Alexandre de Moraes estará no comando das eleições em dois meses. Resta saber se será ele mesmo que irá comandar ou se será ele o comandado.
Depois de ultrapassar todos os limites da justiça, Alexandre de Moraes ultrapassou também os limites da racionalidade. Só está faltando matar Daniel Silveira. Nos filmes, geralmente é isso que acontece quando o objeto da obsessão se torna totalmente inatingível. Então, a eliminação, torna-se o último recurso, que mata não apenas o objeto, mas também o obsessor. | ||
Ao contrário do que significa Daniel Silveira para Alexandre de Moraes, este nunca significou particularmente nada para Daniel Silveira. As críticas grosseiras que ensejaram toda a operação de guerra deflagrada por Moares contra Daniel nunca foram dirigidas especificamente a ele ou só a ele. Daniel meteu o pau no STF inteiro. Os nomes que citou, mesmo ditos individualmente em sua fala, se referiam ao todo do tribunal. A particularização do fato, que fez foi Moraes, não Daniel. | ||
O fato é que Daniel Silveira foi indultado por Bolsonaro. O assunto tinha que ter se encerrado aí. E mesmo que provocado, o STF deveria ter desconhecido a solicitação, baseado no que defendeu e esclareceu, na época que ainda tinha a Constituição Federal norteando seu trabalho, o próprio Alexandre de Moraes: | ||
“Aclaramento neste mesmo sentido agregou o Ministro Alexandre de Moraes, no julgamento da ADI n° 5.874: É o mesmo entendimento pacificado por esta SUPREMA CORTE, que prevê a possibilidade constitucional de o Presidente da República, discricionariamente, conceder clemência individual ou coletiva, seja de maneira total, seja de maneira parcial, conforme podemos conferir, a título exemplificativo, em diversos julgados analisando o texto atual da Constituição Federal de 1988, sempre em decisões unânimes” | ||
Ou seja, não teria mais nada a ser discutido. Portanto, tudo o que o ministro fez contra Daniel Silveira após a clemência presidencial é contra mesmo, caracterizando claramente abuso de poder, perseguição e obsessão. Alexandre de Moraes é obcecado por Daniel Silveira, seja pela figura dele em si ou pelo o que Moraes entende que ele representa dentro de sua paranoia. | ||
Muita gente se refere ao ministro como ex-advogado do PCC. Eu já questiono se é realmente ex. Seus comportamentos, ações, julgamentos, sentenças, me deixam em dúvida se essa relação teve um fim mesmo, e se não é ela que justifica desde sua nomeação para o cargo até seu comportamento usando uma toga. E quanto ao comportamento penso que não se restringe a ele. A corte como um todo tem comportamento muito suspeito quando trabalha 24 horas na contramão do que suas funções constitucionais a obrigaria a fazer. Tanto que nem a própria Constituição Federal, que os nomeia como seus guardiões, eles respeitam mais. | ||
Há, contudo, um porém nessa história. Seria esse comportamento um compromisso com o crime organizado ou estaria a corte sendo obrigada a se comportar de tal maneira? | ||
Imagine-se ministro do STF. Imagine que tem nas suas mãos o poder de, fazendo o que a lei manda, colocar atrás das grades os principais chefes do crime organizado do país, prender corruptos, desbaratar quadrilhas e facções. Então, em dado momento, recebe uma advertência, um bilhetinho, dizendo algo como “Sei quem é sua mulher/marido, seus filhos, seus netos, onde vivem, onde trabalham, onde estudam, os lugares que frequentam, quem são os amigos deles, as rotinas deles.” Precisaria dizer algo mais? O que será que qualquer um de nós faria diante de um hipotético aviso desses? | ||
