Sob administração do PT a partir de 2023, podemos ter dinheiro saindo com risco de não voltar.

Durou muito pouco a lua de mel entre o mercado financeiro brasileiro e a eleição de Lula. E o mesmo mercado dá recado a Lula sobre ameaças em relação a responsabilidade e equilíbrio fiscal.

Se na primeira semana após o fim das eleições a bolsa subiu respeitáveis 3,16%, na semana seguinte ela caiu 5%, que só não foi pior por uma boa recuperação do Ibovespa no último dia da semana.

E o que mudou tão repentinamente na visão dos investidores? A percepção do que o governo do PT e Lula pretende para a economia do país.

Num primeiro momento, o fluxo de capital estrangeiro foi amplamente positivo para o Brasil, com a expectativa de que fariam um governo mais voltado ao lado social, mas com uma grande responsabilidade fiscal.

Porém, assim que Lula começou a fazer seus discursos durante os últimos dias, especialmente em 10/11, o instinto que predominou nos investidores e no mercado foi aquele famoso “vish”.

E qual foi o gatilho para essa mudança de comportamento dessa entidade chamada “mercado financeiro”? O desdém de Lula e do PT com o teto de gastos, tendo até feito um discurso agressivo contra a responsabilidade fiscal.

O discurso realizado no dia 10 foi considerado extremamente agressivo, colocando a responsabilidade fiscal e social como adversárias que não podem coexistir no mesmo ambiente.

Uma frase de Lula resume bem este pensamento: “Por que as pessoas são obrigadas a sofrer para garantir a tal da responsabilidade fiscal deste país? Por que toda hora falam que é preciso cortar gastos, é preciso fazer superávit, é preciso cumprir teto de gastos?”

Qualquer pessoa que entenda o mínimo de gestão financeira pode responder isso rapidamente, sem precisar criar uma teoria altamente complexa para tal explicação.

Em poucas palavras, sem responsabilidade fiscal acaba o dinheiro. E sem dinheiro, não tem como bancar programas sociais. Simples assim.

Chega a ser impressionante, dada a situação caótica que se observa em vários países que não controlaram bem suas contas, que se defenda este tipo de tese justamente para fornecer programas sociais sustentáveis e duradouros para a população.

Fico ainda mais impressionado com esta posição quando olhamos o passado de curto prazo político do Brasil e do próprio PT.

Afinal de contas, foi a péssima gestão financeira do país sob a tutela de Dilma Roussef, com assessoria de Guido Mantega (presença constante nas discussões do plano econômico do novo governo), que acabaram levando o partido a ter um impeachment.

Para completar, a demora em definir qual será a equipe que irá dirigir a economia do país a partir de 2023 aumenta o desconforto. Henrique Meirelles, nome ventilado por um algum tempo e que possui um bom alinhamento com o mercado, deixou claro que está fora.

Para piorar, ainda afirmou que Lula “dilmou” antes mesmo de começar seu governo.

Assim, a definição de um nome para o ministério da Fazenda que traga credibilidade e alinhamento com a responsabilidade fiscal se torna essencial para que a situação do país não piore ainda mais.

Afinal de contas, como diz uma frase famosa no mercado financeiro, o dinheiro é o animal mais arisco que existe: ele foge ao menor sinal de perigo.

Explorando um pouco melhor essa frase, o investidor vai continuar tirando seu dinheiro do país se esse tipo de gestão financeira for realmente levada às últimas consequências. E esse dinheiro só volta se a recompensa for proporcional ao risco.

No caso, se a taxa de juros for ainda mais alta do que a atual, encarecendo ainda mais a dívida pública do país.

Todo este cenário, por consequência, dificulta ainda mais a aplicação dos programas sociais tão ansiados pelo PT. A conta simplesmente não fecha, já que o dinheiro não surge do nada: ou vem de investidores, ou vem do bolso da população.

Portanto, se o PT realmente quer atuar em prol dos mais necessitados, como alardeado durante toda a campanha, está na hora de partir para um modelo mais responsável em termos de economia, que possa fazer a aplicação de seus programas a longo prazo, e não apenas para tentar garantir a eleição do sucessor no próximo mandato.

Caso contrário, o risco de Lula seguir pelos mesmos caminhos de Dilma, com cenário de recessão e empobrecimento da população, é enorme.

E quem mais perde neste cenário é, justamente, quem Lula mais diz se importar.

ABS.