ANAMNESE
ANAMNESE | ||
O papel dos profissionais de saúde é colocar o seu conhecimento e treinamento à disposição dos pacientes, a fim de avaliar o seu estado de saúde e contribuir para restabelecê-lo quando necessário. Para que este propósito seja alcançado, é necessário que o processo diagnóstico seja conduzido da forma apropriada, sendo este baseado no EXAME CLÍNICO. | ||
Define-se exame clínico como conjunto de procedimentos que devem ser realizados de forma disciplinada com o objetivo de chegar ao diagnóstico. | ||
A avaliação do paciente começa quando este é chamado e para a consulta. Neste | ||
Neste momento,começamos a analisar a forma do paciente andar e se expressar, o que, em alguns casos, já nos dá informações importantes a respeito do seu estado de saúde e que pode, portanto, influenciar o nosso diagnóstico. Apenas com um exemplo, uma dificuldade de locomoção pode sugerir um acidente vascular cerebral (AVC) recente, sendo esta uma de várias situações que repercutem na forma como o tratamento odontológico deve ser oferecido a este paciente. | ||
ETAPAS DO EXAME | ||
O exame clínico tem dois momentos: | ||
Anamnese ou entrevista dialogada & Exame físico | ||
ANAMNESE | ||
A anamnese é a etapa onde, por meio de uma conversa orientada a partir de alguns tópicos,obtemos informações relacionadas à história de vida do paciente e os aspectos subjetivos ( informações relacionadas à doença que não podem ser mensuradas, aquelas que ficamos sabendo a partir do relato do paciente. Ex.: dor, coceira, ardência, etc.) relacionados à doença em questão. Pode ser definida como ponto focal da relação profissional-paciente, a partir da qual se estabelece a conexão pessoal que vai ser muito importante para que exista uma relação de confiança entre o paciente e o profissional. | ||
Neste primeiro momento, a proposta é estabelecer uma conversa com o paciente, evitando uma sequência de perguntas evasivas que acabam assumindo caráter de interrogatório. Para tirar esse caráter de interrogatório, alguns autores têm preferido o termo “entrevista dialogada”, tentando chamar atenção para que esse momento de conversa com o paciente não seja tão mecânico. | ||
Deve-se evitar o questionamento pontual a respeito de cada órgão ou sistema (Você tem problemas no sistema respiratório? No sistema nervoso? Gastrointestinal?) Alguns aspectos práticos relacionados ao espaço e ao momento da consulta devem ser considerados. Esta deve ser realizada em um espaço que permita privacidade, calma, conforto e ausência de interrupções. Recomenda-se que os interlocutores (paciente e profissional) se sentem no mesmo nível para facilitar o contato visual frente a frente. Nesta fase inicial do exame, o profissional deve estar sem máscara. | ||
É importante que não haja pressa na condução da entrevista e que transpareça para o paciente que o profissional está realmente preocupado com seu estado de saúde. Nesse sentido, expressões de aborrecimento, julgamento, impaciência e espanto devem ser evitadas. | ||
Muitas vezes, boa parte do tempo de consulta é dedicado a esta etapa do exame, visando a obtenção do maior número de informações possível. A informação obtida na anamnese pode mudar completamente o nosso palpite diagnóstico. | ||
Recomenda-se que uma ficha de exame seja utilizada para ordenar os tópicos a serem incluídos na avaliação. Essa deve ser preenchida da forma mais completa possível. Respostas negativas devem ser apontadas de forma explícita. Por exemplo: se o paciente não tem histórico de alergia, deve-se colocar no tópico alergia: “Nega alergias”. Neste caso, o espaço deixado em branco pode ser interpretado como“essa pergunta não foi realizada. Um espaço vazio ou com um traço não deixa claro se a pergunta foi feita ou se a resposta foi “nunca tive”. Deve-se seguir esse princípio para todos os campos presentes na ficha. | ||
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO | ||
