Microgestão numa Macro Empresa - [Relato Pessoal]
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Microgestão numa Macro Empresa - [Relato Pessoal]

O paternalismo na gestão de equipes é tão nocivo quanto o "feedback sanduíche"

Ramon Penteado
4 min
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Com tantos termos relacionado à gestão de pessoas, fica até difícil manter-se atualizado para saber exatamente o que cada um significa. Mas, microgestão costuma ser um consenso ao causar arrepios, tanto para funcionários quanto para gestores.

Quem nunca, durante um feedback dado por um gestor, ouviu um "Fulano, não estou fazendo microgestão aqui mas, você poderia prestar mais atenção na fonte que você tem usado em seus relatórios?", ou "Sicrano, não estou fazendo microgestão mas, se você estiver com alguma dificuldade na suas tarefas, pode me avisar, Ok? Estou aqui para somar.".  Temos ainda, fora do feedback, o famoso: "Beltrano, como você está executando sua tarefa? Vi que você está fazendo assim. O que você acha de fazer assado?".

Todas estas frases tem sua "microgestão" travestida de solicitude (excesso de zêlo) mas, na verdade, é um paternalismo castrador e devastador.

- Qual o problema do gestor pedir para que eu altere a fonte do meu relatório? 

Na verdade nenhum. O problema é a forma. A forma faz toda a diferença.

Se isso for uma norma da empresa, bastaria que ele dissesse para você observar-la e alterar a fonte. Se fosse um desejo pessoal dele - e não teria qualquer problema, já que ele é o chefe - bastaria dizer que ele prefere que você altere a fonte. 

Porém, quando o gestor inclui este "cuidado" em suas falas, gera uma relação de dependência com o subordinado. A preocupação deixa de ser com a qualidade do relatório, ou com a velocidade da entrega, e passa a ser com a perfumaria observada pelo chefe. Gera-se um pensamento de "necessidade de agradar" inconsciente. Logo, a frase mais ouvida será: "Vamos fazer assim porque o chefe prefere".

- Tudo bem. E qual o problema do gestor oferecer ajuda, ou sugerir uma outra forma de fazer uma atividade? Afinal, ele é mais experiente.

Novamente: Nenhum problema. Mas a forma faz toda a diferença.

Se a questão é oferecer ajuda, seja qual for o motivo - afinal, ele, de fato, pode ter observado que você está com alguma dificuldade - basta dizer: "Sicrano, você já ouviu falar em Ferramenta X? Pode ser que te ajude nessa tarefa." ou "Fizemos um trabalho semelhante ao seu no passado. A documentação está em tal lugar. Dê uma olhada, pode te ajudar".

Conseguem perceber a diferença? Que a forma de falar transforma um paternalismo chato em uma liderança genuína? Um gestor quer ter certeza do resultado, não do caminho. Claro que, via de regra, se você controla o caminho, você controla o resultado mas, já parou pra pensar que, ao trabalhar com seres humanos e a infinidade de conhecimento que cada um carrega, diferentes caminhos podem levar a resultados ainda melhores?

Se o gestor controla o caminho, ele impede que inovações revolucionárias aconteçam. O gestor deve deixar claro qual o resultado esperado e supervisionar para que não se perca o alvo. Porém, ao transformar uma trilha em um trilho, a equipe também é transformada de grupo, para locomotiva. E a verdade é que nenhum ser humano quer ser tratado como máquina.

Pior ainda é não ter liberdade para execução.

Normalmente, este gestor paternalista, vai executar todas as atividades importantes. "Precisa enviar um email para o superior? Deixe que eu envio", "Precisa falar com um cliente importante? Eu falo", "Precisa fazer uma implantação crítica de sistema? Eu faço".  Os subordinados deste gestor estão condenados a serem crianças da 4a série o resto de suas vidas, se não sairem imediatamente de sua tutela.

Mas vejam: Liberdade para trabalhar não significa que o gestor/líder deve ser o "amigão". O limite - ainda que dentro do trabalho apenas - é fundamental para que se estabeleça uma relação de confiança. Aliás, um grupo só é formado quando existem pares e líderes e quando os pares, entre si, conseguem trazer soluções aos líderes que as aprovam. Logo, é importante a diferenciação de posições. O que não quer dizer, também, que o gestor deve ser "o chato". Mas liderança não é paternalismo nem complacência. 

- Mas e a Macro Empresa que você falo no título? 

Calma. Esse assunto é extenso e o paralelo com a "Macro Empresa" ficará para o próximo post. 

Mas me conte ai, se você já trabalhou com um gestor paternalista.

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