Lula e um atentado para chamar de seu
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Lula e um atentado para chamar de seu

Um candidato de verdade não escolheria Geraldo Akckmin para ser seu vice-presidente.

HS Naddeo
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Uma piada antiga conta que o capataz de uma fazenda liga para o patrão e, sem meias palavras, conta que o estábulo pegou fogo e dois cavalos morreram. Assustado, o patrão dá uma bronca no capataz e ensina que não se pode dar uma notícia dessas de sopetão, que é preciso antes preparar o espírito da pessoa que vai receber uma notícia ruim.

O capataz não entende muito bem como fazer isso e o patrão exemplifica dizendo que primeiro diz-se que o gato subiu no telhado, depois que ficou difícil tirar o gato do telhado, só então conta que o gato morreu. Certifica que o capataz entendeu e encerram a ligação. Duas semanas depois o capataz liga novamente para o patrão, e mostrando que aprendeu a lição informa: patrão, sua mãe subiu no telhado.

Como tirar Lula da disputa eleitoral sem assustar o eleitorado petista e correr o risco de uma enorme dispersão? Eis a questão.

Já há algum tempo defendo que Lula não será candidato. Ele tem medo de ir às ruas para fazer campanha. Mas não é medo de atentado. É medo do vexame, pois é isso que vai acontecer. Não encherá praças sem sanduíches de mortadela e mais um dinheiro para a militância. Não será recebido por multidões nos aeroportos ou nas ruas quando passar. E ele sabe disso.

Mas não pára por aí. Por mais desculpas, argumentos, justificativas e mentiras que possa arrumar, como encarar seus oponentes em um debate quando lhe esfregarem na cara sua extensa ficha corrida? Vai acusá-los de fake news? Vai ligar ao vivo para o STF punir quem lhe disser essas verdades na cara? Vai recorrer às agências de checagem diante das câmeras?

Um candidato de verdade não escolheria Geraldo Akckmin para compor a chapa como vice-presidente.

E por último, Lula não tem mais saúde para encarar uma campanha eleitoral e nem estrutura psicólogica e moral para encarar uma derrota que se insinua já no primeiro turno, apesar do que possa dizer qualquer pesquisa fraudulenta dessas que o aponta disparado em primeiro lugar. Lula não tem chance de ser primeiro lugar a não ser que a pesquisa seja sobre rejeição.

Uma derrota acachapante de Lula seria a última pá de cal no PT e na esquerda, e é preciso evitá-la a qualquer custo. A maneira mais segura parece ser ele não disputar a eleição. Toda essa panacéia, a meu ver, visa tentar eleger deputados e senadores, pois até essa base é provável que diminua. O PT não se sustenta nem com a imprensa e a justiça livrando sua cara. O PT é Lula, e Lula é só um walking dead político assombrando o cenário eleitoral.

Outro reforço à minha tese é o discurso usado por Lula. Não é possível que alguém queira ser eleito fazendo ameaças às liberdades e insinuações de que está "mais Maduro" numa clara referência ao ditador da Venezuela Nicolás Maduro que se mantém no poder através do uso de violência contra sua população.

Não faz sentido dizer que vai reassumir o controle das estatais que roubou para fazer o que não fez exatamente porque as roubava. Não há lógica prometer retrocessos em reformas importantes como a trabalhista e a da previdência ou como a autonomia do Banco Central. Só os asnos encantados cairiam nessa conversa fiada. Mas eles não são suficientes para elegê-lo. Só a urna eletrônica faria isso por ele.

A ideia de uma ameaça de atentado é uma desculpa esfarrapada que cola na militância petista. Um expediente que tenta equipará-lo a Bolsonaro na cabeça de quem não pensa. Livra Lula do vexame iminente. Uma saída "honrosa" para quem não tem honra para alemejar o cargo do qual comandou o maior esquema de corrupção da história não só do Brasil, mas do mundo.

A se confirmar, essa saída da disputa, porém, não tirará Lula do cenário político. Ao contrário, deixará a esquerda brasileira ainda mais perigosa, pois ele poderá, finalmente, comandá-la como chefe de quadrilha que sempre foi, não terá mais nada a perder. Essa "liberdade", aliada aos discursos recentes de José Dirceu e às movimentações do MST e outros movimentos sociais podem (e creio que irão) levar o Brasil a um conflito civil como última alternativa da esquerda "tomar o poder, que é diferente de ganhar a eleição".

Posso estar completa e redondamente enganado nessa minha leitura, mas ainda creio que a aposta da esquerda será em um candidato que pense e queira as mesmas coisas que Lula, mas que externe isso de maneira "mais cheirosa", com muito menos rejeição e que se submeta a acordos com o PT em caso de vitória. E o único nome que enxergo com esse perfil é Ciro Gomes.

Ainda há muita água para passar debaixo da ponte, mas, na minha opinião, o que Gleisi Hoffmann, o capataz do PT, vem dizendo nas entrelinhas nos últimos dias é que Lula subiu no telhado. Tomara.

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