Pandemia de todo o dia
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Pandemia de todo o dia

As máscaras espalhadas pela casa, já não sei se são minhas ou de outra pessoa. E se são minhas, será que já usei várias vezes, ou eu posso usar de novo, ainda? "A máscara tá fedendo!!" - diz a pequena (pequena demais para usar máscara). E aí ...

lpintomartha
2 min
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As máscaras espalhadas pela casa, já não sei se são minhas ou de outra pessoa. E se são minhas, será que já usei várias vezes, ou eu posso usar de novo, ainda? "A máscara tá fedendo!!" - diz a pequena (pequena demais para usar máscara). E aí se vislumbra a mancha meio esverdeada no tecido cirúrgico; catarro? meleca? baba? Não saberia dizer.

O ar às vezes falta um pouco e se acumulam as pequenas práticas diárias de limpeza. Limpam-se as embalagens, as sacolas que carregam as compras, limpa-se até o jornal (molhado de álcool!) e, veja bem, limpa-se também o vidro de Veja. O ar falta ainda mais um pouco e já não sei se é angústia, gripe, covid, pneumonia, ou ainda, segundo o doutor Google, câncer, por quê não?

O tempo passa e a gente acostuma. A gente vai se acostumando a tanta coisa...e vai esquecendo também, é preciso esquecer. Esquece e junta em 5,6,7,8,9,10. Esquece, lembra e torce, torce para a coceira no nariz ser só alergia.

O tempo passa mais um tanto nesse ano que já dura dois. É mentira dizer que neste durante não houve vida. É trabalhoso, o trabalho de cada dia de vivificar o corpo: o batom vermelho passado para ninguém ver, o perfume comprado na aposta de saídas futuras. O futuro vem, com batom vermelho manchando a máscara, perfume novo parcelado, usado em novos encontros - em que, valha, tenha beijos, cheiros e batom vermelho espalhando também pelo rosto.

A esperança de um futuro mais leve, menos séptico e, com sorte, mais dias de sol.