A primeira parte da ficha diz respeito aos dados de identificação do paciente, como nome, números de contato telefônico, endereço, idade, sexo, raça e ocupação. É interessante registrar mais de um número de telefone do paciente para que não se perca o contato em função de uma troca de número. | ||
Se o paciente for aposentado, registrar a ocupação anterior, pois, se isso não for feito, pode-se perder a informação de exposição a um fator de risco associado a determinadas ocupações, por exemplo: exposição solar em pacientes que trabalharam expostos ao sol durante 20, 30 anos, o que está associado à queilite actínica, importante desordem potencialmente maligna. | ||
Por isso, ainda que a principal preocupação da coleta destas informações iniciais seja administrativo,dados de idade, cor da pele, ocupação e sexo podem favorecer determinadas possibilidades no momento da elaboração de hipóteses de diagnóstico, pois algumas lesões apresentam um padrão muito típico de apresentação. Uma situação que pode ser citada é o líquen plano, doença que é identificada com mais frequência em mulheres com mais do que 40 anos. | ||
EXAMES FÍSICOS DA CAVIDADE BUCAL E MAXILOFACIAL | ||
- Inspeção: Coloração, mobilidade, secreções, presença ou não de dentes, sangramento. | ||
- Palpação: Visa obter a consistência das estruturas | ||
- Percussão: Analisar comprometimentos pulpares, contats prematuros, pericementites; | ||
Auscultação: Avaliação de ATM; | ||
QUEIXA PRINCIPAL | ||
HISTÓRIA DA QUEIXA PRINCIPAL (OU HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL) | ||
Registro do motivo pelo qual o paciente procurou o profissional. Essa informação deve ser registrada nas palavras do paciente para não sofrer influência da interpretação do profissional. Não há preocupação com a utilização de termos técnicos. Caso haja desconforto por parte do profissional em função do uso de palavras que não condizem com o vocabulário mais técnico, o relato pode ser colocado entre aspas (Por exemplo: “o médico viu uma lesão branca na minha boca e disse para eu consultar um dentista” ou “tenho uma ferida na língua que dói e sangra”. | ||
Quando o paciente relata algo que nos parece estranho, duvidoso, conflitante ou incoerente, podemos utilizar o acrônimo “sic” entre parênteses ao final da sentença. Um exemplo ilustrativo para esta situação poderia ser o caso de uma lesão muito grande (4cm) em que o paciente refere um tempo de evolução curto. Ex.: “essa ferida surgiu há 4 dias” (segundo informações colhidas - sic). | ||
Em casos onde o paciente tenha percebido o problema que motivou a consulta, podemos direcionar as informações a respeito da evolução da lesão ou doença desde o seu aparecimento. Esse detalhamento maior conduzido pelo profissional que está realizando o tratamento chama-se | ||
HISTÓRIA DA QUEIXA PRINCIPAL ou HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL. | ||
Trata-se de um aprofundamento do que obtivemos na queixa principal que pode ajudar bastante na elaboração das hipóteses de diagnóstico. Nessa abordagem, estimulamos o paciente a dar detalhes sobre a doença como se fosse uma narrativa, desde o momento que a condição apareceu, registrando o tempo de evolução, como foi modificando, se existia sintomatologia em algum momento, como foi o desenvolvimento, se houve melhora, piora ou se manteve da mesma maneira ao longo do tempo e tratamentos que tenham sido feitos por algum colega, e qual foi a resposta observada frente aos mesmos. Esses são pontos importantes que devem ser registrados de maneira muito clara. | ||
● Data dos primeiros sinais e sintomas: a partir dessa informação, podemos definir o tempo de evolução da doença; | ||
● Descrição dos primeiros sinais e sintomas: lembrando que sinais são as manifestações objetivas, mensuráveis, visíveis (alteração de cor, volume, aumento da temperatura local) e que sintomas são as manifestações subjetivas, não mensuráveis diretamente, aquelas que se baseiam no relato do paciente (dor, ardência, perda de sensibilidade); | ||
