Motoqueiros, entregadores e ladrões. Quem é quem?
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Motoqueiros, entregadores e ladrões. Quem é quem?

...eles se disfarçam de entregadores, transformando os entregadores honestos não apenas em suspeitos, mas também em vítimas...

HS Naddeo
5 min
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Antigamente existia um slogan de campanha de conscientização sobre responsabilidade no trânsito que dizia "não faça do seu carro uma arma, a vítima pode ser você". Já passa da hora de falar das motos, elas foram transformadas em armas, contra os usuários e contra as pessoas.

Nada mais justo que a locomoção e o ganha pão de milhares (ou até milhões) de brasileiros seja garantido pelo uso responsável de motos, mas para o bem. Mas estamos em um limite complicado que carece de uma reavaliação drástica pelos órgãos de trânsito e, especialmente, pelas forças de segurança.

Qualquer um que fizer uma busca rápida no YouTube encontrará dezenas de vídeos em sequência mostrando assaltos praticados por motoqueiros, assim como outras dezenas de vídeos mostrando policiais perseguindo assaltantes em fuga usando motos. Para piorar a vida do cidadão e da polícia, agora eles se disfarçam de entregadores, transformando os entregadores honestos não apenas em suspeitos, mas também em vítimas. A moto e caixa de entrega usadas pelos entregadores se transformaram em objetos de cobiça dos ladrões. Quando estamos na rua, não sabemos mais quem é quem. E mesmo quando queremos alguma coisa ficamos o receio de pedir e a dúvida e o medo ao receber o pedido.

Essa é a face mais grave da situação, mas há outras que também precisam ser observadas. Motoqueiros não respeitam as leis de trânsito. Não existem sinais vermelhos para motoqueiros, não respeitam a mão de direção das ruas, atravessam canteiros, passeios e passarelas destinados a pedestres com suas motos, ultrapassam por qualquer lado, inavadem faixas de pedestres, param em qualquer lugar, agridem mostoristas, chutam carros, quebram retrovisores.

Não é possível que as autoridades de trânsito e de segurança não tenham pensado até hoje em fórmulas para inibir tantos descasos com as leis civis, criminais e de trânsito. É inconcebível que legisladores municipais, estaduais e federais não tenham preocupação e urgência com essa situação e se contentem com a indústria de multas como compensação, sendo que muitos radares sequer são capazes de multar motos.

Em nenhum momento me refiro aos motociclistas, uma categoria que usa suas motos apenas para locomoção e lazer e, em geral, respeita as leis de trânsito. Pessoas de bem que acabam também sendo vítimas dos ladrões atrás de suas motos para a prática de crimes.

Tenho aqui algumas singelas sugestões que, se não eliminam, poderiam reduzir arbitrariedades e criminalidade, além de facilitar a fiscalização pelas autoridades.

1 - Criar um segmento de habilitação profissional para motoqueiros de entregas. Se quiser trabalhar com entregas deverá se habilitar para tal, mesmo que seja um tipo de registro sem custo para que esse contingente seja identificado (um processo complexo por se tratar de alteração no código nacional de trânsito e que depende não apenas da boa vontade de legisladores como também das autoridades de trânsito).

2 - Proibir duas pessoas em motos de entrega. Este trabalho é individual. O entregador poderá portar a mochila de entrega ou o baú da moto, sem a hipótese do carona em hipótese alguma. Se for pego desrespeitando a lei, a moto e a habilitação deverão ser apreendidas.

3 - Registro e identificação das motos como veículos de entrega. Tal qual as cidades fazem com os táxis, motos de entrega teriam uma cor específica.

4 - Instalação obrigatória de rastreadores em todas as motos de entrega, um tipo que fosse possível de ser rastreada pela polícia e cujo funcionamento do rastreamento possibilitaria a verificação em uma blitz ou perseguição policial, além de registrar todo barbaridades como andar na contramão.

5 - Responsabilização das empresas contratantes e das plataformas de entrega pelo vandalismo praticado pelos motoqueiros de entrega no trânsito. Toda infração geraria multa para o dono da moto/usuário, dono do estabelecimento cujo produto está sendo entregue e para a plataforma que gerou o pedido.

Esse é um olhar dos fatos na condição de cidadão, o que faz destas sugestões, talvez simplórias e carecendo de aprofundamento até para se chegar à conclusão se são viáveis. Mas, no momento em que bandidos circulam em bando travestidos de entregadores, achacam os cidadãos com suas motos em cima das calçadas, se utilizam da ingenuidade das pessoas para invadirem casas, edifícios e condomínios, algo precisa ser feito com muita urgência. Não dá mais para não tratar desse assunto com a relevância que ele, de fato, tem.

https://youtu.be/p1OFitC5AsE

É bom que se diga que a quantidade de motos de baixa cilindrada que circulam pelo Brasil são um sinônimo de país pobre. O baixo custo da moto possibilita a locomoção e o trabalho de milhares ou milhões de pessoas, não é uma mera questão de opção, mas de necessidade e possibilidade.

Ainda somos um país carente de civilidade plena, mas sabemos que esse é um processo longo que envolve muitas outras coisas. Entretanto, se nesse caso das motos nada for feito com alguma urgência, tanto na questão trânsito como na questão segurança/criminalidade, em breve veremos simulacros dos coletivos venezuelanos circulando pelas ruas, ou seja, viveremos uma verdadeira guerrilha urbana dominada pelo crime.

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