O que fizeram com a nossa república?
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O que fizeram com a nossa república?

Como 2000 opiniões em pesquisas eleitorais podem ter mais representatividade que milhões de pessoas nas ruas?

HS Naddeo
15 min
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Hoje, comemora-se o aniversário da proclamação da república, 133 anos, uma data em que temos muito pouco para comemorar. Como muitos sabem, mas, penso, que a maioria não sabe, porque as escolas nunca ensinaram isso, e por total falta de curiosidade dos brasileiros em geral, a proclamação da república foi na verdade um golpe de estado, destituindo a monarquia comandada por Dom Pedro II, a toque de caixa, e empossando uma junta militar que empossou o Marechal Deodoro da Fonseca como primeiro presidente do Brasil. O que muito menos brasileiros sabem é que, apesar de ter liderado o movimento que derrubou Dom Pedro II, Deodoro era amigo do Imperador e era também monarquista. Foi levado a acreditar que o movimento visava apenas derrubar o primeiro ministro e em seguida, por meio de uma mentira sobre algo que tocava uma velha ferida em orgulho, a crer que se não assinasse a carta que proclamava a república o novo primeiro ministro seria Silveira Martins, que levou a melhor na rivalidade que ambos tiveram pelo amor de uma mulher.

De lá para cá, e usando um termo bem brasileiro para definir nossa história republicana, só deu merda. Fora seis constituições desde que a república foi criada, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. A primeira durou 43 anos, a segunda só durou 3, a terceira durou 9 anos, a quarta e a quinta duraram 21 anos cada, e a última já dura 34, e é, possivelmente, a pior delas. O absurdo é que a duração média dá parcos 22 anos, o que leva a questionar como é que um país pode ter algum nível de estabilidade, ordem e progresso se não consegue ter uma constituição que dure o suficiente para criar uma cultura civilizatória no país? E se desconsideramos a constituição de 1891, que, sendo a primeira (copiada quase por completo dos princípios da constituição americana, até a bandeira foi copiada) foi a base da estruturação a república brasileira e por isso durou tanto, a média da duração das outras 5 cai para 17,4 anos, o que torna ainda mais ridícula ainda nossa história republicana.

Vale lembrar também que durante estes 133 anos, foram 45 governos e 38 presidentes que chegaram a exercer seus mandatos, dos quais, 13 deles, por motivos diversos, não completaram seus mandatos - algo como se a cada 13 anos um presidente não terminasse seu mandato. 

Primeira República

  • Deodoro da Fonseca - 2 anos e 8 dias
  • Floriano Peixoto - 2 anos e 357 dias
  • Prudente de Morais - 4 anos
  • Campos Sales - 4 anos
  • Rodrigues Alves - 4 anos
  • Afonso Pena - 2 anos e 211 dias
  • Nilo Peçanha - 1 ano e 154 dias
  • Hermes da Fonseca - 4 anos
  • Venceslau Brás - 4 anos
  • Rodrigues Alves - Morreu antes de tomar posse
  • Delfim Moreira - 255 dias
  • Epitácio Pessoa - 3 anos e 110 dias
  • Artur Bernardes - 4 anos
  • Washington Luís - 3 anos e 343 dias
  • Júlio Prestes - Não assumiu por causa da revolução de 1930

Segunda República

  • Junta militar provisória - 10 dias
  • Getúlio Vargas - 7 anos e 7 dias

Terceira República

  • Getúlio Vargas - 7 anos e 353 dias
  • José Linhares - 94 dias

Quarta República

  • Eurico Gaspar Dutra - 5 anos
  • Getúlio Vargas - 3 anos e 205 dias
  • Café Filho - 1 ano e 76 dias
  • Carlos Luz - 3 dias
  • Nereu Ramos - 81 dias
  • Juscelino Kubistchek - 5 anos
  • Jânio Quadros - 206 dias
  • Ranieri Mazzilli - 13 dias
  • João Goulart - 2 anos e 208 dias

Quinta República

  • Ranieri Mazzilli - 13 dias
  • Humberto Castelo Branco - 2 anos e 334 dias
  • Artur da Costa e Silva - 2 anos e 169 dias
  • Pedro Aleixo - eleito vice de Costa e Silva e impedido de assumir
  • Junta Militar de 1969 - 60 dias
  • Emílio Garrastazu Médici - 4 anos e 136 dias
  • Ernesto Geisel - 5 anos
  • João Batista Figueiredo - 6 anos

