Sérgio Moro consegue fingir o que é, mas é incapaz de fingir ser o que não é.
Não li o livro, não vi o filme, não ouvi a música. Tudo que sei sobre Moro é baseado nos fatos que nos são relatados pela imprensa, nas consequências das atitudes que ele tomou e toma, ligando A com B, e um bocado de lógica ao interpretar tudo isso. Então não me acanho em dizer que Moro é o sistema, portanto jamais vai agir contra ele. Suas trairagens sempre foram a favor do sistema do qual faz parte em cada papel que interpretou dentro dele. | ||
Uma pergunta simples e que não terá nunca argumentos suficientes para responder é "por que ele odeia Jair Bolsonaro". Por que? Porque Bolsonaro, dentro da prerrogativa de seu cargo, supostamente, quis interferir na indicação de superintendentes e do diretor geral da Polícia Federal? Cadê a prova disso, Moro? | ||
A reunião ridiculamente vazada por ordem de Celso de Mello, a pedido de Moro, não provou nada. Nos depoimentos de Moro e de Marcelo Valeixo à Polícia Federal ambos negaram interferência do presidente no trabalho da PF. As investigações da PF não acharam nada, não provaram nada, não insinuaram nada. Por que o ódio? Só a vaga no STF explicaria, da mesma maneira que as atitudes do ex-juiz enquanto participante do governo também explicam o porquê da decisão de Bolsonaro. Mas isso ainda é pouco. | ||
No governo tinha como aliados pessoas que, quase ao mesmo tempo que ele, se tornaram inimigos do presidente e trabalharam contra ele ainda ocupando seus cargos de confiança. General Santos Cruz, um até então desconhecido idiota que não engolia ser mandado por alguém de patente inferior à sua, mas cuja vaidade não lhe permitiu negar um convite para integrar o governo. Luis Henrique Mandetta, um nome até então só conhecido do público do seu estado e pouco pelo público em geral e apenas por responder processo por desvio de dinheiro. Não por acaso dois nomes que agora andam junto com Moro. | ||
No congresso os amigos de Moro são os deputados e senadores do PSL que se uniran em oposição ao governo que os ajudou a se eleger, além das crianças do MBL (esses, por ainda estarem com o caráter em deformação, cada hora pendendo para um lado), todos agora apoiadores de Sérgio Moro em busca de um cargo no Olimpo que não lhes foi dado por Bolsonaro. Penso que os melhores exemplos são Joice Hasselmann, Alexandre Frota e Kim Kataguiri. | ||
Poderia ficar nisso que já explicaria muita coisa. Mas o buraco é bem mais embaixo. Sérgio Moro consegue fingir o que é, mas é incapaz de fingir ser o que não é. E uma coisa que ele não é mesmo que se esforce muito, é ser político. E ninguém sobrevive do carisma e das ordens da esposa na política. Política exige pragmatismo, flexibilidade, intuição, coisas que a formação de um juiz não lhe deram. Se um juiz atuar com pragmatismo, flexibilidade e intuição ele tem que passar por cima da lei. Taí o STF que não me deixa mentir. | ||
Nunca tinha visto um pretenso pré-candidato à presidência jantar com outros dois pretensos pré-candidatos às vésperas de se lançar como tal. Pode ter acontecido? Pode, claro. Mas além de soar estranho, fica ainda mais estranho quando esses outros dois são Mandetta e Doria, especialmente Doria, que quer o cargo a qualquer custo. O que eles trataram? A estratégia de se absterem de bater um no outro e focarem só em Bolsonaro no primeiro turno? Definirem o apoio ao segundo turno a qualquer um dos 3 que possa chegar ao segundo turno? Estabelecer o preço da desistência se alguém despontar muito na frente? O que seria? A vaga no STF? O ministério da saúde ou da justiça novamente? Dinheiro? | ||
Se tudo isso já sugere muita suspeição, o que dizer de Moro propôr a Lula um pacto de não agressão durante a campanha? Quem se beneficiaria com isso? Moro ou Lula? E se Lula não aceitar a proposta, Moro falaria tudo o que sabe sobre Lula, coisas que nós não sabemos? E como ficaria a consciência de Moro não usando contra Lula em uma campanha sabendo tudo o que sabe sobre ele? Como ficaria sua consciência se esse silêncio viesse a ser fundamental para que Lula chegasse ao segundo turno e eventualmente (só que não) se elegesse presidente novamente? E porque abriria mão de falar o que sabe sobre Lula mas falaria qualquer coisa que servisse para atingir Bolsonaro? | ||
