Fui num jogo do Botafogo e reforcei minha paixão… pelo Mengão!

No início do mês eu levei minha namorada ao Maracanã pela 1ª vez. Era um sonho dela ainda não realizado até então e facilitado pela Nação BRB Fla, que me brindou com um par de ingressos para o Fla x Flu decisivo da Copa do Brasil, por eu ser um dos clientes (fanáticos) do cartão rubro-negro.

Nem preciso descrever o quanto ela adorou a experiência. Qualquer rubro-negro sabe que até mesmo num dia comum tudo já seria ótimo, mas sendo em dia de decisão, com mosaico, faixas, fogos, fumaça e o escambau, o que ela teve foi um pacote completo: sensacional e inesquecível. Ainda mais com aquela vitória na raça.

O curioso é que ela não é Flamengo. É Botafogo, assim como era seu pai, um torcedor fanático do clube e que chegou a leva-la em General Severiano para pegar autógrafos/fotos de Túlio e cia, mas que nunca teve oportunidade de leva-la no Maraca ou Engenhão antes de falecer, infelizmente (um dia antes do Tricampeonato do Flamengo na Libertadores, por sinal).

Em sua homenagem eu me encarreguei de levar sua filha ao Engenhão, assim que pudesse, mas não sem antes mostrá-la como era o Maraca em dia de jogo do Flamengo, o que foi feito no início do mês.

Eis que veio a chance de ver um jogo no Engenhão, como prometido. Um raro sábado que não trabalhamos. Contra um time de baixo da tabela, Fortaleza. Foi uma espécie de presente de dia dos namorados antecipado.

E pra sorte dela (não minha), a oportunidade apareceu numa raríssima aparição do Botafogo como líder do Campeonato Brasileiro, ou seja, quase certeza de vitória… se bem que estávamos falando do Botafogo, e pra quem conhece, existem coisas que só acontecem com o Botafogo… toda cautela é pouca.

ZONA SEM SENTIDO

Quando fomos ao Maraca, a chegada não foi nada boa. Moramos numa cidade que é um LIXO. Algumas linhas de ônibus inexplicavelmente DEIXARAM de passar pelo estádio no dia do jogo e a péssima gestão de tráfego nos atrasou um pouco. Mas a chegada ao Engenhão foi pior. Um lado engarrafado. Outro lado escuro, mal iluminado e sem calçada. Fomos a pé. E ela teve crises de ansiedade.

Superado o 1º problema, o 2º já estava de cara pra nós: tumulto e falta de organização deixaram uma bagunça desnecessária na entrada dos setores leste. Eles só tem ingresso virtual. E cerca de 30 mil pessoas acessando a internet AO MESMO TEMPO é certeza de gargalo e atraso!!!

E quem perdeu o celular? e quem não tem espaço pra app? e os velhinhos que não tem smartphone? pois é… a solução era digitar o CPF do comprador na catraca. Uma pessoa digitando, ok. Cinco, dez mil digitando = DEMORA! Daí a (óbvia) confusão formada que os caras não tinham capacidade de ver. Por sorte perdemos apenas 2 minutos de jogo mas teve gente que só chegou depois de 15 ou 20.

Surpreendentemente o estádio NÃO estava lotado! o que deixa ainda mais inadmissível aquela confusão na entrada. Mas o que me espanta mesmo é que o time é líder do campeonato e tava jogando em casa, contra um adversário fraco num fim de semana, E MESMO ASSIM A TORCIDA NÃO LOTOU O ESTÁDIO??? ISSO É MUITO ESQUISITO PRA MIM. NÃO ESTOU ACOSTUMADO!

STRANGER IN A STRANGE LAND

Ainda na subida da rampa da arquibancada minha sensação era estranha. Cercado de adversários, eu me sentia um espião estagiário. Daqueles que tinha que se misturar para não ser descoberto mas ainda não sabia como. Não conhecia os costumes do adversário.

No passado eu já frequentei jogos de outros times e seleções, como Itália, México, Espanha, Chile, Colômbia, Grécia e Argentina. Já vi jogo do Bayern na Champions League durante a Oktoberfest. Do Manchester no Mundial de Clubes de verão. Do Grêmio na Libertadores, em retribuição à um favor de um (falecido) amigo. Do Corinthians de Tevez, quando namorava uma paulista. E até do Palmeiras contra o Va2co na final do Brazuca de 97.