Ok. É uma teoria de conspiração, não há nada que comprove isso. Mas não podemos ignorar também que desde os “diálogos cabulosos” da esquerda com o crime organizado o Brasil é claramente um narco-estado. O tráfico de drogas, armas, pessoas, órgãos humanos – e principalmente o de influência – dominam a cena brasileira nos executivos municipais e estaduais, nos legislativos municipais, estaduais e federal, e porque não dizer logo no judiciário em todas as suas instâncias. Basta para isso ver a infinidade de leis e até emendas à constituição que preveem tratamento VIP aos bandidos, como redução de pena, audiência de custódia, maioridade penal, liberação das drogas, e por aí vai. Ninguém vai me convencer de que se trata de mero progressismo. Existe um buraco muito mais embaixo que a maioria da população não consegue sequer imaginar. | ||
A perseguição de Alexandre de Moraes a Daniel Silveira tem mais cara de advertência ao legislativo todo do que uma ação de A contra B. E quando vemos a promiscuidade da interlocução do alto judiciário com as altas casas legislativas do país se converterem em ações de proteção do segundo para o primeiro, temos que parar para pensar. Nada é normal. Ministros que deveriam se pronunciar apenas nos autos adotaram a estratégia de se pronunciar nos microfone e, principalmente, nos bastidores, ao pé do ouvido de políticos que tem processos a serem julgados por esses ministros. Quando falam ao microfone, por mais que estejam ali dando suas versões distorcidas dos fatos, pelo menos sabemos o que estão falando. O problema está no que falam em jantares e companhias nas quais não deveriam estar. | ||
Olhar sobre o ponto de vista de que, talvez, talvez (a repetição é proposital), a suprema corte possa estar acuada por um poder nada institucional ou republicano não é, de maneira alguma, querer criar um forte atenuante para o que ela tem feito nos últimos 5 anos, e mais fortemente depois que Jair Bolsonaro assumiu a presidência. Mas, quem sabe, um ângulo enviesado para tentar entender o porquê dessa desconexão com o ordenamento jurídico nacional e exatamente após a posse de Bolsonaro na presidência. | ||
Perseguir Daniel Silveira não é apenas perseguir um deputado, mas manter uma espada sob a cabeça do legislativo. E em se tratando especificamente de Daniel Silveira, um modo baixo e abjeto de mandar recado a políticos que são ligados às forças de segurança e às forças armadas, e também aos militares dessas duas vertentes que pretendem se candidatar nas próximas eleições. E um exemplo tácito de quem é que manda nesse país. | ||
Voltando então o foco na disputa do ministro com o deputado, tudo o que foi feito por Moraes conta Daniel Silveira foi na ilegalidade e na inconstitucionalidade, e o que ele faz agora ao aplicar multas ilegais, congelar ilegalmente dinheiro, bens móveis e imóveis, beira a insanidade, pessoal e jurídica. O que mais causa, espécie, no entanto, é ver que a corte como um todo não se pronuncia contra essa sequência de abusos e arbitrariedades, o que denota medo de se opor e ela, ou conivência, ainda que também possa ser fruto de medo. | ||
Alexandre de Moraes estará no comando das eleições em dois meses. Resta saber se será ele mesmo que irá comandar ou se será ele o comandado. Suas ações e o resultado das urnas nos dirá. | ||
E se absolutamente nada do que disse fizer sentido para tentar explicar ou entender os acontecimentos, só sobra o tesão mesmo. Aí, nem Freud explica. | ||
*Artigo publicado originalmente em nopontodofato.com em 21/05/2022 | ||
Agora você já encontra na Amazon meu livro “Como vi a Lava Jato começar a morrer” | ||
Uma narrativa das ações do STF que levaram a Lava Jato ao seu triste final. Uma coletânea de artigos, todos com base nos fatos, a maioria referenciada por notícias da imprensa sobre as ações do Supremo contra a operação durante a operação Lava Jato. | ||
Uma maneira de entender como as conquistas da Lava Jato foram sendo revertidas, quais foram os principais artífices dessa conquista da sociedade brasileira e como eles foram se revezando nas ações que culminaram com a soltura dos maiores ladrões dos cofres públicos da história do Brasil. | ||
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