A força do DETALHE
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A força do DETALHE

Você é detalhista?

Partiu Poupar
5 min
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Liffey River — by Ferpa
Liffey River — by Ferpa

Você é detalhista?

Eu tive a oportunidade de fazer intercâmbio, inclusive escreverei algumas coisas sobre isso em breve e, se você pensa ou já pensou em fazer isso em algum momento da sua vida, por favor, FAÇA.

Morei um tempo em Dublin, na Irlanda, com minha namorada (hoje minha esposa) e no condomínio onde morávamos, certo dia, um dos apartamentos começou a soltar fumaças e um forte cheiro de queimado logo veio à tona. Era no bloco frente ao nosso, mas pela janela conseguíamos acompanhar a movimentação dos bombeiros.

Eu nunca tinha passado por uma situação daquela, mas a primeira coisa que me veio a cabeça é: "bom, somos estrangeiros, não temos muita coisa aqui, mas precisamos nos organizar para uma eventual evacuação do prédio."

Conforme a fumaça aumentava, eu acelerava a organização da nossa “mochila da sobrevivência”. Engraçado que, dentre tantas coisas prioritárias, a primeira coisa que eu peguei foi um pacote de amendoim. Afinal, não sabíamos quanto tempo ia ficar lá fora assistindo tudo aquilo, né!? Águas, frutas, bolachas, que nada, só um amendoinzinho pra dar aquela crocância ao acompanhar aquela situação, até então, inédita pra nós.

Peguei nossos passaportes, nossos documentos locais. Nossos 17 euros EM PAPEL que ficavam na caixinha não poderiam ficar de fora né, vida de intercambista não é fácil. Além disso, faziam aproximadamente uns -5º do lado de fora, um frio e um vento desrespeitosos, que vinham de baixo pra cima, e te deixavam constantemente em movimento, chutando o ar, esfregando as mãos. Tenso.

Tudo devidamente a salvo na minha mochila, voltei para a janela pra acompanhar a movimentação no condomínio. A essas horas, o cheiro da fumaça já tomava conta do prédio todo.

Minha esposa perguntou, lá do quarto: será que precisamos descer? E eu, muito sábio e experiente respondi: não faço idéia. Acho que se precisar descer os bombeiros avisam, né? No que eu termino de falar essa frase, o bombeiro bate em nossa porta, mas não é aquela batidinha assim, como se fosse um vizinho desesperado por duas colheres de açúcar. O fireman por muito pouco não destruiu a nossa porta.

Neste momento, minha esposa fez uma meia maratona, em aproximadamente 86 centímetros quadrados. Andava de um lado pro outro sem sair do lugar, desesperada, com falas trêmulas, sem controle da pronúncia. Consegue imaginar isso? Eu chamo essa história de “Fran no incêndio”. Pois bem…

Eu com toda calma do mundo, abri a porta educadamente pra ver como conseguiria atender aquele profissional e, usando todo meu inglês naquele momento de tensão, falei: HI. Mas foi um hi de respeito, com sotaque, fluente, praticamente um nativo.

Sem responder o meu cumprimento, o bombeiro apenas indagou em alto e bom tom: GO DOWN, GO DOWN, NOOOOW. Foi o suficiente pra eu conseguir responder a minha esposa: é, acho que precisamos descer mesmo.

Finalmente, peguei minha mochilinha da sobrevivência, que não tinha água mas tinha amendoim, e evacuamos o prédio. Descemos pelas escadas de emergência, saímos pela garagem e aguardamos ansiosamente pela avaliação dos bombeiros sobre todo o ocorrido.

Já do lado de fora, parecia a abertura das olimpíadas (no estádio), tinha gente de tudo quanto é canto do mundo, um mix de culturas, experiências, mas pelo que observei de todos que ali estavam, eu era o único que tinha AMENDOINS na mochila. Há, ponto pra mim!

