... um bom YouTuber não necessariamente será um bom político...
Vivemos um dilema bastante complicado. Ao mesmo tempo que o Brasil precisa renovar a classe política, os poucos jovens que surgiram neste cenário têm decepcionado os que neles apostaram, o que torna muito preocupante o futuro da categoria no Brasil. Mais ainda, o futuro do Brasil. | ||
Arthur do Val e Kim Kataguiri são dois excelentes maus exemplos do que penso a esse respeito. Um defende o nazismo, o outro é um machista predador sem a menor empatia pela dor de um povo, não somente das mulheres desse povo. Porém, essas escorregadas não se constituem no maior problema dessa geração de novos políticos, da qual podemos citar também Tabata do Amaral, Marcel Van Hatem, Fernando Holliday, Samia Bonfim e tantos outros. | ||
A maioria desses jovens preferiu o jogo partidário e ideológico à política propriamente dita. Para eles, o município, o estado, o país, são focos secundários. Não estão preocupados com leis, economia, saúde, transporte, educação, segurança alimentar, mas em participar de qualquer coisa em que possam lacrar, que é o foco dessa geração. Eles gostam mais de curtidas do que de votos. Preocupam-se com seguidores e não com eleitores. | ||
As redes sociais são os plenários nos quais essa juventude trabalha. Os discursos nas tribunas foram substituídos por reels no Instagram, vídeos no Tic Tok, lacrações no Facebook ou no Twitter, reforçando diariamente suas imaturidades ao se aliarem a tramas e conspirações que nada tem a ver com o Brasil, mas com os interesses dos grupos que os dominam. E foram fácil e rapidamente dominados. São peões no tabuleiro de um jogo que eles mal conhecem. | ||
Citei Marcel Van Hatem nesse grupo, mas ele é até diferenciado em relação aos outros. Enquanto deputado estadual em Porto Alegre, ainda filiado ao PP, fazia um excelente contraponto ao esquerdismo dominante na assembleia gaúcha. Mas se perdeu quando se elegeu deputado federal, já pelo Novo. Também caiu no jogo político e em alguns de seus votos é difícil reconhecer algum traço daquele deputado estadual que tinha propósitos mais nobres do que a agenda anti-governo federal que faz parte da plataforma do seu partido. | ||
Mas o tema desse comentário é mesmo Arthur do Val. Os áudios que ele enviou da Ucrânia, combinados com sua permanente ausência da assembleia paulista e do exercício do cargo para o qual foi eleito, demonstram a frágil e patética figura política na qual os paulistas apostaram. Ele não se preocupa com São Paulo. Não se preocupa com seus eleitores. Não se preocupa com o trabalho para o qual é muito bem remunerado para fazer. Preocupa-se apenas consigo mesmo, dando passos muito maiores que suas pernas, envolvendo-se em temas muito além do seu alcance e da sua esfera de atuação. | ||
As palavras de machismo e desprezo pelas mulheres ucranianas, pelo momento e pela dor povo ucraniano, só enfatizaram o engodo que essa pessoa vazia demonstrou ser desde que foi eleito. Dizem que um bom vendedor não necessariamente será um bom gerente. Parafraseio o ditado para dizer que um bom YouTuber não necessariamente será um bom político. E Arthur do Val Mamãe Falei é a evidência clara disso. | ||
Não se pode culpar os eleitores que apostam nessas pessoas que são propositalmente elevadas à condição de celebridades pela mídia e pelos grupos políticos que os enxergam como bons puxadores de votos, ainda mais quando pensamos que esses eleitores pensam como ele, se identificam com ele, são provavelmente vazios como ele, sem conhecimento e maturidade para reconhecer a falta de conhecimento e maturidade que ele tem para exercer a função para a qual votaram nele. Temos que conviver com isso, infelizmente. | ||
Arthur do Val Mamãe Falei enfrentará momentos difíceis. Já está sendo execrado publicamente, teve que retirar sua candidatura ao governo do estado (como se realmente tivessem alguma chance de ser eleito), provavelmente receberá algum processo e possivelmente terá seu mandato cassado pela Alesp - se João Doria não acionar sua estrutura para impedir, mas é provável que nem ele queira se envolver nessa história. | ||
Ninguém sabe o que Arthur do Val foi, de fato, fazer na Ucrânia. Não dá para imaginar o que ele pretendia lacrar ou lucrar com uma viagem na qual mal ficou dois ou três dias em um país em guerra, sem que nem tenha visto de perto essa guerra. Mas seja lá o tipo de vantagem que ele imaginou tirar dessa viagem, não deu certo. Pelo menos nesse momento, sua carreira política está morta, mesmo que escape da cassação. Mas quando os resultados das ações que vierem contra ele chegarem ao fim, só restará correr para casa em busca de um colo protetor para chorar e dizer: mamãe, falhei. | ||
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