Redes sociais. Você é usuário ou é usado?
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Redes sociais. Você é usuário ou é usado?

A gente continua caindo em contos do vigário. Acho que é um mal da humanidade. Deixar ser conduzida, programada, e ao mesmo tempo ter a falsa certeza de que está em pleno controle de tudo.

HS Naddeo
6 min
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A gente continua caindo em contos do vigário. Acho que é um mal da humanidade. Deixar ser conduzida, programada, e ao mesmo tempo ter a falsa certeza de que está em pleno controle de tudo.

Um amigo, conselheiro e especialista em tudo o que rola em redes sociais e meios virtuais já me dizia em 2017 que fazer sucesso em rede social é como fazer propaganda no terreno dos outros. E como o terreno não te pertence, uma hora o dono pode mudar as regras do jogo, ou simplesmente não te deixar mais ocupar o espaço.

Vivemos um enredo de 007. Aqueles vilões que querem dominar o mundo realmente existem, nas suas diversas matizes. Dos vilões rústicos dispostos a usar armas nucleares, químicas ou biológicas, até os sofisticados, que controlam a informação mundial e, com isso, o que a população deve ou não saber, e os artifícios para que ela saiba da maneira que eles querem.

Isso me leva a crer que o filme Redes Sociais, que supostamente conta a história da origem do Facebook, foi um enredo para nos vender uma ideia romântica de como teria nascido a maior ferramenta de manipulação dos últimos 20 anos. Se não foi a primeira rede social, o Facebook foi a que deu certo mais rápido. E de repente, gratuitamente, espontaneamente, e felizes, as pessoas começaram a fornecer dados que mapeiam suas próprias vidas e comportamentos em diversas redes sociais e hoje elas sabem mais do que nós do que nós mesmos sabemos.

A Netflix produziu um documentário com o título "O dilema das redes", no qual a exposição do poder das redes sociais não se limita a teorias e suposições. Os depoimentos apresentados são de pessoas reais que trabalharam nessas bigtechs, que vão aos pormenores da capacidade que os algoritmos tem de nos fazer de otários e conduzir nossos comportamentos através da manipulação das nossas emoções. A melhor definição, corroborada por todos os testemunhos, é de que ao contrário do que imaginamos, não são as propagandas que são vendidas para nós, mas nós é que somos vendidos aos anunciantes baseados do domínio emocional que essas plataforma tem sobre nós. Se não acredita, ou não alcançou a profundidade disso, assista o documentário.

As redes sociais tem donos. E esses donos também tem donos, que são os acionistas, que colocaram muita grana em cada uma dessas redes, e que são quem realmente as controla, e a nós, por conseguinte. Esses donos não são apenas megainvestidores interessados em ganhar muito dinheiro, mas tambem são envolvidos com política, ideologia e compromissos pessoais e corporativos associados a agendas que pretendem obter o controle da humanidade, usando censura, manipulação de dados, fatos e informações de tal maneira que fazem do livro 1984, de George Orwell, um mero be-a-ba do controle social.

As redes sociais sabem muito mais sobre nós e nossas reações emocionais do que nós mesmos sabemos. Nos induzem a lhes fornecer nossas reações emocionais nos oferecendo temas, imagens, produtos e serviços usando artifícios que nos levam a uma falsa sensação de controle enquanto, de fato, nós controlam.

Cada vez que aceitamos ou ignoramos sugestões das timelines do Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, Pinterest, ou a maneira que reagimos com likes, deslizes e comentários, estamos fornecendo a eles nossas emoções, e, através delas novas sugestões nos serão apresentadas baseadas no conhecimento que eles adquirem sobre nós. Eles sabem quanto tempo ficamos diante de cada imagem, se gostamos mais de vídeos ou fotos, áudios ou artigos escritos, e produzem conteúdos de acordo com os padrões que lhes damos de graça para que "nos vendam" aos anunciantes. E nem das buscas no Google nós escapamos. Se 10 pessoas pesquisarem exatamente sobre o mesmo tema, por exemplo, aquecimento global, exatamente com a mesma frase, em 10 locais diferentes, mesmo considerando diferentes idiomas, os resultados apresentados usarão como referência não apenas nosso padrão de comportamento, mas também a cultura local, a política local e a maneira como esse assunto é tratado nessa localidade.

Como explica o documentário, nem todos os recursos das redes sociais foram inicialmente pensados com essa finalidade por quem os desenvolveu. Porém, quando suas potencialidades foram percebidas, os algoritmos passaram a usá-los para ampliar o controle e o direcionamento do que querem que saibamos, como querem que saibamos e como querem que passemos a reagir diante deles. Até mesmo o design dos smartphones foi pensado para nós manter conectados.

A verdade é que a maioria de nós está viciada em redes sociais, e é possível constatar isso buscando nas configurações dos smartphones o tempo diário que utilizamos nossas redes sociais prediletas. E garanto que o resultado pode ser assustador.

As redes não são apenas sociais, mas socualizantes, usadas para produzir uma massa de manobra que antes era conduzida pelas mídias tradicionais. E é importante entender que são sociais e socializantes, mas acima de tudo privadas, de maneira que quer uma delas pode punir, suspender, retirar postagens ou simplesmente banir qualquer usuário cujo comportamento não se adeque ao que elas desejam de nós ou quando desafiamos seus objetivos.

A única maneira de lidar com redes sociais é entender isso tudo e conseguir utilizar a nosso favor o que os recursos oferecidos deveriam oferecer somente a eles. Uma das maneiras de fazer isso é não clicar no que as timelines nos oferecem e sempre fazer buscas sobre o que procuramos, o que ajuda, mas não e suficiente.

A outra maneira é prestigiar e promover sites, blogs, mídias e conteúdos independentes sobre os quais as redes sociais não tem controle, porque eles têm vidas proprias, ainda que possam ser propagados através delas.

Finalizo com o reforço na indicação do documentário O dilema das redes, e com a frase que, apesar de considerar que seu alcance é mais amplo do que infere, é uma boa síntese do que é dito nele, da qual só nos damos realmente conta assistindo, mas que mesmo sem assistir já nos dá muitos motivos para pensar.

Só tráfico de drogas e redes sociais tem usuários.

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