Augusto Roa Bastos: o mais notável ainda é invisível
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Augusto Roa Bastos: o mais notável ainda é invisível

Tendo ganhado o Prêmio Cervantes em 1989 — o prêmio mais importante da literatura de língua espanhola —, teve suas obras traduzidas em, no mínimo, vinte e cinco idiomas; Augusto Roa Bastos é considerado como o autor mais importante do Paragua...

Coletivo de Escritores Brasiguayos Ore Rohai
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Tendo ganhado o Prêmio Cervantes em 1989 — o prêmio mais importante da literatura de língua espanhola —, teve suas obras traduzidas em, no mínimo, vinte e cinco idiomas; Augusto Roa Bastos é considerado como o autor mais importante do Paraguai e um dos mais destacados da literatura latino-americana, e mesmo assim possui tão pouco reconhecimento no âmbito literário.

Mas antes de que trabalhemos em cima da literatura paraguaia, há a necessidade de conhecermos um pouco sobre o período de produção das suas principais obras, Hijo del Hombre (1960) e Yo el Supremo (1974).

Escritor paraguaio em exílio

O Paraguai não é um país muito reconhecido pela sua literatura porque ele vive a formação de suas primeiras escolas literárias de uma maneira semelhante a quando no Brasil vivenciamos o quinhentismo e o barroco — a dita literatura no Brasil, e não literatura do Brasil —, há uma 'literatura no Paraguai', mas não existe uma 'literatura do Paraguai', e com isto acabamos abrindo um tópico que será explorado em textos futuros, a ideia de "há a literatura no Paraguai, mas não existe a literatura do Paraguai" é algo presente e muito debatido dentro da academia no país, e um dos argumentos para a defesa desse pensamento é por conta de alguns fatores históricos relacionados à produção literária do país.

Roa Bastos tem um pequeno histórico de produção literária ainda em terras paraguaias que data desde o início de sua adolescência, mas seu grande reconhecimento enquanto escritor vem com a sua escrita em exílio durante o Stronato, quando é ordenada sua prisão pelo escritor, e então ministro da fazenda da época, Juan Natalício Gonzales — alguns historiadores especulam que a ordem de prisão de Roa Bastos surgiu por conta de uma desavença que Gonzales tinha com Roa Bastos, isso se baseia em como Roa Bastos criticava duramente o governo da época, criticava os textos não ficcionais de Gonzales, e não o cumprimentou em um evento em que os dois estiveram presentes.

Considerando que Augusto teve sua prisão decretada, evitou ser preso, e partiu em exílio, as grandes obras produzidas por ele foram escritas em Buenos Aires, até que ele se exilou, pela segunda vez, em Toulouse, na França, após o golpe de estado de 1976 na Argentina ocorrer e o então líder do executivo, Jorge Rafael Videla, proibir o livro mais famoso e notável de Roa Bastos, Yo el Supremo.

Sobre suas grandes obras: Hijo del Hombre e Yo el Supremo

Hijo de Hombre

Já em exílio, após ter um pedido de prisão expedido por Gonzales, Roa Bastos publica sua primeira novela em Buenos Aires. Em Hijo de Hombre (Filho do Homem, em português), onde temas já explorados por Roa Bastos em escritos anteriores são retomados sob uma outra perspectiva: a violência do homem para com o homem. Com dois narradores, que alternam entre os nove capítulos da obra, o livro segue uma estrutura episódica, definida por Méndez-Faith (1985) como uma obra constituída por “Episódios significativos (da história nacional) aparecem evocados ou vividos ao longo da novela onde se situam dividindo a narrativa em uma série de ciclos históricos — não necessariamente situados de forma cronológica já que, ao adquirir estes o valor simbólico, perdem seu elemento temporal específico — com um denominador comum: um grande saldo de sofrimento humano, de morte y destruição mas com a esperança renovada, em todos os casos, de que o futuro trará as mudanças necessárias”. O filme teve a adaptação do seu oitavo capítulo no filme argentino ‘La Sed’ de 1961, que teve o roteiro escrito pelo próprio Roa Bastos.

No Brasil foi publicado pela editora Civilização Brasileira em 1965, não recebeu reedições até hoje da editora e tampouco outra editora se dispôs a realizar uma nova edição.

Yo el Supremo

Em Yo el Supremo (Eu o Supremo, em português), quem introduz o leitor ao enredo da novela é ninguém mais, ninguém menos que o próprio Dr. Rodríguez Gaspar de Francia — ditador perpétuo do Paraguai —, que segundo Méndez-Faith (1985) “Obtém-se sucesso fazendo com que o próprio ditador produza o texto da novela. Roa permite com que ele enfrente os diversos documentos y lendas sobre ele que foram escritas durante o curso dos eventos históricos. Transforma então o doutor Francia em autor e juíz de seus própios atos, defensor de sua política contra as acusações de futuros historiadores e juiz implacável das corrupções e política entreguista de seus sucessores, em especial da atual ditadura.” (tradução nossa). Roa Bastos o utiliza como um símbolo nacional, transformando-o em uma figura mitológica e deixando cada vez mais marcado no consciente nacional o seu legado na história do país. Trabalhando com a relação do poder — e em certo ponto as relações de poder entre os falantes dos principais idiomas falados no país: o espanhol e o guarani —, Eu o Supremo tece diversas críticas a Alfredo Stroessner, o ditador paraguaio da época em que Bastos publicou o livro. A reação do governo paraguaio da época não foi positiva, e Bastos foi declarado persona non-grata, sendo proibido de retornar ao seu próprio país.

No Brasil foi publicado pela editora Paz e Terra em 1977, não houveram novas edições até o ano de 2022, onde a editora Pinard realizou uma nova edição da obra

Conclusão

Roa Bastos é certamente um dos autores mais notáveis, que trás diversas críticas políticas em suas obras, porém não tem grande parte do devido reconhecimento que merece. Isso pode dar-se ao fato de que é um escritor de origem paraguaia, como também pode ser o fato de que a literatura classificada como 'latino-americana' raramente possui o mesmo apreço que a literatura produzida no eixo EUA-Europa, mas o talvez fica a questão de que com o tempo haverá um resgate maior de autores clássicos, como Roa Bastos, que por muito tempo ficaram esquecidos e em um futuro próximo podem ter o seu devido reconhecimento.

Referências:

Nota da equipe do Coletivo: Os seguintes link referem-se a todo o material utilizado para realizar as consultas, assim como redigir o texto acima. Não seguimos o padrão de referência ABNT pois achamos que nos nossos textos é bem mais interessante e importante a divulgação de literatura, cinema e pesquisa produzida no Paraguai e no Mato Grosso do Sul, logo, se pudermos deixar a maior quantidade de material disponível, nós iremos disponibilizar a vocês.

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https://es.wikipedia.org/wiki/Augusto_Roa_Bastos

https://en.wikipedia.org/wiki/Hijo_de_hombre

https://en.wikipedia.org/wiki/I,_the_Supreme

https://es.wikipedia.org/wiki/Hijo_de_hombre_(pel%C3%ADcula)

https://cvc.cervantes.es/el_rinconete/anteriores/octubre_04/06102004_02.htm#:~:text=La%20literatura%20paraguaya%20es%20una,convulsiones%20pol%C3%ADticas%20acaecidas%20desde%20entonces