Sexta República

  • Tancredo Neves - Morreu antes de tomar posse
  • José Sarney - 5 anos
  • Fernando Collor de Mello - 2 anos e 269 dias
  • Itamar Franco - 2 anos e 3 dias
  • Fernando Henrique Cardoso - 8 anos
  • Luís Inácio Lula da Silva - 8 anos
  • Dilma Rousseff - 5 anos e 243 dias
  • Michel Temer - 2 anos e 123 dias
  • Jair Bolsonaro - 3 anos e 317 dias até o momento

Na primeira república, dos 15 presidentes apenas 6 completaram seus mandatos. Na segunda república e na terceira repúblicas, tivemos uma junta militar provisória, Getúlio Vargas, que concluiu como presidente eleito e no chamado Estado Novo foi deposto como ditador e José Linhares que assumiu por 94 dias após o afastamento de Getúlio. Na quarta república, de 9 presidentes apenas 2 terminaram seus mandatos. Na chamada quinta república, apenas Médici, Geisel e Figueiredo completaram seus mandatos até o fim, de um total de 8 presidentes, sendo uma junta militar. E no que conhecemos como a sexta república, após o regime militar em 1985, de 9 presidentes, apenas 3 concluíram seus governos, considerando aí a morte de Tancredo, que nem assumiu, os impeachments de Collor e Dilma e as interinidades de Itamar e Temer. E temos Jair Bolsonaro que ainda está terminando o seu período a frente do governo brasileiro. Se considerarmos apenas os 38 nomes que realmente exerceram a presidência, sem considerar juntas militares e aquelas que morreram ou foram impedidos de assumir, apenas 13 completaram seus mandatos, ou seja  34% deles. E, pasmem, 8 delas não ficaram nem um ano no cargo, dos quais 5 ficaram no máximo 90 dias.

Dois personagens foram impedidos de assumir a presidência da república. Júlio Prestes, eleito diretamente pelo povo, foi acusado de fraude eleitoral, cujo maior motivação por trás disso era a insatisfação dos mineiros com a quebra da política do café com leite, que previa, tacitamente, a troca de poder entre paulistas e mineiros, e que naquele momento deveria ser de um mineiro. Pesou também o assassinato de João Pessoa, vice de Getúlio Vargas, que assumiu a presidência após a deposição, por uma junta militar, do então presidente Washington Luís, a poucos dias faltando pouco para terminar seu mandato. Já Pedro Aleixo, que era vice-presidente da república, através do AI-12, foi impedido pelos militares de assumir a presidência após o afastamento de Costa e Silva em decorrência de uma trombose. O motivo foi que Pedro Aleixo foi contrário ao AI-5 e chegando a elaborar uma nova constituição em 1967. Mais a frente, com o AI-16, teve seu cargo extinto.

Citei acima o nomes que comandaram os considerados 6 momentos da nossa república, que são chamados de Seis Repúblicas. É difícil encontrar artigos que relatem esses períodos sem que sejam contaminados por algum viés ideológico para um lado ou para o outro, e nem é esse o meu propósito aqui. Minha pretensão é tão somente ilustrar seu imaginário com o fato de que nunca, desde que foi proclamada, vivemos um regime estável. Curiosamente, este é o momento mais estável da democracia e com a Constituição Federal mais longeva de todas. Porém, isso não se dá porque atingimos um nível de evolução no regime, e sim pela maneira como ele foi tomado e pervertido a favor de um grupo de pessoas que dele se locupleta desde que os militares saíram do poder. E para entender melhor isso é preciso entender o significado da palavra república.

  
  

O momento que vivemos hoje tem um paralelo com o impedimento da posse de Júlio Prestes em 1930. Durante os últimos 30 anos, PT e PSDB tinham um acordo tácito de revezamento do poder, tal qual era o acordo, também tácito, que mantinha mineiros e paulista no poder quase um século atrás. A diferença entre ambos é que na década de 1930 o acordo de sucessão não só era conhecido de todos os brasileiros, como endossado pelos políticos da época, motivo pelo qual houve a rebelião que resultou na revolução daquele ano com o apoio de diversos governadores. Já o acordo PT e PSDB era algo apenas entre eles, disfarçado de uma rivalidade que, na realidade, nunca existiu. Não havia conhecimento do povo, nem apoio de políticos que não faziam parte do jogo. Este acordo permitiu que os dois partidos se tornassem gigantes nacionalmente, fazendo parecer que disputavam o eleitorado, quando na verdade apenas praticavam o chamado Teatro das Tesouras, um jogo de ilusão que dividia o país enquanto os dois partidos dividiam o butim dos cofres públicos. Nunca houve rivalidade.