Mas a fumaça baixou. O problema estava relacionado a uma salsicha (aqui em Curitiba, uma vina) que um morador já de mais idade acabou esquecendo no forno, que acabou incendiando uma pequena parte da cozinha, mas sem comprometer sua vida, seu apartamento ou de todos ali em volta. Tudo sob controle.

Os bombeiros identificaram e resolveram tudo rapidamente, em pouco mais de 1h de espera, que naquele frio pareciam umas 7h +-, pudemos voltar pra nossa unidade em segurança. Mas a parte ruim agora, fiquei com vergonha de abrir o pacote de amendoim enquanto estavam todos tensos lá embaixo, afinal, não era um filme ou um espetáculo né, pra assistir de camarote. Mas na minha cabeça eu estava muito seguro da minha decisão, se alguém precisasse de um amendoim, eu tinha.

As vezes fazemos coisas meio sem sentido mesmo, mas isso é o que torna as histórias mais interessantes.

Isto posto, voltemos ao nosso ponto principal. Eu poderia ter simplesmente comentado o seguinte:

Uma vez precisamos evacuar o prédio que morávamos, porque teve um foco de incêndio em um dos apartamentos vizinhos, aí eu peguei um pacote de amendoim, uns documentos e descemos…

Mas fica meio sem graça, não fica? Os detalhes enriquecem qualquer situação na história da nossa vida. E é pra tudo, quer ver?

Detalhes no que fazemos: desde nossas obrigações profissionais, até nossas rotinas limpando e organizando a casa ou o carro.

Detalhes no caminho que percorremos: as ruas, casas antigas, as pinturas, as construções, praças, árvores e flores. Ou as belezas da estrada, seja beira-mar ou em campos gerais com quilómetros e mais quilômetros de plantações e pastos.

Detalhes nas músicas que escutamos: aquele mergulho no ritmo, no instrumento musical que gostamos, na batucada dos nossos tantãs, no choro do cavaco, na voz do(a) cantor(a), nas lembranças que aquilo nos trás.

Detalhes no parceiro(a) que fazem toda diferença: o corte de cabelo, o pintar das unhas, a barba feita, a espinha que sumiu, a ferida que sarou.

Detalhes nos pequenos aprendizados do filho: a palavra nova, a frase que nunca saberemos de onde saiu, a saída das fraldas, a primeira letra escrita, a escolha pela embalagem de 50 centavos do presente de 100 reais.

Detalhes nas brincadeiras mais simplistas dos bichinhos de estimação: aquela pelúcia branca que já está amarelada (pra não dizer podre), saindo espumas, a garrafa de plástico, as bolinhas com sininhos, os novelos de lã.

Detalhes no trabalho que fazemos: nas cores ou nos ingredientes que usamos, no cuidado em como você entrega, produz ou trata os seus clientes.

Detalhes no texto que escrevemos: sem prejudicar, sem julgar, sem pré-conceitos, descriminação ou inverdades.

Detalhes na fotografia que tiramos: os traços do rosto, os detalhes ou cores das paisagens, o registro do momento, a energia, a sensação que a foto quer passar.

Detalhes na vida que levamos: os cuidados com a saúde, os cuidados com a mente, os cuidados com a organização financeira, a preocupação com o próximo, a vida em sociedade.

Detalhes da pessoa que gostamos: a forma como ela se veste, como ela anda, o cheiro, o cabelo, os acessórios.

Detalhes no quebrar das ondas, no balançar das árvores, no caminhar das nuvens, no cair da chuva, no passar das horas.

Às vezes fazemos tudo de forma acelerada e não damos atenção aos detalhes. E são eles que fazem toda a diferença. Se me permitir e eu puder te dar uma dica de onde você deve prestar mais atenção aos detalhes, escolha a sua mente. Preste atenção nas coisas que ela está tentando te mostrar, seu corpo, sua saúde, seus pensamentos, suas vontades. A partir do momento que você entrar em sintonia com ela, muita coisa legal vai começar a surgir com mais frequência. E #ÉVerdadeEsseBilhete.

Bóóóóra!

Ferpa.