À propósito, daquele Va2co de 97, eu assisti muitos jogos em Segundão Januário por ser jogador da base do clube naquele ano, e após os treinos, já ficava por lá com meus companheiros (gratuitamente à convite do icônico presidente Calçada) pra ver o Edmundo em grande fase.

Sim, um flamenguista frequentou por quase 1 ano a torcida do Va2co sem ser descoberto. E aqui vale uma OBS: há uma grande diferença entre assistir um jogo e torcer em um jogo. Quando se assiste, sem paixão, você repara mais nos detalhes do jogo em si. Torcendo, sua mente é eclipsada pelo sentimento.

De qualquer forma, pelo menos eu já conhecia aquele famoso time vascaíno: Carlos Germano, goleiro nível seleção; Válber, que passou pelo Fla e foi campeão do mundo com o SP; Odvan, botinudo de nome inesquecível; Mauro Galvão, icônico zagueiro de seleção, Felipe, então revelação deles e que seria estrela campeã do Fla de 2004; Luisinho e Nasa, dois volantes chatos! Juninho, batedor de falta e futuro jogador de copa do mundo; Ramon, ótimo meia; Edmundo e Evair, ataque que dispensa comentários! 

Quem não conhecia aquele talento todo de 1997 não conhecia futebol! mas hoje é diferente. Hoje é mais difícil se infiltrar porque ninguém conhece esse Botafogo que nem ele mesmo sabe como chegou na série A! Cheguei a confundir Tiquinho com “Triguinho” e Adryelson com “Nielson”. Só conhecia mesmo Cuesta e Tche Tche, e olhe lá! Melhor me calar pra ninguém notar… 

DOMINGOOOO, EU VOU AO MARACANÃ…

Apesar de não lotar, o estádio estava cheio. Apesar da liderança, o time vinha de uma derrota. Seria por isso a falta de animação? ou será que eu é que sou mal acostumado?

Anyway… tentei cantar pra disfarçar. Tentei ouvir algumas músicas, mas confesso que nenhuma delas fazia sentido. “Vamo, vamo, vamo, Botafogo / Clube que é mais tradicional / Quero te ver campeão de novo”. Tradicional? em quê? cabo-de-guerra? pular corda? barrilho? gamão??? te ver campeão? de novo? como assim??? 

Eu nem lembrava que o time já tinha sido campeão… até eles cantarem uma música em alusão à 1995! Aí eu lembrei!!! o Brasil nem era penta ainda… Michael Jackson lançava o álbum History… as Torres Gêmeas ainda tavam de pé… a gente bebia 7up e Mirinda… os ricos tinham tijolão (celular) Nokia ou MicroTAC… se comprava tudo na Mesbla… e o filme da época era Toy Story! tempos nostálgicos!!!

Quando começaram a cantar “domingooo, eu vou ao Maracanã (não deveria ser “Engenhão”? ah, deixa pra lá) / vou torcer pro time que sou fã…”, no final da música, por impulso, eu esquecia e cantava: “e o nome dele são vocês que vão dizer, ôôôô, ôô… MENGO!” 👀 Foi muita sorte ninguém ter reparado.

Outra música que eu me acostumei a cantar errado era a música do choro. “E ninguém cala / esse nosso amor”... Eu cismava em cantar “E ninguém cala / esse chororô / chora o presidente / chora o time todo / chora o torcedor” 👀 ai meu deus. Eu estava em risco. Resolvi parar de cantar pra não ser assassinado.

INCÊNDIO NA FORTALEZA

Passei a respeitar mais ainda os espiões a partir de hoje. É muito difícil se infiltrar. Em determinado momento, lá na entrada, um doido qualquer gritou “FOGOOO” ao nosso lado. Eu, distraído, me assustei e quase puxei o alarme de incêndio. Já estava me preparando pra puxar o extintor quando lembrei onde estava. Ufa…

Se a água foi desnecessária, a cerveja não. Ficamos na torcida Fogoró, a organizada dos bebuns. Os goles de Heineken me ajudaram a relaxar.

De repente, GOL DO BOTAFOGO! Tiquinho. O cara que até pouco tempo era dúvida pro jogo, devido à dores musculares, marcou numa sobra de cruzamento da direita.