Hoje, sabemos que a Operação Lava Jato não nasceu propriamente do combate à corrupção liderado por paladinos da justiça, mas da vingança do PSDB pelo fato do PT ter quebrado o acordo já em 2010 quando Lula impôs Dilma Rousseff como candidata à presidência da república e trabalhou pela sua eleição em detrimento da candidatura de Geraldo Alckmin, que deveria ter sido o presidente da vez. Então, em 2014, quando Aécio Neves se posiciona como adversário de Dilma, e perde a eleição, o PSDB decidiu jogar a merda no ventilador, o que resultou no primeiro grande momento de desconfiança do processo eleitoral com urnas eletrônicas (que já existia antes muito mais como teoria da conspiração) e abriu espaço para que investigações de fatos já sabidos, mas até então camuflados, fossem postos à luz e resultassem na maior operação de combate à corrupção da nossa história, e talvez do mundo, com o objetivo explícito de punir o PT por não ter cumprido com o trato que tinha com o PSDB. O alvo era Lula, ditador do PT. E é preciso ressaltar aqui que independentemente do motivo ou da forma como a Lava Jato se desenrolou, todos os fatos, crimes e condenações são reais.

A briga e a ganância entre PT e PSDB deixaram uma brecha gigante no cenário político brasileiro, por onde entrou Jair Bolsonaro, que, de repente, sem que houvesse uma expectativa anterior, ficou gigante a ponto de não poder ser impedido nem com uma facada. Lula estava preso, PT e PSDB em total descrédito junto à população, e ambos viram o tamanho da bobagem que fizeram. Restava então unir forças novamente, nas sombras, claro, e usarem da mais pesada ferramenta que tinham produzido em seus 22 anos à frente do poder: o judiciário. Foi então que começou o desmonte da operação Lava Jato, já no governo Temer - e cabe aqui a lembrança de que o PMDB sempre foi um puxadinho tanto do PT quanto do PSDB - e que se aprofundou durante o início do governo Bolsonaro, cuja imagem começou a ser destruída e desumanizada desde o dia de sua posse, com a ajuda de outro parceiro importante do sistema corrupto, a imprensa. E, então, chegamos ao ponto de Lula ter sido tirado da cadeia para ser eleito presidente (nunca foi para concorrer), ao mesmo tempo que Geraldo Alckmin saiu do PSDB para ser vice de Lula, restabelecendo o Teatro das Tesouras em uma versão menos disfarçada, unindo os dois grupos, ou quadrilhas, para a retomada do controle do poder no Brasil.

Chegamos, assim, a eleição de Lula, lameada por graves indícios de fraude eleitoral com o favorecimento do judiciário, tanto STF quanto TSE e apoio incondicional da imprensa na desconstrução da imagem de Bolsonaro e dos feitos de seu governo, o que seria feito da mesma maneira com qualquer um que ocupasse a presidência da república que não fizesse parte da quadrilha. Bolsonaro é um empecilho maior porque realizou um governo absolutamente contrário às diretrizes da esquerda e do globalismo, representados agora por Lula e Alckmin. Além disso, Bolsonaro despertou uma nação adormecida, expondo publicamente e batendo de frente com o sistema corrupto, de tal maneira que só uma eleição fraudada seria capaz de impedir sua reeleição. E a fraude foi feita. Contudo, todos os responsáveis pelo momento mais vil da história da nossa república, estão expostos aos brasileiros, e estão sendo expostos ao mundo pelos milhões de patriotas que se negam a aceitar Lula de volta à cena do crime na companhia de Geraldo Alckmin. E, felizmente ou infelizmente para o rumo que a república e a democracia deveriam caminhar, o povo não está sozinho nessa empreitada. Mais uma vez os militares se postam ao lado e em nome da soberania do povo, que é a razão maior de sua existência.

