Você já ouviu falar sobre Padroado?
Você já ouviu falar sobre Padroado? | ||
Sabia que o Brasil foi formado a partir desse sistema político-religioso? | ||
A história do padroado é riquíssima, para entendê-la precisamos retornar ao reino de Portugal do século XV. | ||
Ao longo dos próximos dias, faremos uma série de publicações sobre a história do Padroado em Portugal e no Brasil, tendo a certeza de que permanecerão muitas lacunas serão mantidas em aberto no intuito de aguçar a sua curiosidade de ir a caça dos vestígios da história. | ||
Em que o Padroado interessa à história dos protestantismos no Brasil? | ||
Desde o período da América Portuguesa havia uma aliança estabelecida entre a coroa lusitana e a Igreja Católica no sentido de proteção e promoção da fé católica em territórios portugueses. | ||
O Império Português foi edificado sobre os alicerces do Padroado. | ||
Logo, todos os obstáculos foram conquistados desde o início para a inserção do protestantismo nesses territórios. | ||
No século XIX, com a elevação do Brasil ao status de Reino Unido com Portugal 1815 e a posterior independência (1822), diversos protestantes estrangeiros entraram no Brasil. | ||
Inicialmente eram colonos imigrantes. Os suíços que estabeleceram sua colônia em Nova Friburgo, na região serrana da Província do Rio de Janeiro, em 1824, eram luteranos que batizaram a colônia em homenagem à sua cidade natal no Cantão de Friburgo. | ||
Esses colonos, por exemplo, tiveram dificuldades para regularizarem seus casamentos diante do Estado pela falta de uma Administração Pública laica. | ||
Até a década de 1860, somente os casamentos realizados na Igreja Católica eram amparados pela legislação, isso incluía os registros dos filhos e os obituários, além dos sepultamentos. | ||
Devido ao Padroado, todos os registros civis estavam sob a guarda da Igreja e o Estado dependia desse braço eclesiástico. | ||
Ao lado da evangelização, a maior luta dos missionários protestantes foi contra o Padroado brasileiro. | ||
Isso pode ser visto ao consultarmos os jornais evangélicos do século XIX. | ||
Mas o que significa e qual o fundamento do Padroado? | ||
O Padroado era o direito dado inicialmente à Ordem de Cristo em Portugal e posteriormente aos reis portugueses de promover e proteger a Igreja Católica nos territórios conquistados. | ||
Em contrapartida, a Ordem Militar-Religiosa e, posteriormente, os reis receberam direitos garantidos nesses territórios. | ||
O espírito cruzadista de luta contra os mouros e pagãos foi o motor principal para o estabelecimento do Padroado. | ||
Tanto é que a história está diretamente ligada à Ordem de Cristo, criada pelo rei d. Dinis em 1318, confirmado pelo papa João XXII em 1319 e herdeira de todos os bens da extinta Ordem dos Templários. | ||
Em 1442, o papa Eugênio IV, pela bula Etsi suscepti, confirmou a doação feita à Ordem de Cristo, concedendo a ela o domínio espiritual das terras do Ultramar conquistadas ou ainda a serem conquistadas por Portugal. | ||
Com isso, a Ordem de Cristo, cujo grão-mestre era o infante d. Henrique de Avis, o navegador, membro da família real lusitana, passou a ter o dever de fundar Igrejas, desenvolver-las e promover a cristianização dos pagãos nos territórios conquistados. | ||
Em semelhante, a Ordem tinha o direito de administrar os dízimos, bem como os benefícios eclesiásticos menores que correspondiam tanto à carga quanto à côngrua devida ao clero secular. | ||
Ou seja, o recolhimento dos dízimos e o pagamento do clero ficara sob a gestão da Ordem de Cristo. | ||
Com o tempo, outras bulas papais confirmaram e ampliaram esses direitos, até que, em 1551, a bula Praeclara Clarissimi in Christo, do papa Julio III, concedeu ao rei d. João III, que havia assumido o grão-mestrado da Ordem de Cristo, e todos os seus descendentes os mestrados das três ordens lusitanas: Ordem de Cristo, Ordem de Santiago e Ordem de Avis. | ||
A partir de então, o Padroado bacteriológico de ser algo ligado apenas a uma Ordem Militar-Religiosa com seus princípios cruzadistas e passou a ser um direito da realeza lusitana com as ordens em um corpo de padroeiros que incluía: o rei, a rainha, os bispos, os abades, etc. | ||
Naquele momento, ainda não era um direito exclusivo da pessoa do monarca. | ||
Porém, após o fim da União Ibérica, que a união dos reinos de Portugal e Espanha sob a mesma coroa, entre 1580–1640, os reis de Portugal assumiram como direito do monarca a gestão do Padroado, dando início ao Padroado Régio. | ||
Alegou-se que, em 1495, uma bula do papa Alexandre VI havia autorizado o rei d. Manuel a apresentar os bispos das dioceses que foram fundados nos territórios conquistados. | ||
Essa bula teria sido confirmada em 1514 pelo papa Leão X, concedendo aos soberanos de Portugal o Padroado ultramarino. | ||
O que o Padroado Régio significava? | ||
Pelo Padroado Régio, os reis de Portugal passaramm a ter o direito exclusivo de proteger e promover a religião católica nos territórios sob o seu domínio, receber e administrar os dízimos como um imposto estatal, pagar pelo tesouro real as côngruas e benefícios do baixo e alto clero e nomear os padres e os bispos. | ||
A Igreja Portuguesa passou a estar sob domínio total dos reis lusitanos. | ||
Para Cândido Mendes de Almeida, cujo livro Direito Civil Eclesiástico Brasileiro… é a principal obra sobre essa história escrita no Império do Brasil, assim se expressa sobre o Padroado: | ||
“A Igreja fundou o Padroado no interesse do seu serviço e sem prejuízo de sua liberdade. Encheu de privilégios e de graças aqueles a quem honrava com o título de Padroeiros, não julgando que seus advogados e paladinos se quisessem constituir não só seus dominadores, como perseguidores, muitas vezes impondo-se tais encargos como regalias por despeito de sua vontade e protestos . Mas o propósito era, e sempre tem sido, arrancar à Igreja sua liberdade, para modelá-la em instrumento de governo e de domínio, seguindo-se assim o grande pensamento do Cesarismo”. | ||
Continua… | ||
Por Pedro Henrique Medeiros, Doutor em História. |