CENÁRIO ECONÔMICO EM 2023 - BRASIL x MUNDO
0
1

CENÁRIO ECONÔMICO EM 2023 - BRASIL x MUNDO

Depois de quase dois anos de crescimento econômico relevante, o Brasil se vê agora diante de uma desaceleração que pode levar o país ao crescimento zero em 2023. É que tanto o ambiente externo quanto o interno apresentam os ingredientes ideai...

Tarcísio Gregory
4 min
0
1
CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL E BRASILEIRA
CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL E BRASILEIRA

Depois de quase dois anos de crescimento econômico relevante, o Brasil se vê agora diante de uma desaceleração que pode levar o país ao crescimento zero em 2023. É que tanto o ambiente externo quanto o interno apresentam os ingredientes ideais para a perda de ritmo da economia. Quer entender quais são eles?

Brasil - Bate lá, bate cá

Desde junho, a desaceleração econômica do Brasil já estava no radar. Os sinais eram claros – a inflação persistente no país já indicava juros altos por um tempo longo e o crescimento da economia mundial já havia sido revisado para baixo nos cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Agora, essa noção se consolida ainda mais. Para começar a conversa, vamos olhar para o cenário econômico global:

• Nos Estados Unidos, tudo indica que o banco central americano deve manter os juros em patamar elevado por um bom tempo;

• Na Europa, a crise de energia, que fez a inflação subir a máximas recordes, deve levar o continente a uma recessão;

• Na China, que enfrenta crise imobiliária e segue com o desafio da covid, o crescimento econômico deve permanecer baixo;

Nada disso é bom para o Brasil.

Primeiro, a subida de juros nos EUA tem um efeito negativo sobre o câmbio: os títulos de dívida americanos atraem o capital que viria para o Brasil e, com menos dólares na economia brasileira, o real tende a se desvalorizar. A consequência pode ser mais inflação por aqui.

Segundo, Europa em recessão e China em expansão mais moderada impactam o mundo todo – inclusive o Brasil. Ambas as regiões são importantes compradoras de commodities brasileiras, como minério de ferro, soja e carne. O território chinês é o destino de quase 30% das nossas exportações e o continente europeu, de mais de 10%.

Fora o período de 2015 e 2016, quando o Brasil viveu uma recessão profunda, comparada ao mundo em praticamente todos os outros anos fica claro que, quando o mundo vai mal, o Brasil vai mal (e vice-versa). A exceção deve acontecer em 2022 de forma inversa, ou seja, o mundo deverá ir mal, e o Brasil ir bem, já a tendência para a 2023 não deverá permanecer como em 2022.

Menor confiança:

Olhando apenas para o cenário nacional, vemos novos elementos que indicam que a economia brasileira está em desaceleração para o início de 2023. Todos os indicadores de confiança medidos pela FGV apontaram queda em outubro. Isso significa que empresários (em comércio, indústria, serviços e construção) estão menos otimistas quanto à expansão de seus negócios.

A piora na expectativa tem relação com os juros altos no país. A Selic está em 13,75%, o patamar mais alto desde 2016. Além de fazer o consumo de serviços e produtos cair, a taxa desestimula a atividade empresarial, já que fica mais caro financiar a compra de equipamentos ou contrair empréstimos para construir uma nova unidade, por exemplo.

Esse quadro deve seguir assim em 2023.

Isso porque: 1) o efeito do aumento dos juros na economia costuma ser sentido com alguma defasagem; 2) a inflação, na nossa avaliação, vai custar a ceder, o que impede a queda rápida da Selic.

Acreditamos que a Selic chegará ao fim do ano que vem em 11,25%, nível ainda bastante elevado.

Fragilidade Fiscal

Outro fator que pode interferir no crescimento brasileiro é a situação fiscal do país. Entre os desafios da área estão uma dívida líquida pública que deve atingir em 2023 o maior nível em duas décadas e uma provável alteração do teto de gastos (um dos mecanismos que mais conferiram credibilidade fiscal ao país até hoje).

Isso importa porque o quadro fiscal está frágil (o que pode afastar investimento estrangeiro) e em posição contrária à política monetária. Enquanto o Banco Central tenta esfriar a economia para reduzir a inflação, o governo brasileiro trabalha para elevar gastos – que são justificáveis do ponto de vista social, mas não ajudam a puxar os preços para baixo, muito pelo contrário gerando ainda mais inflação, já que mantêm a demanda no país em nível alto, mantendo assim a taxa de juros em altos patamares.

Em vez de elevar o gasto público, o ideal seria cortar custos em outras áreas a fim de acomodar as novas despesas dentro do teto.

Está claro, portanto, que o crescimento do PIB que vimos recentemente não deve se repetir. O avanço de 4% no ano passado e a expansão acima de 2% esperada para 2022 são resultado de uma recuperação cíclica, da retomada da economia após a pandemia.

Em 2023, não haverá muito o que ser recuperado. Os frutos da reabertura das economias doméstica e global já foram colhidos. Além disso, os juros não mais se encontram em patamar baixo. Será desafiador!

Abs.