Para quem desmerece a representatividade de tantos brasileiros nas ruas, faço um questionamento. Como pode uma pesquisa eleitoral com 2000 entrevistados em 27 estados representar o pensamento majoritário da população brasileira para a escolha de um candidato a presidente e quererem tirar a representatividade de milhões de brasileiros nas ruas dos mesmos 27 estados indignados com um resultado flagrantemente fraudado? Como 2000 opiniões em pesquisas eleitorais podem ter mais representatividade que milhões de pessoas nas ruas?

A sétima república

A história precisa sempre de correções. O ideal é que elas seja feitas dentro das normas democráticas, através dos representantes legais, das leis e da justiça. Porém, quando tudo isso falha, está podre, a correção precisa ser feita de outra maneira, caso contrário estaremos enxugando gelo. É impossível que se faça qualquer correção no Brasil utilizando para isso o sistema contaminado e apodrecido de cabo a rabo no qual vivemos. Caso Lula seja impedido de tomar posse - e, como vimos, não seria a primeira vez na nossa história republicana, e não importam os motivos - não bastará a realização de uma nova eleição ou o eventual reconhecimento da vitória de Bolsonaro (eu, pessoalmente, sou a favor de uma nova eleição). O Brasil precisa refundar a república sobre outras bases. É necessário que seja feito um grande expurgo na política, no judiciário e uma revisão profunda do nosso pacto federativo e do pacto fiscal, que são os grandes geradores do caos econômico e político dos quais desde 1989 não conseguimos nos livrar. O Brasil precisa de uma nova perspectiva de futuro, o que é impossível se ficarmos só remendando a constituição com reformas e emendas sem resolver o cerne da questão. E é por isso que temos que lutar, pelo Brasil, pelo futuro do país e da nação, e não apenas por esse ou aquele, ou contra esse ou contra aquele.

A eventual posse de Lula é o fim do Brasil, e o fim da república, pois ela, pouco a pouco, e em pouco tempo, será substituída por uma ditadura socialista tal qual já acontece nos países vizinhos, algumas já consolidadas e outras em andamento. E se nada mudar até o dia 31 de dezembro de 2022, aqui no Brasil será mais rápido do que está sendo na Argentina, por exemplo. O apodrecimento da estrutura do poder já corroeu todas as bases da república e agora, pelas mãos do judiciário, está corroendo rapidamente a democracia. Estamos a um mês e meio da nossa liberdade ou de uma ditadura vingativa que será comandada pelo maior bandido que já passou pela nossa história desde o descobrimento, aliado a um ladrão de merenda que representa interesses internacionais e globalistas que nada tem a ver com o que deseja o povo brasileiro. Nossa única arma é permanecer na rua e pedir socorro a única instituição que não foi corrompida com profundidade, apesar da quantidade de melancias que, sabemos, já existe dentro dela. E são elas, as Forças Armadas, a única barreira que nos separa do destino que tiveram as populações dos países vizinhos. Só temos a elas e nossas vozes.

Que não pensem os amigos que será fácil. Não importa o resultado das nossas manifestações, teremos tempos difíceis pela frente, sejam a nosso favor ou contra nós. Nem nós aceitaremos um bandido subindo a rampa do Planalto para voltar à cena do crime, nem eles aceitaram que ele seja impedido de subir. Não será um embate que ficará restrito à retóricas de lado a lado. Será algo muito mais duro. Se a nosso favor, o provável, no meu entendimento, é que entendamos o motivo pelo qual Fachin proibiu a polícia de fazer operações nas favelas do Rio de Janeiro, o motivo pelo qual na semana passada Barroso inventou um impedimento para dificultar a retomada de área invadidas pelos sem terra, sanções e represálias internacionais ordenadas por globalistas com as mãos coçando para se apropriarem das nossas riquezas, desabastecimento, inflação, mas que passarão assim que as coisas começarem a entrar nos seus lugares. Mas, se o destino nos reservar Lula na presidência, também entenderemos os motivos das decisões de Fachin e Barroso, só que contra nós, e sem termos como reagir. Não veremos sanções internacionais, no entanto, em troca, veremos os globalistas vindo aqui tomando conta de suas partes. Também haverá desabastecimento e inflação. E nada disso terá volta, tão cedo, e cuja recuperação, se possível, será às custas do sangue da nossa gente.

Penso que, se visse o Brasil de hoje, Deodoro diria: que merda eu fiz!


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