Daniel Silveira na cova das hienas
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Daniel Silveira na cova das hienas

Para quem não conhece a história de Daniel na cova dos leões, faço uma breve descrição. Por sua lealdade e inteligência, Daniel era privilegiado pelo rei Dario. Invejosos, membros da corte armaram uma arapuca para Daniel. Mexendo com a vaidad...

HS Naddeo
6 min
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Para quem não conhece a história de Daniel na cova dos leões, faço uma breve descrição. Por sua lealdade e inteligência, Daniel era privilegiado pelo rei Dario. Invejosos, membros da corte armaram uma arapuca para Daniel. Mexendo com a vaidade do rei, fizeram-no assinar um decreto que proibia qualquer homem de adorar alguém que não fosse o próprio rei, um decreto em caráter irrevogável, e cuja pena para o descumprimento era ser jogado na cova dos leões. Sabedores que Daniel orava a Deus três vezes ao dia, ficaram de olho, armaram um flagrante e levaram Daniel à presença do rei, que, sem alternativa, enviou Daniel à cova dos leões. Lá Daniel passou a noite, sem que os leões chegasse perto dele. O rei não dormiu aquela noite. Logo que amanheceu foi à cova, mandou que abrisse sua entrada, e para sua felicidade e surpresa dos traidores, Daniel estava intacto. E entendendo o que se passou, o rei mandou que fossem jogados na cova os traidores, suas mulheres e seus filhos, que foram imediatamente atacados e comidos pelos leões.

A história de Daniel Silveira não é exatamente igual à de Daniel, mas segue os mesmos princípios. A cova a qual submeteram Daniel Silveira não tem leões, mas hienas. Não há um rei, mas o presidente da Câmara dos Deputados e muitos traidores. E mais uma vez Daniel é traído e entregue às hienas por seus pares, também injustamente. O crime de Daniel Silveira não é honrar ao seu Deus ou um presidente da república, mas estar ao lado da verdade, dizer a verdade que incomoda a tantos, que expõe tantos, e revela com todas as letras e nuances a hipocrisia, o conluio, a criminalidade do descumprimento de preceitos básicos das leis e da Constituição Federal. Daniel Silveira fecha a boca das hienas como o profeta Daniel fechou a boca dos leões, por ser inocente, por ser leal. E por não conseguir atacá-lo mortalmente, as hienas o deixam cercado, em suspense, sabedoras de que um passo além do que tem sido feito acabará com elas, e não com Daniel Silveira.

O que estamos assistindo no Brasil é a derrocada de todo o ordenamento jurídico brasileiro, o total desprezo pela Constituição Federal, como se ela fosse uma bula que ninguém lê, um manual de instrução que ninguém segue. A cova das hienas segue apenas suas próprias vontades, aplica suas próprias interpretações das leis, ignora o que deputados constituintes, assistidos pela nata dos juristas brasileiros, fez durante vinte meses ao elaborar a (já ruim) Constituição Federal, que apesar de todo viés socialista, preservou em seus primeiros artigos os direitos fundamentais, entre eles a liberdade de expressão. E no caso de Daniel Silveira ainda mais longe, desprezaram o direito inviolável de um parlamentar de dizer, opinar e votar da forma que quisesse. Violaram a Constituição Federal com a ajuda da Câmara dos Deputados, agora pela segunda vez. Não abandonaram apenas Daniel Silveira. Abandonaram suas próprias garantias e prerrogativas constitucionais. O que foi feito a ele agora pode ser feito a qualquer deputado federal ou senador. A Câmara ajudou a consolidar a jurisprudência da ilegalidade e inconstitucionalidade da aplicação de pena sem crime. Daniel Silveira não cometeu nenhum crime. Os crimes foram praticados por quem o puniu, e por quem foi conivente com essa punição injusta.

Não há como garantir que Daniel Silveira passará ileso pela cova das hienas como aconteceu com Daniel na cova dos leões. O profeta Daniel foi salvo por um anjo que o protegeu dos leões. No caso de Daniel Silveira, o anjo só pode ser representado pela sociedade brasileira, que mesmo desperta e sonora, ainda é covarde para enfrentar as hienas que aviltam os direitos individuais, as leis, a Constituição Federal, o bom senso, a lógica e a nossa inteligência. E o que aconteceu com Daniel Silveira poderá acontecer a qualquer um de nós, até a mim por estar escrevendo esse texto, como avançaram sobre Oswaldo Eustáquio, Wellington Macedo, Roberto Jefferson, Alan dos Santos e tantos outros brasileiros comuns que tiveram suas casas invadidas, seus pertences confiscados, seus canais desmonetizados, suas contas em redes sociais desativadas.

Não preciso citar o nome do principal vilão da história, todos sabem quem é, da mesma maneira que sabem que ele precisa ser parado antes que os estragos de sua caneta, agora e durante as eleições, interfira na história do Brasil de maneira irreversível, transformando o futuro dessa nação num ambiente onde poderão governar bandidos e tiranos que mesmo sem ser inocentados vêm sendo livrados de suas penas para transformar o Brasil em um inferno do qual nos arrependeremos eternamente se não fizermos nada já, nesse momento. E então me perguntarão o que podemos fazer e eu respondo: precisamos parar o Brasil e reocupar as ruas. Mas não por um presidente, ou por pedidos de intervenções e gritos de guerra dissonantes. Precisamos fazer isso por nós mesmos, por não aceitarmos mais financiar lagostas e vinhos importados premiados (pelo menos quatro vezes) para semi-deuses que não passam de hienas egocêntricas aterrorizando uma nação de pessoas que só querem ter o direito de trabalhar e escolher livremente seus destinos e o destino do país.

Ou nos revoltamos com isso agora, de verdade, ou a cova das hienas será também o nosso destino. Mas não encontraremos apenas hienas nessa cova. Estarão lá também todas as espécies de demônios que se sentem donos de nossas vidas e almas, que entendem que tem o direito de nos dizer o que podemos fazer, de nos calar, e de nos governar contra a nossa vontade. Não haverá saída fácil e rápida se fomos parar lá dentro. O único segredo é conseguirmos não entrar, fazendo com que as hienas morram de fome e os demônios não tenham mais acesso às nossas vidas e almas.

O profeta Daniel teve um amanhã. O nosso depende apenas de nós.

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