Namorada vibrante. Torcida feliz. Explosão na arquibancada. E eu sem saber o que fazer. Se ria, se lamentava, se curtia ou observava. Pensei rápido: “me dá o telefone, vou te filmar”. Sutilmente me disfarcei de abobado com a festa enquanto ela celebrava em homenagem ao falecido pai. “Dei sorte”, eu falei. Pois é. Fim de 1º tempo.

No intervalo, na fila do "mijódromo", veio um torcedor puxar assunto:

- Atlético-MG já se fodeu hoje, amanhã é dia do Palmeiras e da mulambada se foderem tbm pra alegrar meu fds. (OBS: seria São Paulo x Palmeiras e Flamengo (mulambada) x Grêmio)

- Chefe, mas o Grêmio não tá com 17? se vencer chega a 20 e encosta mais que o Fla, que tá com 16.

- A mulambada que se foda. Quero ver sempre eles se fodendo.

- Pra mim quem tem que se foder é quem tá perto da gente (eu fingindo imparcialidade pra disfarçar).

- Não pô. O Flamengo tem sempre que se foder. Sempre.

- Mas papo sério? tu liga mais pra eles assim? eu prefiro o fogão mais tranquilo pra ser campeão, não importa se pra isso os caras vençam o Grêmio (ainda tentando justificar).

- Mas eu odeio o Flamengo. Não suporto os caras.

- Eu nem ligo tanto pros outros, eu ligo pro Botafogo (confesso, quando eu quero atuar eu consigo fazer um bom papel de mentiroso ahahah).

- Ah não parceiro, é que flamenguista não presta. Eles tem soberba. Eles acham o clube deles grande. Se acham melhores.

Aí eu parei. Sério! Até cheguei a pensar em contestar mas acho que eu ia morrer se perguntasse o que eu pensei: alguém por acaso torce se achando PIOR? alguém resolve escolher um clube porque ele é… PEQUENO? o que isso? torcida ou caridade? o cara é torcedor ou samaritano?

“Eu amo meu time porque ele é pequenininho, tadinho, somos piores que os outros, aí fiquei com pena e resolvi torcer por esse clube pra ver se cresce” - fiquei com medo dele responder isso. Será que é assim mesmo? será que alguém pensa assim!?

Ah irmão… parei. Parei mesmo. Melhor nem querer saber! terminei minha mijada calado e saí dali pra não dar voz pra maluco...

No 2º tempo teve mais um gol do Botafogo. Tiquinho de novo. Após pegar o rebote do rebote do pênalti que ele mesmo perdeu. É amigo... tem coisas que só acontecem com o Botafogo, lembra? felizmente (pra eles) deu bom graças ao pé-quente aqui, hehehe.

Fim de jogo. Fortaleza destruída. Vitória garantida. Fotos tiradas. Memórias registradas. Hora de voltar pra casa com duas sensações distintas. A primeira de dívida paga. A segunda, de que aqueles coitados estão se enganando, se iludindo. Fiquei com pena. Mas a vida é assim. Tem doido pra tudo.

Fomos embora. Finalmente. Meu dia de infiltrado acabou. Espero não precisar prometer tal tipo de coisa pra mais ninguém daqui pra frente. Deus me livre. Mas confesso que vou recomendar a experiência pra vocês. Sério. Sabe por que?

Sabe quando você namora alguém muito boa pra você (ou bom, se você for mulher) mas se esquece de vez em quando e não se dá conta? aí quando você separa e fica com outra(o) qualquer e não é tão bom como era com a namorada(o), sabe?

É nesse momento que você RELEMBRA o quão boa é a pessoa que está com você, ou nesse caso, a equipe e a torcida a que você pertence. E a valoriza ainda mais! tá ligado?

NESSE DIA DOS NAMORADOS REDESCOBRI QUE O FLAMENGO É MINHA MAIOR PAIXÃO!

Nenhuma torcida, por mais esforçada que fosse, jamais conseguiu me cativar. Nenhuma delas sequer chegou aos pés da nação vermelha e preta que sempre fez parte da minha vida. Alemães, italianos, gregos, mexicanos, argentinos, gaúchos e paulistas bem que tentaram… mas… na moral? igual a nossa não há nada igual. 

Frequentar outra torcida (novamente) só me fez perceber o quanto eu tava certo, desde o início, ao me apaixonar pelo Mengão. É como diz aquela letra da nossa música: “Muitos podem criticar / mas ninguém vai entender / pois só quem é rubro-negro pode me compreender!”