O convite do TSE para Jair Bolsonaro
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O convite do TSE para Jair Bolsonaro

A imprensa divulgou que Bolsonaro se dirigiu apenas duas vezes a Alexandre de Moraes: oi e tchau.

HS Naddeo
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Graças às liturgias dos cargos, certas cerimônias são inevitáveis. Não dá para o TSE não convidar o presidente da república para a posse de seu novo presidente, e não dá para o presidente da república se recusar a receber o convite. Entretanto, Bolsonaro participar da posse, que ao que se sabe será virtual, são outros 500, até porque ele poderá viajar para a Rússia na ocasião.

Apesar de que também tomará posse como vice-presidente do TSE e assumirá a presidência da casa a partir de setembro, será que Alexandre de Moraes precisava mesmo ter acompanhado Fachin na entrega desse convite?  Foi uma visita de cortesia ou uma provocação silenciosa olho no olho?

Segundo José Maria Trindade disse em Os Pingos Nos Is, Jair Bolsonaro vem sendo literalmente seguido por pessoas que não fazem parte de sua comitiva ou segurança e nem da imprensa. Gente que grava, fotografa e filma tudo o que ele diz e faz em qualquer lugar que vá. Gente que está documentando palavras, imagens e comportamentos do presidente para usar contra ele em processos que estão sendo previamente preparados para serem acionados durante a campanha eleitoral a fim de acusá-lo de ter praticado campanha eleitoral antecipada. E quem disse isso também foi José Maria Trindade no mesmo comentário, que, apesar de algumas discordâncias de opinião que tenho com ele, é extremamente bem informado.

Não é novidade para ninguém que tanto o STF quanto o TSE querem arrumar uma maneira de tirar Bolsonaro da corrida eleitoral. E não querem só porque querem, mas porque precisam. E não precisam só porque têm vontade, mas porque têm ordens - de quem manda - para fazerem isso, ou que, no mínimo, essa perseguição resulte no enfraquecimento de sua posição enquanto candidato. Tudo bem se você não acreditar em mim. É mesmo difícil de acreditar que um poder da república use de expedientes tão anti-democráticos e nada republicanos para sabotar a candidatura de um presidente à reeleição. Mas, infelizmente, é o que temos para o momento.

Depois que Bolsonaro ignorou a ordem de Alexandre de Moraes para ir depor na Polícia Federal, só posso entender sua presença na entrega desse convite como uma provocação tácita, como quem, sem dizer uma palavra, fez questão de lembrar Bolsonaro de que ele será o próximo presidente do TSE e presidirá as eleições. Convenhamos, não teve nenhuma cortesia ou protocolaridade nessa visita.

Os ministros Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso pensam em Jair Bolsonaro 24 horas por dia, uma sanha perseguidora que há muito tempo passou dos limites, inclusive das leis e da Constituição Federal. Nunca na história desse país, e me atrevo a dizer de quase todos os países civilizados do planeta, um presidente da república foi perseguido por ministros da suprema corte como Bolsonaro é perseguido pela maioria dos ministros do STF. Acima de escancarada essa perseguição é absolutamente abusiva. São "cascas de banana" diariamente espalhadas na forma de X dias para explicar isso ou aquilo, ordens que eles não tem autoridade para dar e a negação da autoridade que ele tem para não cumprir nenhuma delas.

Perseguem apoiadores, dão declarações, ofendem e tentam humilhar Jair Bolsonaro esperando que ele ecorregue em uma dessas "cascas de banana" que espalham por onde ele pisa, certos de que uma hora ele cai. A prévia comunicação da ida de Alexandre de Moraes junto com Fachin para entregar o convite da posse é claramente uma delas. Sou capaz de apostar que Moraes esperava que Bolsonaro não o receberia, ou que aproveitaria a oportunidade para promover uma cena desagradável.

Contudo, mais uma vez, quem escorregou na própria casca de banana foi Alexandre de Moraes. Se sua intenção era constranger o presidente, o constrangido foi ele. Antes de receber os ministros do STF Bolsonaro convocou o ministro da defesa e os comandantes das três armas para uma reunião que terminaria exatamente no horário da chegada deles. E, quando chegaram, Bolsonaro convidou os quatro a permanecerem na sala enquanto recebia Fachin e Moraes. E o encontro durou meros 10 minutos.

A imprensa divulgou que Bolsonaro se dirigiu apenas duas vezes a Alexandre de Moraes: oi e tchau.

A tarefa que foi dada a Alexandre de Moraes não será fácil de cumprir. Bolsonaro não é Dilma. É estrategista no que diz e no que faz, mesmo quando é tosco. Ao contrário do "xerife", o presidente anda com a Constituição Federal que ganhou de Rosa Weber "debaixo do braço", e ao cumprí-la estritamente escancara que quem não a está cumprindo são os próprios ministros do STF.

Alexandre de Moraes não vai desistir de perseguir e tentar impugnar a candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição, mas não faz isso porque é malvado. Faz porque tem ordens para fazer, o que tem incomodado até outros ministros do STF que também querem ver Bolsonaro fora do Planalto. Porém, com métodos que nenhum deles tem coragem de utilizar, nem os que rasgam a Constituição Federal para libertar bandidos e proteger amigos.

Até onde se sabe, nenhum ministro do STF tem uma delegada da Polícia Federal escolhida a dedo para chamar de sua, muito menos uma delegada que denunciou o seu, agora, protetor por receber propina de 4 milhões de Reais entre 2010 e 2014 através de seu escritório de advocacia enquanto ainda não exercia cargo público. É muito estranho que o autor da medida que impediu Bolsonaro de nomear o delegado Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal sob a acusação de interferência na instituição faça ele tal interferência escolhendo pessoalmente uma delegada para cuidar não apenas de um, mas se todas as ações derivadas dos inquéritos ilegais e inconstitucionais que abriu.

Se Bolsonaro soube respeitar a liturgia do cargo que ocupa, Alexandre de Moraes está longe de saber o que isso significa. E quem paga o pato por isso é a instituição que ele representa, que, por acaso, é a mais alta instância do judiciário brasileiro.

Veremos em setembro, quando ele toma posse como presidente do TSE, se terá a mesma postura de ir pessoalmente entregar o convite para Bolsonaro, quando, provavelmente, já terá desencadeado diversas ações que visam tirar o presidente da disputa, pois do cargo não tem a menor chance de tirar. Enquanto isso é bom que ele tome muito cuidado com o estoque de cascas de banana que tem no seu gabinete. Uma hora pode acabar escorregando e levando um tombo fatal.

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