Ao falar sobre a necessidade de ter pragmatismo e flexibilidade na política, isso não se aplica a tudo o que descrevi nos parágrafos anteriores. Se associar a Doria, Mandetta, Santos Cruz, Joice Hasselmann e Kim Kataguiri, entre outros, e ainda fazer um pacto com Lula, não tem nada a ver com pragmatismo ou flexibilidade. É só falta de caráter, pois Moro sabe que não tem chance de ganhar ou de chegar ao segundo turno. Seu papel nessa história volta ao ódio de Bolsonaro, que nem é dele de verdade, mas do sistema que ele representa e do qual faz parte. E sabe-se lá quanto ou o que ele está ganhando para fazer isso. | ||
Sérgio Moro defende as ações do STF que o destruiu, podre de saber das ilegalidades e inconstitucionalidades que essa corte prática, incluindo aí a que liberou Lula e tornou ele, Moro, suspeito, com risco até de vir a ser preso. E por que faz isso? Porque o sistema exige que faça. Ataca o presidente da república que defendeu e defende os direitos do cidadão contra as arbitrariedades aplaudidas e endossadas por ele enquanto ministro, através de lei sugerida por ele e por Mandetta, e se associa a Doria, o maior algoz de cidadãos e empresas que viram suas fontes de renda secarem, suas empresas falirem enquanto a calça apertada ia passear sem máscara em Miami ou se exibia sem máscara, de sunga apertada, na piscina de um hot no Rio de Janeiro. Aonde está o caráter de Sérgio Moro nisso tudo? | ||
Sucumbir às própria vaidade já é muito grave, mas sucumbir à vaidade da esposa é mais grave ainda. E é assim que a coisa funciona ali. Claramente não é Sérgio Moro que quer ser presidente, mas sua esposa que quer ser primeira dama. Podem ter certeza que os vazamentos para a imprensa desde a Lava Jato não foram feitos através dele, a interlocução foi outra, muito mais suscetível aos holofotes e status que recaíam sobre ele, mas que afagavam outro ego. | ||
Moro terá de explicar muita coisa durante uma campanha eleitoral, como, por exemplo o auxílio moradia que recebia enquanto era juiz mesmo tendo residência em Curitiba, além dos penduricalhos que engordam os salários dos magistrados. Vai lutar contra isso agora? Terá que explicar a qualidade dos clientes que o escritório da esposa passou a atender depois da Lava Jato, tendo bom paralelo para isso os escritórios da esposa de Dias Toffoli e de Alexandre de Moraes. É tudo a mesma coisa e teria sido do mesmo nível caso ele tivesse colocado seu traseiro em uma das cadeiras amarelas do Supremo. | ||
Em nenhum momento fiz ou faço acusações de desonestidade de Sérgio Moro no sentido de corrupção ou envolvimento em ilicitudes da mesma espécie. Sua desonestidade, no meu entender, é de caráter acima de qualquer outra coisa, fruto de uma personalidade fraca dentro de uma imagem forte, pois do Sérgio Moro que o Brasil conheceu na Lava Jato só sobraram o nome e a imagem. Como citei em artigo no meu site em 31/10/2018, "Sérgio Moro no Ministério da justiça será um Sérgio Morto", e recomendava que ele não aceitasse. Mas aceitou. | ||
Obviamente esse é apenas meu olhar sobre os fatos, sem me aprofundar em detalhes que outros analistas e comentaristas pormenorizam e que pioram ainda mais a imagem do ex-juiz, ex-ministro da justiça e ex-pessoa admirável que já foi um ídolo no coração dos brasileiros. Nem da relação com o PSDB e com o site de fofocas do Mainardi eu falei, todos conhecem. | ||
Em resumo, vejo Moro mesmo como "coelho de maratona", aquele corredor que sai disparado na frente apenas para cansar os principais adversários para que num dado momento da corrida o corredor principal da equipe assuma a ponta para ganhar. Resta saber para qual corredor ele está trabalhando, que é o que me leva a afirmar que Moro é o sistema. Fique certo que ele nunca irá bater de frente com esse sistema que representa nessa candidatura sem personalidade. Moro só vai bater em retirada em algum momento, e aí então saberemos sem dúvidas para quem ele estava trabalhando. | ||
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