O que eu aprendi na escola?
4
0

O que eu aprendi na escola?

A pergunta título deste artigo causa-me algumas ondas de desconforto. Há um misto de: eu realmente perdi anos de minha vida numa patuscada tediosa e - num mau sentido - laboriosa ou aquele tempo todo mostrou-se perdido não em função dos seus ...

João Paulo de Oliveira Fonseca
3 min
4
0

A pergunta título deste artigo causa-me algumas ondas de desconforto. Há um misto de: eu realmente perdi anos de minha vida numa patuscada tediosa e - num mau sentido - laboriosa ou aquele tempo todo mostrou-se perdido não em função dos seus conteúdos, mas dada a forma pelas quais eles eram ministrados? Qualquer que seja, no entanto, a resposta, a sua variação parece convergir para um ponto: fora, de fato, um tempo perdido ou - se for o caso dum eufemismo - mal gasto.

A escola é, hoje em dia, uma mera repartição burocrática.
A escola é, hoje em dia, uma mera repartição burocrática.

Esse incômodo tem-se tornado recorrente em meus pensamentos sobretudo nos últimos tempos. Talvez há uns três anos - ou pouco mais -, passei a dedicar-me aos estudos, principalmente da História do Brasil, da literatura em língua portuguesa e também do idioma de Camões em si mesmo. Pois bem, e o que eu descobri foi um mundo absolutamente virgem - ao menos para este que te escreve. 

E percebe: quando eu passei por tal processo de descoberta, a minha vida já havia caminhado um bocado. Àquela altura, eu já havia sido testado em alguns concursos públicos, tinha concluída uma pós-graduação em Direito de Família e meu escritório já estava a funcionar. Soma-se ainda que eu sempre - ao menos em meu juízo, que, agora , enxergo como evidentemente falho - tive a mim mesmo como um leitor. Aliás, a idéia deve ser esta: eu era sim um leitor, mas o ponto põe-se no que eu lia - e isso fica para depois.

Fato é que, eu nunca fui um sujeito absolutamente alheio ao mundo da língua, da literatura e da história. Meus olhos, no entanto, estavam postos na fôrma da burocracia escolar. E é precisamente isso no que a escola se tornou: uma burocracia que, no melhor dos casos, ser-te-á inútil. Se tiveres sorte, sairás da escola como entraste: um ignorante; mas, se o trabalho da burocracia for bem feito, sairás um imbecil.

Então, afinal, o que eu aprendi na escola ou quais foram os seus méritos para minha formação? Não posso negar que nela me alfabetizei - o que hoje em dia talvez já seja algo espetacular diante duma geração com assoberbadas dificuldades de comunicar-se com o mínimo de desenvolvimento e respeito ao vernáculo, quer no falar, quer no escrever -, que criei alguns laços de amizade e a feitura de uma agradável lembrança aqui e outra acolá.  No mais, a minha vida escolar representa uma nulidade completa e absoluta - releves o jogo de palavras, meu leitor.

Há um mundo que nos espera. E ele anela ser não apenas conhecido, mas resgatado. Como grande parte de todo o arsenal comunicativo que nos cerca atualmente, a burocracia escolar quer-nos matar a alma cultural e intelectual. Há um mundo que nos espera e - crê - ele é vastíssimo.