Ele não está sorrindo para você. Está rindo de você.
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Ele não está sorrindo para você. Está rindo de você.

...Sérgio Moro não é ingênuo, longe disso. E eu não consigo nem definir exatamente o que ele é.

HS Naddeo
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É inegável que a Operação Lava Jato, comandada por Moro quando era juiz da 13 Vara Federal de Curitiba, revelou ao Brasil a extensão da podridão da política e do empresariado brasileiros, expondo e prendendo políticos e empresários que, durante décadas, roubaram deslavadamente a jato o dinheiro dos pagadores de impostos para financiar campanhas eleitorais e enriquecer ilicitamente.

Talvez poucos conheçam com tantos detalhes os meandros do funcionamento da política no Brasil como Sérgio Moro, o que me leva a perguntar o porquê dele ter largado a toga para se enfiar de cabeça nela. Hoje me acho muito ingênuo em ter acreditado que ele aceitou ser ministro da justiça do governo Bolsonaro por "entender" que dali conseguiria fazer mais pelo Brasil do que fez quando estava sentado na cadeira de juiz federal em Curitiba.

Confesso, inclusive, que minha ingenuidade não parou aí. No dia que Moro fez a coletiva informando sua saída do ministério, levantando suspeitas sobre o presidente, eu fiquei abalado. Até aquele momento, mesmo com algumas dissonâncias e deslizes demonstrados enquanto ministro da justiça, ele ainda gozava da minha credibilidade, e vindo dele tais insinuações e suspeitas, fiquei em alerta. Felizmente, a realidade não demorou a se impor, e foi fundamental para que eu ampliasse minha confiança em Bolsonaro.

O discurso de filiação de Sérgio Moro ao Podemos revelou que ele não deve ter prestado muita atenção em como realmente funciona a estrutura dos poderes no Brasil. Penso que ele não teve capacidade de avaliar o que é ser presidente da república com os poderes gerados pela aliança entre o judiciário e o legilslativo, ou, se preferir, entre os bandidos e os juízes. E se eu fui ingênuo em acreditar que ele queria ser ministro da justiça para combater a corrupção, hoje o ingênuo foi ele ao fazer um discurso prometendo coisas que, com esse jeito congressual e judicial de ser do Brasil, são praticamente impossíveis de serem mudadas pela ação e bons propósitos de um presidente da república. Se assim for, o ex-juiz será engolido pelo sistema sem relutância, ao contrário de Jair Bolsonaro que pelo menos entende e aceita o embate como ele realmente é.

Mas Sérgio Moro não é ingênuo, longe disso. E eu não consigo nem definir exatamente o que ele é. Não é mais juiz, mas também não é político. E se esse mix de não ser nem uma coisa nem outra agrada quem aposta nele como alternativa para o Brasil, desagrada tanto eleitores da direita quanto da esquerda. Os de direita porque entendem que os problemas do Brasil não serão resolvidos com discursos cheios de chavões, acenos à imprensa e propostas inexequíveis no nosso sistema republicano. Os de esquerda porque, acima de tudo, foi ele quem mandou Lula para a cadeia e expôs as vísceras da corrupção institucionalizada implementada pelo lulopetismo e seus puxadinhos mediante o direito de roubar dado a todo e qualquer que se dispusesse a prestar vassalagem e pagar comissão ao PT quando esse detinha o poder.

Não adianta fingir que ri da própria voz quando no fundo é da voz do povo que ele está rindo. Moro deixou de ser herói no dia que tirou a bunda da cadeira de juiz. Deixou de ser juiz para ser julgado e considerado suspeito por prender o ladrão com quem agora ele quer um pacto de não agressão, como se Lula fosse mesmo cumprir algum tipo de pacto proposto por ele, mesmo que o foco venha a ser derrotar Bolsonaro.

Aliás, nessa questão, soa inclusive muito estranho que Moro trate Jair Bolsonaro como inimigo e proponha uma trégua ao ladrão cujos crimes ele conhece um a um em detalhes que até hoje nós não conhecemos e talvez não venhamos a conhecer nunca. Como exemplo, a morte de Celso Daniel. Se isso não tira os méritos do que fez como juiz, reduz a zero seus méritos enquanto candidato. Basta ver a situação do Rio de Janeiro onde por décadas governantes fizeram pactos com bandidos. Moro demoniza Bolsonaro, contra quem não conseguiu apresentar uma mísera prova, e afaga Lula, que dispensa mais comentários.

A filiação de Moro ao Podemos revela a proximidade do ex-juiz com o senador Álvaro Dias, que, enquanto candidato à presidente presidência, em um ato patético durante um debate, quase de desespero, anunciou que, se eleito, o convidaria para seu ministério. O ex-comandante da Lava Jato era uma espécie de carimbo de idoneidade, apresentado como um trunfo político por Álvaro Dias, exatamente ele, poupado pelo próprio Moro em investigações que o envolviam com esquemas de corrupção.

Outra pergunta pertinente nesse processo é no que o Podemos contribuiu para o Brasil até agora? O projeto de maior relevância, o fim do foro privilegiado, aprovado pelo senado (com uma pegadinha embutida que proíbe políticos de serem presos se condenados em segunda instância) está há mais de dois anos parado na Câmara dos Deputados e Lira já é a segunda bunda na presidência da casa a sentar em cima dele. Fora isso, de relevante a mencionar, o Podemos é contra praticamente tudo que o governo Bolsonaro propõe, não interessando se o tema é relevante ou não para o país.

Da mesma maneira que ainda tenho muitas dúvidas se Lula será mesmo candidato à presidência, tenho as mesmas dúvidas se Moro será. E se de fato for não será visando a presidência, mas tão somente derrotar Jair Bolsonaro, se permitindo ser usado para tentar dividir a direita, que se mostrou até agora incapaz de focar em um objetivo e permitindo se desviar por narrativas e falácias de toda natureza. Não faz sentido (e acho que não há precedentes na história política do Brasil) alguém que planeja ser candidato ir jantar animadamente na casa de João Doria, na companhia de Mandetta, ambos pré-candidatos declarados ao mesmo cargo, sendo Doria governador do maior estado do país e com fartas demonstrações de como trata seus adversários.

A operação Lava Jato foi para o lixo, e não é Jair Bolsonaro o culpado disso. A culpa está no legilslativo que mudou leis para impedir que novos "Moros" surgissem no Brasil. A culpa é do judiciário que não apenas ridicularizou Moro enquanto juiz como o tornou suspeito de condenar o bandido com quem agora ele quer uma relação de respeito mútuo. A Lava Jato foi para os escaninhos da história porque Moro e Dallagnol já faziam política enquanto juiz e procurador da república, ambos vazavadores informações privilegiadas para sites de notícias "amigos" que lhes davam notoriedade e os alçavam à condição de heróis, e que são agora seus cabos eleitorais declarados.

Se candidato mesmo, Sérgio Moro fará o papel de "coelho" em maratona, aquele que sai correndo em disparada para forçar o ritmo dos adversários e no final sai da frente para que o atleta principal da equipe ganhe a corrida. Sim, eles estão atuando em equipe. E é por isso que eu afirmo que se você o ver sorrindo, não estará sorrindo para você, mas de você.

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