A revolta dos três padres
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A revolta dos três padres

Até esta quadra histórica, a época do Império representa o auge da nação brasileira; de lá para cá, apenas descaminhos. Todavia, mesmo aquela época áurea não foi isenta de percalços, e o maior deles fora, sem dúvidas, o período regencial. É, ...

João Paulo de Oliveira Fonseca
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Até esta quadra histórica, a época do Império representa o auge da nação brasileira; de lá para cá, apenas descaminhos. Todavia, mesmo aqueles anos áureos não foram isentos de percalços, e um dos maiores deles foi, sem dúvidas, o período regencial. Como a revolta dos três padres insere-se nesse contexto, é imprescindível que, para que a tratemos de forma adequada, conjuguemos os dois temas.

Pois bem, o período regencial desenvolveu-se entre os dois - e, lamentavelmente, únicos - reinados; precisamente, entre a abdicação de Dom Pedro I e a ascensão de Dom Pedro II. Abarcou, assim, os anos de 1831 a 1840.  No bojo do período regencial, quatro foram as regências: a provisória trina, a permanente trina, a regência una de padre Feijó e, por fim, a regência una de Araújo Lima.

Exceção feita às crises finais do Império, aquelas suportadas no período regencial foram as mais severas. Apenas em termos de conflitos internos que colocaram em risco a integridade nacional, tanto do ponto de vista político quanto do territorial, ocorreram a Balaiada, a Cabanagem, a Sabinada e, a mais grave de todas, a Farroupilha.

A revolta dos três padres teve vez no curso da regência trina permanente. Eram regentes do Império: Francisco de Lima e Silva (pai do Duque de Caxias), João Bráulio Pinto e José da Costa Carvalho. E os padres que integraram a revolta foram: padre Diogo Feijó, padre senador José Bento e o padre José Custódio Dias. Para que o trio de padres pudesse se encontrar e deliberar sobre o plano liberal que intentava, padre José Custódio Dias, que havia sido constituinte em 1823, cedia seu sítio para que o grupo pudesse encontrar-se e deliberar sobre o plano.

Durante a regência trina permanente, padre Diogo Feijó assumiu a pasta do Ministério da Justiça. Diante do quadro caótico que o país vivia, padre Feijó exigiu amplos poderes para exercer sua função no ministério. Ele entendia que, ao menos quanto aos conflitos que se davam na Côrte, as brigas eram de responsabilidade dos Andradas. Na altura desses acontecimentos tormentosos, José Bonifácio, o mais decantado dos Andradas, era o tutor do futuro imperador Dom Pedro II.

Padre Diogo Feijó viria a ser regente do Império mesmo após a revolta.<br>
Padre Diogo Feijó viria a ser regente do Império mesmo após a revolta.

A situação agravava-se na Côrte, e padre Feijó, então, exige a demissão de José Bonifácio do seu cargo de tutor. A Assembléia Geral, no entanto, contrariando o ministro, decide por manter o Patriarca da Independência em sua função. Aliás, agora um ponto de vista particular: talvez, a Assembléia recusara a exigência feita por padre Feijó pelo fato de Bonifácio ter sido nomeado pelo próprio Dom Pedro I, que, embora distante, certamente estava bastante presente na memória dos parlamentares.

Confrontado pelo freio que a Assembléia lhe impôs, padre Feijó renuncia ao Ministério da Justiça.

Ele, então, aliou-se ao padre José Bento para, numa outra tentativa, fazer prosperar seus ideais liberais. Citou-se que padre José Bento fora senador do Império, mas isso deu-se apenas a partir de 1834; portanto, após a revolta. Interessante notar que, mesmo após a frustrada rebelião, essas duas personagens conseguiram algum sucesso político. Frutos da solidez do sistema político imperial.

Padre José Bento fora assassinado&nbsp; no local onde hoje está o bairro Faisqueira em Pouso Alegre.<br>
Padre José Bento fora assassinado  no local onde hoje está o bairro Faisqueira em Pouso Alegre.

Em Pouso Alegre, nas Minas Gerais, padre José Bento editava o jornal O Pregoeiro Constitucional. Fora na tipografia desse periódico que ele fez imprimir aquele que foi o ato mais significativo praticado pelos três padres: a Constituição de Pouso Alegre. Esse projeto duma nova Constituição para o Império visava incorporar mudanças moderadas que estavam em debate na Assembléia Geral.

A Constituição de Pouso Alegre, no entretanto, não encontrou ressonância na Côrte. Os membros da Assembléia não mostraram disposição em implementar as mudanças constantes no projeto de padre José Bento. Isso reforça a percepção segundo a qual a Assembléia do Império não detinha ânimo em provocar quaisquer alterações sensíveis sem que o Imperador estivesse entronizado.

Outros tempos, outro país e outros políticos.

Exemplar da Constituição de Pouso Alegre constante no acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.<br>
Exemplar da Constituição de Pouso Alegre constante no acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.

Fontes: CALMON (1938).