Não menospreze o Natal - [Um relato pessoal]
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Não menospreze o Natal - [Um relato pessoal]

Eu nasci num lar cristão.

Ramon Penteado
4 min
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Eu nasci num lar cristão.

Bem, minimamente poderia dizer que nasci num lar "crente". Demorei um bocado para compreender o que, de fato, significava "Ser Cristão". Mas isso é um outro assunto.

Apesar do cristianismo, a religião que professávamos não considerava o Natal como uma data de comemoração religiosa. Cresci dizendo que não comemorava o natal e batia no peito dizendo que o dia 25 de dezembro não era o dia do nascimento de Cristo. Alegava que isso era uma invenção comercial e me sentia muito superior às pessoas que - religiosamente - celebravam esta data.

Achava mais correto quem apenas se juntava para um jantar ou um almoço do que aqueles que aguardavam a meia-noite para, após uma oração, comerem a ceia: "Pelo menos não sucumbem a uma mentira".

Esse senso de superioridade espiritual era algo incentivado por setores da comunidade religiosa que frequentava. Não havia uma luta para ser um cristão melhor, mas sim para ter menos defeitos a serem apontados do que o meu irmão. Não era uma luta por espiritualidade e subserviência a Deus. Era uma luta por uma exaltação proveniente de uma pseudo-humildade que, na prática, não existia.

E foi nessa tônica que cresci. Olhando de cima para baixo aqueles que, no meu parco entendimento, julgava menor que eu.

Foi após um longo período de turbulências que minha mentalidade sobre estes temas - e aqui me aterei apenas ao Natal - mudou completamente.

Quando você é alcançado pela misericórdia divina que te retira de um buraco profundo de dores, angústia, anseio pelo fim e caminhos tortuosos, você é agraciado com a capacidade de perceber o real significado das coisas, boas ou ruins. Foi isso que aconteceu comigo.

Somente após alguns anos vivendo debaixo de erros, transgressões, anos que retiraram completamente minha identidade, que demonstraram da maneira mais clara possível que eu não era nem de longe o "espiritual" que acreditava ser, foi que entendi que, na verdade, o errado era eu.

Sim. Cristo pode não ter nascido dia 25 e, a origem da data pode ser qualquer uma. Pode ser até que o vermelho tem algum significado marqueteiro subliminar. Mas quem permitiu que tudo isso fosse de fato verdade? Eu. Foram os meus julgamentos que tornaram o Natal uma data comercial.

Por qual motivo - real - eu me recusava a utilizar este momento para meditar em quão grande misericórdia Deus teve por nós ao enviar seu filho para nos salvar? Por que diminuir quem dedicava aqueles momentos para sacramentar uma ceia? Onde encontro necessidade de, após desprezar a data, me entregar à glutonaria apenas como "protesto" ao que acreditava ser uma mentira? 

Não há resposta para essas perguntas e, hoje, olhamos o quão distante estamos de enxergar qualquer um que se lembre do porquê do Natal. Como cristãos, reclamamos da situação da juventude, reclamamos das novelas, reclamamos das músicas: "O mundo está perdido". "Vamos boicotar o Porta dos Fundos". Sim. Mas quem deixou de fazer a sua parte em perpetuar e fortalecer a liturgia cristã? Quem construiu muros intransponíveis entre diferentes denominações religiosas? Quem rotulou superioridade espiritual entre Católicos e Evangélicos?

Tenho certeza que não sou o único cristão responsável pelas batalhas espirituais perdidas nos nossos dias atuais, afinal, quando foi a última vez que você exaltou a Deus na frente de alguém "não religioso"? Um simples "graças a Deus", substituímos por um "que sorte".

Hoje, dia 24 de Dezembro de 2021, eu farei uma ceia com a minha esposa, e utilizaremos este momento para meditar no significado da data. O significado que EU quero que ela tenha. Não me importam os presentes, o Papai Noel, as bebidas, as comidas. É bom que se tenha isso. Mas é fundamental que não permitamos que o significado desta data seja diminuído. 

Não existe motivo algum que justifique não utilizar este dia para lembrar que "Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna" João 3:16.

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