Brasil, o país dos Tiriricas
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Brasil, o país dos Tiriricas

Não custa lembrar que "Tiririca", antes de ser o nome de um palhaço é um termo usado na agricultura para definir uma das maiores pragas do mundo para lavouras e jardins

HS Naddeo
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Sérgio Moro, Vanderlei Luxemburgo, Deltan Dallagnol, Joel Santana
Sérgio Moro, Vanderlei Luxemburgo, Deltan Dallagnol, Joel Santana

No Brasil, todo partido procura desesperadamente um "Tiririca" para chamar de seu. Não tem jeito. E enquanto existir o absurdo quociente eleitoral, que através de uma equação sem vergonha soma votos de legenda com votos de candidatos para determinar quem será eleito nas casas legislativas municipais, estaduais e federal, partidos continuarão investindo em artistas, jogadores de futebol e esportistas em geral, celebridades instantâneas e qualquer pessoa que consiga receber votos suficientes para arrastar mais dois, três ou quatro candidatos que jamais seriam eleitos com seus próprios votos.

Tenho falado sobre os puxadores de votos com certa insistência, pela imoralidade que representa o quociente eleitoral, a antítese da democracia, uma ardil legal que atende pelo nome de "eleições proporcionais", cuja única proporcionalidade real é a de eleitores feitos de otários pensando que estão elegendo A quando na verdade estão ajudando a eleger B, C, D, todos na carona de A, porque jamais seriam eleitos se dependessem se suas próprias votações.

Como exemplo disso, uma declaração do senador Álvaro Dias deixa bem claro como a coisa funciona:

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É a isso que aceitaram se prestar os combatentes da corrupção, da política suja: puxadores de votos. E se a participação de Deltan Dallagnol nesse jogo já causa náuseas, ver Sérgio Moro mudar de partido e abrir mão de sua candidatura à presidência em troca de uma candidatura a deputado federal por São Paulo causa apenas certezas, de que, de fato, o sonho não era por um Brasil melhor, mas por um cargo que garantisse a ambos o foro privilegiado que lhes proteja da quantidade de bobagens que fizeram desde que foram alçados à condição de celebridades. Não ficarei espantado se uma hora dessas um dos dois venha a participar do BBB ou de alguma edição de A Fazenda.

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Quando chegamos em Vanderlei Luxemburgo e Joel Santana, aí nada a espantar. Faz parte do jogo de vaidades e do descompromisso com o país que esse tipo de celebridades aproveite toda e qualquer oportunidade para se dar bem. Pode ser propaganda de carro, cerveja, caderneta de poupança, jogos de azar ou um cargo federal. Por que não? O que tem a perder essas pessoas? O que tem a perder esportistas, artistas e celebridades vindas do cinema, da TV, da internet ou de algum outro submundo qualquer? Nada. Tudo é grana. Puxadores de votos ganham dinheiro para concorrer. É mais barato para um partido pagar para uma celebridade com enorme potencial eleitoral concorrer, ganhar e arrastar mais três ou quatro do que investir em campanhas sérias para estes três ou quatro não se elegerem por conta própria independente do dinheiro que se invista em seus nomes.

Se eleita, a celebridade ganha o dinheiro que levou para concorrer, um cargo, salários, benefícios, status, trabalha sob o controle remoto do partido e garante que seus colegas eleitos em dia rabeira façam o verdadeiro jogo político que suas lideranças precisam que seja feito. A celebridade vira um político decorativo, um "Tiririca" para ser mais exato.

As eleições de 2022 estarão repletas de "Tiriricas" em todos os estados, concorrendo a cargos estaduais e federais. Não será difícil identificá-los. O difícil mesmo será esclarecer os eleitores de que as celebridades que ele admira e se dispõem a votar são engodos com o objetivo de explorar exatamente essa admiração que abre mão do bom senso, da lógica e da utilidade desses personagens na vida política e no futuro do país. Não adianta criticar um "Tiririca" depois que ele já está eleito. Estará feito e lá ficará quatro anos armas contribuindo para que as coisas sejam do jeito que sempre foram. É o que farão Moro, Dallagnol, Joel Santana e Luxemburgo se forem eleitos.

Não custa lembrar que dá atual composição da Câmara dos Deputados, dos 513 apenas 27 foram eleitos com seus próprios votos. Nem o presidente da casa, Arthur Lira, teve votos suficientes para se eleger, entrou pelo quociente eleitoral. E se olharmos a lista dos 27 (aqui) veremos entre eles celebridades que pouco acrescentaram ao país nestes quase três anos e meio de mandato, mas que foram úteis para eleger outras pessoas e assim cumprir com os verdadeiros propósitos de seus partidos.

As eleições de 2022 serão excelentes para definirmos se continuaremos sendo palhaços e elegendo palhaços ou se, finalmente, tomaremos vergonha na cara e votaremos conscientes de que já passa da hora de fazer uma grande limpeza no legislativos brasileiros.

Não custa lembrar que "Tiririca", antes de ser o nome de um palhaço é um termo usado na agricultura para definir uma das maiores pragas do mundo para lavouras e jardins:

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