Memórias de Uma Gueixa
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Memórias de Uma Gueixa

Kyoto, 1920.

Mati Castro
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Kyoto, 1920.

A pequena Chiyo olha a rua de seu okiya, com apenas 9 anos, foi vendida por seus pais para uma casa de gueixas, afim de aprender a arte da sedução das mulheres japonesas, Chiyo ainda não tinha conhecimento do que era ser exatamente uma gueixa, mas confiava nas palavras de sua Mameha, responsável por sua formação e uma das mais conceituadas gueixas do Japão, que dizia que “Ser gueixa é ser apreciada como uma obra de arte viva”.

Mas mesmo assim, ela sentia que esse não era seu destino, ainda apenas uma aprendiz, ela toma conta do Okiya limpando e fazendo todas as atividades domésticas, até ter idade suficiente para iniciar seus estudos em artes, história milenar japonesa, poesia e claro, sedução. Em sua adolescência, muitas vezes se sentindo com uma existência vazia e sem propósitos, é tomada por excitação e surpresa quando pela primeira vez, desde que estava na casa de gueixas, é tratada com respeito e carinho por um homem que mudaria totalmente seus pensamentos, e seria o responsável por ligar Chiyo com um mundo de sonhos e um desejo proibido em seu mundo: o amor.

Agora com 18 anos, e mudando o seu nome para Sayuri, a pequena Chiyo tem a sua grande apresentação para todos da cidade de Kyoto, mostrando que está pronta para essa vida e espera conseguir um bom lance por seu mizuage, ou virgindade. É vendida por um lance muito alto para um médico japonês, mas se dependesse dela, nunca venderia algo considerado tão sagrado, afinal, certas coisas nenhum dinheiro do mundo pode comprar. Em todo esse tempo que Sayuri passou em Kyoto, entre rivais e dificuldades, nunca deixou de amar um único homem, o presidente de uma das maiores empresas do Japão, o mesmo homem que a tinha ajudado quando ela era ainda uma menina.

1944

“Um ano sem notícias, exceto de mortes, derrotas, humilhação. Boatos de cidades sumindo em nuvens de fumaça. Aí mais um ano… e depois outro… até que a vida antiga vira um sonho.Algum dia, eu fui uma gueixa? Algum dia, eu dancei com um leque? Quem empunharia um leque agora ou pintaria os lábios? E então mais um ano. Nada.” Sayuri sobre a 2° guerra mundial.

O coração morre lentamente, perdendo as esperanças, como folhas. Ela se pinta para esconder o rosto. Seus olhos são águas profundas. A gueixa é uma artista de um mundo esquecido. Ela dança, ela canta, ela o entretém. Como você quiser. O resto é escuridão. O resto é segredo.Anos se passaram, Sayuri não é mais uma gueixa, agora é apenas mais uma dentre tantas sobreviventes da guerra, vivendo um dia de cada vez, pensando se algum dia vai poder ter alguma chance de ter a vida que sonhava, que tinha sido destinada a ela?

Ela mora em uma pequena comunidade pesqueira nos arredores de Osaka, apenas sobrevivendo, com memórias levadas pelo vento, esperando seu país se levantar novamente, mas mesmo assim, o mundo que ela conhecia tinha sido levado por bombas, mortes e tragédias. Até que recebe uma visita de um dos homens do Presidente, dizendo que precisava de sua ajuda, precisaria dela e de mais 2 gueixas para entreter empreendedores americanos dispostos a investir na empresa do Presidente, e consequentemente, no Japão.Sayuri tinha muitas dúvidas, não conhecia mais aquela existência passada, tudo baseado em sombras e ilusões, não sabia se tinha o que era necessário para ajudar, mas por outro lado, não podia desperdiçar essa oportunidade de ver seu tão amado Presidente.

Depois de anos, ela teria talvez uma última oportunidade para deixar de ser uma marionete de seu mundo para ao menos uma vez, dizer o que verdadeiramente estava em seu coração. Depois de todas as festividades com os americanos, e com seu papel concluído, ela se afasta novamente, e volta a Osaka, mas desta vez ela não está sozinha, percebe que tem a oportunidade de ficar a sós com o Presidente, e é em frente ao lago Kasumigaura, ela diz o que guardou durante todos esses anos em silêncio.

“Você não percebe? Todos os passos que eu dei, desde que era aquela menina na ponte, foram para me aproximar de você.”Depois de anos ela o reencontra, descobrindo que seu amor é recíproco, a pequena Chiyo fecha os olhos e eterniza na lembrança todos os seus sonhos se concretizando.

Você não pode pedir ao sol, mais sol, ou a chuva, menos chuva. Para os homens, as gueixas são apenas meias esposas. Somos as esposas da noite, mesmo assim, conheci a bondade, depois de tanta ingratidão, ver que uma menina mais corajosa do que ela imaginava, teria suas preces atendidas, isso não é o que chamamos de felicidade?.Afinal, estas não são as memórias de uma imperatriz, nem de uma rainha, estas são as memórias de uma outra linhagem.