CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA: O MAIOR HISTORIADOR ECLESIÁSTICO BRASILEIRO DO SÉCULO XIX
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CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA: O MAIOR HISTORIADOR ECLESIÁSTICO BRASILEIRO DO SÉCULO XIX

Você já ouviu falar em Cândido Mendes de Almeida?

Pedro Henrique Medeiros
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Você já ouviu falar em Cândido Mendes de Almeida?

Você conhece a maior obra sobre história eclesiástica escrita no Império do Brasil?

Cândido Mendes de Almeida foi um político maranhense conservador, nascido em 1818, eleito deputado geral em 5 legislaturas, entre 1843 e 1869, e senador eleito em 1871, permanecendo no cargo vitalício até a sua morte em 1881.

Formou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Olinda, em 1839.

Cândido Mendes de Almeida se destacou não apenas pela sua atividade política. Ele também foi um escritor profissional.

São de sua autoria o  Atlas do Império do Brasil e a  maior obra de história eclesiástica do século XIX:  Direito Civil Eclesiástico Brasileiro Antigo e Moderno em suas relações com o Direito Canônico, de 1866.

Direito Civil Eclesiástico  foi produzido e publicado em meio à Reforma Católica Ultramontana no Brasil imperial.

A Reforma Ultramontana foi promovida pelo Segundo Reinado e posta em execução por bispos fiéis ao Vaticano, que buscavam disciplinar o clero, tirando-o da política partidária, promovendo os princípios do catolicismo mais ortodoxo no Brasil.

Cândido Mendes de Almeida deu a sua contribuição e recebeu seu conhecimento técnico para cobrir uma lacuna que existia sobre o Direito Canônico no Brasil.

Lembre-se que toda a vida civil no Império Brasileiro estava sob a gestão da Igreja Católica.

Essa gestão, no que lhe diz respeito, estava estabelecida em leis produzidas ao longo da história da Igreja portuguesa.

Porém, essas leis estavam dispersas e algumas eram totalmente desconhecidas, apesar de estarem guardadas nos arquivos de Portugal e do Brasil.

Ao estudar esse trabalho, Cândido Mendes de Almeida se destaca entre os maiores juristas católicos conservadores do Império.

Além disso, com a introdução de mais de 400 páginas sobre a história das relações entre a Igreja Católica, Portugal e Brasil, a obra de Cândido Mendes de Almeida se consagrou como a maior obra de história eclesiástica do século XIX.

Segundo o Secretário de Estado Vaticano, Giacomo Antonelli, por meio de despacho enviado ao Internúncio Monsenhor Domenico Sanguini, delegado do Vaticano no Brasil, sobre as reações do papa Pio IX, ao receber o segundo volume da obra de Candido Mendes de Almeida:

“O Augusto Pontífice ficou agradecido por este presente enviado pelo escritor, assim como quando ele recebeu o primeiro volume, se expressou com muitos elogios pelo discurso tão lógico e convincente do autor sobre a questão de Pernambuco [Questão Religiosa]”

O trabalho de Cândido Mendes de Almeida foi além da atividade política e intelectual.

Durante o julgamento do bispo de Olinda, d. Vital Maria Gonçalves de Oliveira, em 1873, Cândido Mendes de Almeida advogou de forma voluntária para o prelado.

Devido aos seus esforços para defender os interesses da Igreja Católica no Brasil, ele recebeu a comenda da Ordem de São Gregório Magno.

Após um discurso contrário à secularização dos cemitérios no Brasil, Cândido Mendes de Almeida recebeu uma resposta do jornal  Imprensa Evangélica.

O editorial do jornal considerou necessário fazer uma defesa dos protestantes diante de uma generalização de que Cândido Mendes de Almeida teria feito ao agrupar maçons, racionalistas e protestantes como indignos de serem sepultados no interior dos cemitérios brasileiros.

No uso da retórica jornalística, os protestantes buscaram demonstrar sua indignação diante de uma suposta soberania de senador, que era tão celebrada por sua inteligência.

Para o jornal, era injusto confundir racionalistas e protestantes, “que são quem têm combatido e continuam a lutar com a força da lógica e da razão as inconsequências do racionalismo”.

Por fim, note o que diz uma análise sobre a intelectualidade de Cândido Mendes de Almeida, no contexto das disputas entre Estado e Igreja, no Brasil monárquico:

“Cândido Mendes de Almeida perseguiu a legalidade enquanto expressão e encarnação de uma vontade que transcendia o próprio homem, sempre preocupado com a sobrevivência legal dos valores e proposições do pensamento católico. […]

O seu conhecimento religioso funcionava, nos seus discursos, como fundamento metodológico do próprio mecanismo de argumentação que desenvolvia.

Daí, se compreender que a religião para ele não seria apenas uma crença, mas uma forma de pensar e viver.

Foi vigilante na defesa dos princípios conservadores monárquicos e, sobretudo, na defesa dos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana”.

Ítalo Santirocchi em Questão de Consciência: Os Ultramontanos no Brasil e o Regalismo do Segundo Reinado (1840–1889).

Por Pedro Henrique Medeiros, Doutor em História.

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