● Caracterização da sintomatologia: quando falamos de sintomas, pensamos em dor em primeiro lugar. As características de percepção deste sintoma como periodicidade (Ex: “faz 6 meses que sinto essa ardência na língua”, frequência Ex.: “percebo essa sensação de inchaço todos os dias), alívios (Ex.:“a dor de dente diminui quando coloco água gelada na boca”) e agravamentos (Ex.: a dor piora se como algo quente); | ||
● Desenvolvimento: como a doença foi se modificando (evoluindo) desde o seu surgimento. Tumores (também chamados neoplasias) costumam crescer de forma ininterrupta enquanto doenças inflamatórias podem apresentar momentos de melhora e piora; | ||
● Tratamentos realizados e seus resultados: por conta própria ou recomendados por outros profissionais; | ||
● Exames complementares realizados e seus resultados: exames solicitados previamente podem trazer informações que contribuam na nossa formulação de hipóteses; | ||
● Estado atual da doença: qual a situação do paciente no momento da consulta. Ex.: “Ah doutor,nessa última semana aliviou um pouco. Parece que está desinchando. | ||
HISTÓRIA BUCO-DENTAL OU HISTÓRIA ODONTOLÓGICA | ||
Nesta parte da anamnese, vamos registrar como foram as experiências anteriores do paciente com outros cirurgiões dentistas, que tipo de tratamento ele realizou, motivos que possam ter levado a perda dos dentes (se os tiverem perdido) e se a causa disso foi cárie, doença periodontal, se o próprio paciente achava que o dente não servia pra nada, e tudo isso vai compondo o perfil do paciente, sua suscetibilidade a determinadas doenças, suas crenças com relação a saúde e a doença, situações que devem ser valorizadas e nos ajudando a planejar a abordagem que será utilizada para explicar os diagnósticos e tratamentos a serem realizados. | ||
HISTÓRIA MÉDICA | ||
Consiste na descrição das doenças atuais e anteriores que o paciente apresentou, bem como cirurgias realizadas, alergias que apresentou, acidentes que teve. Todo tratamento atual ou anterior deve ser descrito. | ||
Sabe-se que muitas lesões que aparecem na boca são doenças específicas dessa região topográfica,ou seja, são lesões isoladas, mas em outros casos a alteração percebida na boca representa a manifestação bucal de uma doença geral (sistêmica). | ||
Anamnese dirigida | ||
Na consulta inicial, quando o paciente relata alguma doença de ordem sistêmica, a anamnese deve ser dirigida ou direcionada ao problema, por meio de ao menos quatro perguntas. | ||
1. Como está o controle atual da sua doença? | ||
Por meio dessa pergunta, são obtidas informações sobre a adesão do paciente ao tratamento, mostrando se tem obedecido às recomendações médicas e comparecido regularmente às consultas de retorno. | ||
2. Você faz uso diário de algum medicamento? | ||
O objetivo dessa questão é saber se o paciente faz uso de medicação de forma contínua e especificar quais são esses medicamentos, para se evitar interações adversas com fármacos empregados na clínica odontológica. | ||
3. Você passou por alguma complicação recente? | ||
Talvez essa seja a mais importante das quatro perguntas. Na anamnese de um paciente que relata história de distúrbios convulsivos, é preciso saber quando ocorreu a última crise, pois um episódio recente de convulsão pode indicar falta de controle da doença. Em outro exemplo, pacientes acometidos de infarto do miocárdio devem ser investigados quanto à ocorrência recente ou repetitiva de dores no peito, que podem caracterizar nova obstrução das artérias coronárias. | ||
4. Você tomou sua medicação hoje? | ||
Não é raro um paciente deixar de tomar sua medicação para o controle da pressão arterial ou o hipoglicemiante oral (ou insulina) para o controle do diabetes, por ocasião das consultas odontológicas. Portanto, essa pergunta deve ser considerada em todas as sessões de atendimento e não apenas na consulta inicial. |