"No hay historia muda. Por mucho que la quemen, por mucho que la rompan, por mucho que la mientan, la historia humana se niega a callarse la boca" Eduardo Galeano
"No hay historia muda. Por mucho que la quemen, por mucho que la rompan, por mucho que la mientan, la historia humana se niega a callarse la boca" Eduardo Galeano |
Não há história muda. Destaco essa frase da citação do Eduardo Galeano que encerra o filme Mães Paralelas, de Almodóvar. O enredo do filme, me parece, é tecido de duas formas distintas, porém paralelas...a história política da Espanha, marcada pelos desaparecimentos e assassinatos cometidos pelo fascismo e a história de duas mulheres, que dão à luz no mesmo dia, Janis e Ana. Janis busca dar voz à sua própria história familiar, orientada pelo desejo de desenterrar uma área de sua cidade natal, um local conhecido pelos moradores como uma espécie de vala do fascismo. Ali estariam muitos homens da cidade, inclusive o bisavô de Janis. A história é falada na cidade e transmitida entre as mulheres, que relatam o desaparecimento de seus pais, avôs, bisavôs, carregados de seus traços singulares: um olho de vidro, um chocalho de bebê, um par de botas. |
A história falada de Janis nos faz entrever uma série de mulheres que se tornam mães solteiras, destino que a própria Janis localiza também como o seu. Há, contudo, uma dupla contingência: dois partos que ocorrem no mesmo dia, dois partos, enfim, de duas meninas. Janis e Ana, ambas, se tornam mães de suas filhas, cada uma à sua maneira e com as questões próprias que mobilizam a cada uma. Contudo, é a constatação de um traço infamiliar em sua filha que leva Janis a um certo percurso, não sem sofrimento, marcado pela vontade de saber sobre a história e origem de sua filha. O enredo se tece em torno disso que se transmite, das histórias e das origens, mas também da possibilidade de construir algo novo a partir de sua própria história. Em uma cena bastante interessante, Janis retorna à sua cidade e escuta as histórias dessas mulheres que narram os desaparecimentos de seus familiares. A escuta de uma história que também é sua faz com que algo toque seu corpo e ela pode seguir escrevendo parte de sua própria história, recolhendo, a partir da contingência, das perdas e do luto, uma outra aposta na vida e na transmissão. |