paulo onde mal ficou 1 ano e meio? E no estado de São Paulo, o que ele construiu como governador para justificar sua pretensão de ser eleito presidente do Brasil?

Euforia é completamente diferente de entusiasmo. A vitória de Doria nas prévias do PSDB é pura euforia. Nem o mais eufórico com essa candidatura, além do próprio Doria, é capaz de realmente se entusiasmar com a possibilidade de que ela seja bem sucedida. Em abril de 2021, 12 mil bares e restaurantes já haviam fechado só na capital durante a pandemia. No estado 50 mil deixaram de existir, e 400 mil pessoas ficaram desempregadas, segundo a Abrasel-SP, entidade que representa 250 mil empresas no estado. No comércio do estado de São Paulo, 20.300  lojas encerraram suas atividades só em 2020, o que representa 26,99% das 75.200 lojas fechadas no Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio. Tudo graças à política do "Fica em casa" liderada por João Doria.

Juntemos a isso tudo o tempo em que as escolas estaduais e municipais ficaram fechadas, a estimativa de evasão escolar de 35% durante a pandemia, o prejuízo cognitivo aos alunos do ensino fundamental e o fechamento de diversas escolas particulares, os prejuízos causados ao setor de serviços com perda de 1,8 milhão de empregos, de transportes com 50 mil demissões só em 2020, sempre justificados por Doria com a falsa premissa de "salvar vidas", enquanto usava a pandemia para fazer política contra o presidente Bolsonaro que, durante todo o tempo, defendeu o equilíbrio entre o combate ao coronavírus e ao desemprego.

Em se tratando de Pandemia, São Paulo é o estado campeão de mortes, respondendo por 25% dos mortos por Covid no Brasil, 3 vezes mais que o segundo colocado que é Minas Gerais 

Fonte: Wikipédia
Fonte: Wikipédia

João Doria vende-se como o pai da vacina no Brasil, o que será seu principal mote de campanha. Mas é na verdade o "agenciador" da Coronavac usando o Butantã como intermediário do negócio. Podem jamais provar quanto dinheiro ele ganhou com esse negócio, mas é mais do que certo que ganhou. Doris não falará em sua campanha que o responsável por pagar as vacinas foi o governo federal e não ele. Da mesma maneira não falará que as medidas restritivas que usurparam o direito dos cidadãos foram responsáveis por violência policial desgraça na vida de milhões de paulistas. Muito menos falará da mentiras que ele e Dimas Covas, presidente do Butantã contaram sobre a eficácia da Coronavac, além das mensagens apocalípticas com o objetivo de gerar pânico na população e também jogá-la contra o governo federal. Hospitais de campanha que custaram milhões foram construídos e desmontados em tempo recorde sem sequer serem usados. E não há explicação plausível para isso.

Gastei essas linhas todas porque não dá para fingir que a convenção do PSDB não aconteceu e que Doria será o candidato do partido ao planalto. Mas o faço convicto de que é um candidatura natimorta e que, exatamente por isso, revela mais sobre Doria do que se fosse uma possibilidade real. Ele sabe que suas chances dependem de milagres, sendo um deles a impugnação da candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição, o que exige que voltemos nossos olhares para o TSE e para o STF e não necessariamente para a corrida presidencial.

Apenas para não citar os derrotados, o PSDB sairia perdendo com qualquer um deles.

Eduardo Leite dificilmente conseguirá se reeleger ao governo do Rio Grande do Sul. Talvez, quem sabe, uma candidatura ao Senado, fazendo usando as prévias tucanas apenas como vitrine. Sua gestão no governo gaúcho também foi recheada de excessos e autoritarismo, chegando ao cúmulo de proibir o acesso de consumidores a determinados tipos de produtos no supermercado, obrigando supermercadistas a interditar gôndolas sem uma mínima explicação científica ou lógica para tal atitude. Mais do que isso, usou o dinheiro enviado pelo governo federal para por em dia a folha de pagamento dos servidores públicos. Tal qual Doria, também espalhou o terror na população e não explicou a montagem e desmontagem de hospitais de campanha.

Arthur Virgílio Neto ainda era prefeito de Manaus em 2020, último ano do seu mandato. Saiu ileso, pelo menos até agora. Nunca foi santo. O 1,35% dos votos que recebeu nas prévias mostram sua insignificância dentro do próprio PSDB, o que dirá no cenário nacional. Outro que usou as prévias para ficar em evidência nas próximas eleições, talvez na disputa ao governo do Amazonas ou alguma vaga no congresso.

A verdade é que não há entusiasmo algum nem com o PSDB. E se a imagem do partido já havia se deteriorado com Alckmin, Serra, Aécio, FHC e os escândalos protagonizado por eles, a nova leva de líderes do partido, tendo Doria como expoente, tende a levá-lo ao descrédito total em breve.

Que ninguém se iluda com possíveis aplausos e euforia. Entusiasmo é outra coisa.

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